segunda-feira, 16 de setembro de 2013

O discurso de Lula

por Lincoln Secco, especial para o Viomundo

O PT  paulista realizou a 14 de setembro de 2013 seu encontro da grande São Paulo na quadra dos bancários. Lula fez ali um discurso memorável. Além de uma homenagem a Luiz Gushiken e a Carlão, dois dirigentes petistas recém-falecidos e um elogio ao seu candidato ao governo de São Paulo, o Ministro Padilha, Lula fez referências nominais a Antonio Palocci e José Dirceu como aqueles que comandaram sua vitoriosa campanha de 2002. Nenhum outro orador citou-os.
Também chamou a atenção a avaliação de Lula sobre os protestos de junho. Nenhum outro orador falou daquele tema! Lula disse que não lhe interessava se quem havia ido às ruas gostava ou não do PT, mas que se tratava de uma manifestação do povo brasileiro. Junho nos deu uma lição, disse Lula, é que o PT podia ter “puxado” aquelas manifestações. Não para questionar seus governos, evidentemente, mas para dizer que depois de ter melhorado a renda das pessoas ele se comprometia com saúde, educação e transporte de qualidade.
Lula foi enfático: o PT não foi criado para ser um mero partido eleitoral, mas “para organizar o povo brasileiro em sua luta por melhores condições de vida”. Conclamou a militância a ir para as ruas sem vergonha nenhuma e a usar a camisa vermelha do partido.

Lula hoje tem menos amarras para falar o que pensa. Mesmo assim espanta que entre os que estavam à mesa, todos os discursos foram anódinos, menos o de Lula. O que explica isso?
Talvez o fato de que dificilmente Lula tenha hoje possibilidade de mobilizar o PT para reais “embates de rua”. Havia ali talvez dois mil delegados e simpatizantes do partido, mas praticamente não se via nenhum jovem. A militância profissionalizada ali presente era de fato petista em sua maioria, mas refletia muito mais o discurso oco e moderado do presidente do PT e do prefeito de São Paulo do que as reminiscências ligeiramente “radicais” de Lula.
Há uma contradição em movimento: com todos os seus defeitos o PT é o único partido que existe no Brasil. Mas é cada vez mais avesso a mudanças. Justificado pela ideologia do lulismo, a velha militância parece acomodada à política governista. Ao mesmo tempo, o IV Congresso do PT aprovou medidas inovadoras: paridade de gênero, cotas para negros, indígenas e jovens em sua direção e uma medida que dificilmente será aplicada, a rotatividade nos cargos legislativos.
Talvez o discurso de Lula mostre que o problema é menos de conteúdo ideológico do que da forma de reprodução da militância.
O PT tentou moralizar as filiações em massa exigindo dos novos filiados participação em plenárias de qualificação. A ideia foi logo abandonada. Em 23 de agosto, uma semana antes de expirar o limite, o total de aptos a votar no Processo de Eleição Direta (PED) era inferior a 185 mil militantes e pouco depois era cerca de 800 mil. Um PED mais sério dificilmente mudaria o fato de que Rui Falcão será vitorioso já que as chapas à sua direita ou à sua esquerda não têm uma ampla base social, mas talvez produzisse uma maioria menos folgada no Diretório Nacional.
O que o discurso de Lula revela é que talvez ele seja o que melhor no PT entendeu os protestos de junho. Os ideólogos do lulismo continuam acreditando numa política que se exaure lentamente, junto com  velha militância. Dificilmente Lula fará qualquer giro a esquerda, mas em alguns momentos ele parece ser o único que se dissocia do próprio lulismo.

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