sábado, 22 de agosto de 2015

Doutor Juiz, vou ser humorista também. Ou melhor, desisti

gentilijuiz
http://tijolaco.com.br/ POR 

Como humorista não é profissão regulamentada e graça é um sentimento subjetivo – uns acham, outros não acham – resolvi me proteger dos processos judiciais que chovem sobre os blogueiros, de agora em diante, declarando-me humorista.
Não riam.
Perdão, quero dizer: riam, porque agora sou humorista.
A decisão me veio depois do despacho do Juiz Carlos Eduardo Lora Franco recusando ao Instituto Lula a possibilidade de discutir na Justiça se havia ofensa cabível de punição no fato de Danilo Gentili ter dito, no seu Twitter, que alcança milhões de pessoas – e que foi reproduzido no noticiário – que o atentado teria sido falso, produzido pelo próprio ex-presidente e que teria sido “uma pena” ele não estar no lugar da explosão.
Diz o Dr. Lora que é “mais que óbvio que aquela frase nada mais é do que uma evidente piada.”
Claro que era, e péssima. E ofensiva.
Como péssima foi a do “colega de humorismo” de Gentili, Rafinha Bastos, dizendo que “comeria Wanessa Camargo e seu bebê”, até pela impossibilidade fática (e fétida) do cidadão indigitado em fazê-lo.
Rafinha, como se sabe, teve de pagar R$150 mil  à cantora, em sentença confirmada em todas as instâncias.
Parece que outros juízes não acham que humorista é inimputável e que piada seja é excludente de punibilidade.
Agora, então, pode-se fazer o que se quiser, bastando que se diga que era piada.
O crime de calúnia, no caso de Gentili, resta completamente configurado: houve a intenção dolosa, imputou-se fato criminoso (produzir um atentado) e, evidentemente, é falsa a imputação.
Além do mais,  se o Juiz, em seu despacho, se tem razão ao negar legitimidade a um ente jurídico (o Instituto Lula) em proceder em crime contra a honra, nenhuma razão tem em exceder-se em considerações esdrúxulas que inviabilizam, até, o direito de cidadão de Lula de pedir reparação moral do que lhe foi atribuído.
Sobretudo, é infeliz ao dizer que o Brasil tem um “histórico de tantos “aloprados” de direita e esquerda forjando fatos para prejudicar grupos opostos, no qual inclusive já houve um caso de ataque a bomba feito por um grupo para incriminar outro (caso Rio Centro), trazer à tona tal possibilidade e discussão é algo até saudável historicamente”.
Só pode, isso, ser piada e este neohumorista aqui se penitenciará se, com seu conhecimento histórico, Sua Excelência puder citar algum atentado feito pela esquerda para pôr a culpa na direita. Se foram feitos atentados na resistência armada à ditadura, desconheço algum que tenha sido praticado  com este cinismo.
Para o Juiz, “a única retaliação que deve ser feita à piada (e que é a mais agressiva ao comediante), é justamente dizer que simplesmente não teve graça alguma”.
Não tem para o senhor, doutor, mas tem para uma multidão de agressores mentais e verbais e até para os agressores reais que detonaram aquele artefato, ao ver que absolvê-los e lançar a culpa sobre a vítima é algo tido como apenas “sem graça”.
Não tenho a menor dúvida de que o Juiz Lora deve apreciar humoristas, e os bons.
E com razão: há Chaplin, há Buster Keaton, Oscarito, Jô Soares (aquela pichação “Morra Jô Soares” era piada?), Chico Anysio,  tantos, tantos.
Mas se gosta deles, doutor, por favor não inclua Gentili na mesma categoria: logo a um grosseirão que responde à interpelação judicial com uma foto onde segura a genitália e posando com “modelos” e  tomando champanhe.
Aliás, por isso, renuncio – mesmo com todas as vantagens legais que me adviriam daí – à ideia de declarar-me humorista.
É que lembrei da tirada de um deles, de verdade, o Groucho Marx, e declaro que não entro em clube que aceita Danilo Gentili como sócio.

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