Em passagem pelo Brasil, Lawrence
Lessig, professor de Harvard e pré-candidato democrata à presidência dos EUA,
comenta dilemas dos direitos autorais
Opera Mundi // www.cartamaior.com.br
Criada pelo advogado e professor
de Harvard Lawrence Lessig em 2001, a organização sem fins lucrativos Creative
Commons deu origem à licença de mesmo nome, revolucionando conceitos
relacionados ao direito autoral e à propriedade intelectual. Ao permitir que o
próprio produtor ou artista emita sua licença de forma mais aberta, facilitou o
compartilhamento e a recriação a partir da obra original.
Em passagem pelo Brasil, Lessig
participou do encontro Emergências, promovido pelo Ministério da Cultura e
movimentos sociais no Rio de Janeiro. Ele falou para um público de ativistas e
mobilizadores culturais e também conversou com Opera Mundi sobre direitos
autorais, corrupção da democracia e sobre sua pré-candidatura à presidência dos
Estados Unidos pelo Partido Democrata.
O acadêmico norte-americano
considera que o debate sobre os direitos autorais que vem dos anos 1990 é
simplista. “O que temos que reconhecer agora é que não é questão de ser a favor
ou contra o copyright, e sim que tipo de direito autoral faz sentido num mundo
digital. Exigir que as pessoas tenham permissão para usar e reusar qualquer
tipo de cultura é loucura, é sem sentido num mundo digital”, afirmou.
Ele defende o direito do artista
ganhar dinheiro com sua obra e criatividade, de forma que possa ser
independente de patrões. Porém, lembra também que existe um arquivo histórico
de produção cultural no mundo que precisa ser acessível e livremente
compartilhável. “Precisamos de um sistema de direitos autorais que entenda
essas diferenças e permita que o artista ganhe o que necessita ao mesmo tempo
em que seja fácil o compartilhamento deste passado cultural”.
Lessig critica a complexidade da
atual legislação, afirmando ser necessário que cada criador tenha um advogado
sentado ao lado para que compreendê-la e cumpri-la. Ele acredita ser
imprescindível uma lei mais simples e fácil para os cidadãos, de modo que possa
ser realmente cumprida, já que hoje qualquer pessoa com um computador ou
smartphone pode ser um criador.
O pré-candidato democrata
enfatiza que a luta histórica do copyright tem sido sempre da indústria
cooptando os artistas, mas para proteger elas mesmas, e não os artistas.
“Direitos autorais são para o artista, não para a indústria. As pessoas têm que
reconhecer que precisamos de um regime que proteja os artistas. Talvez não
sejam multimilionários como Britney Spears, por exemplo, pois esse não é o
modelo de artistas do século 21, mas eles podem ser independentes em relação a
seu processo de criação e às suas finanças, e esse deve ser o foco”.
Ele alerta, porém, para a força
do lobby das grandes empresas dentro dos governos, financiando campanhas e
pressionando políticos para transformar as leis para proteger as indústrias em
vez dos artistas. “Estas grandes empresas querem fazer parecer que se você se
opõe às indústrias se opõe aos direitos autorais, mas isso é um equívoco. Você
pode se opor à indústria e apoiar os direitos autorais, porque se considera que
o direito autoral é para o artista então você pode apoiá-lo para fazer com que
seja mais fácil para o artista ser criador, mesmo se a indústria não for mais
tão rica como no século 20”.
Lawrence Lessig considera que os
lobbies são só uma parte de um sistema corrompido, no qual “o interesse privado
basicamente compra a política pública que ele quer porque os membros do
Congresso são dependentes do dinheiro privado para financiar suas campanhas”.
Questionar e promover o debate
sobre o que chama de “influência corruptora do dinheiro” foi uma das razões
para lançar sua pré-candidatura à presidência pelo Partido Democrata. Embora
outros candidatos estejam levantando o tema da corrupção, ele considera que o
fazem apenas como uma forma de fazer “crescer a raiva do povo”, o que pode ser
favorável para o momento eleitoral, porém sem apontar possíveis soluções.
“Estamos lutando nos Estados Unidos por uma democracia menos dependente do
grande capital, que possa ser mais responsável para com os cidadãos comuns”.
Sua aposta por influenciar o
debate tem uma perspectiva de longo prazo. “Eu não vou ganhar as eleições, mas
a ideia que eu e várias pessoas estamos impulsionando para reavivar a
democracia vai ganhar o mundo”, diz, acreditando que a frustração das pessoas
com a política é um sentimento crescente. “A questão é como vamos encontrar uma
maneira de nos expressar de modo construtivo.”
Créditos da foto: Emergências
Nenhum comentário:
Postar um comentário
12