Filósofo e professor de Ética da Unicamp, Roberto Romano acredita que o governo do presidente em exercício Michel Temer terá dificuldades para chegar ao fim de 2018, caso o afastamento de Dilma Rousseff se confirme pelo Senado Federal.
Grasielle Castro // http://www.brasilpost.com.br/
Após a queda do primeiro ministro do governo Temer, Romano vê uma crise eclodir com a exposição de erros táticos na nomeação do ministério que “são fatais”.
Para o professor, a falta de experiência política de Temer no Executivo tem aumentado as dificuldades de um governo já “fragilizado”.
"Temer nunca foi um líder político nacional, ele sempre foi muito apagado, ele não tem o carisma dos antigos líderes políticos, nem do Ulysses Guimarães nem do Mário Covas. Nunca teve nenhuma experiência no Executivo. Ele não conhece as armadilhas do cotidiano do poder Executivo com o Legislativo no Brasil. Ele conhece o outro lado, mas não conhece o lado do Executivo e isso ajudou muito ele a nomear este ministério heteróclito e muitas vezes sem competência na área.”
Romano, por outro lado, acredita que a ideia de novas eleições pode ganhar corpo "assim como a de uma nova assembleia nacional constituinte".
Leia a íntegra da entrevista:
HuffPost Brasil: Qual impacto da queda do primeiro ministro do governo Temer?
Roberto Romano: Se o Temer começa a ceder cada vez mais para determinadas alas do PMDB e do centrão, o destino do seu governo será inglório porque ele não vai conseguir nada inclusive em termos de modificação da política econômica. É um governo que está assumindo. A diferença do governo do presidente Itamar Franco era que ele, quando chegou a presidência, estava fora do PMDB e não tinha compromissos internos com o PMDB, o que não aconteceu com o Michel Temer. Ele é de dentro do PMDB, depende dos beneplácitos dos líderes do partido, líderes que estão quase todos implicados em investigação policial ou do Ministério Público. Esse é um ponto muito frágil da política do Michel Temer e do seu governo. Ele vai ter a pressão do tempo, que já é uma coisa muito grave. Ele vai ter até 2018 para mostrar ao que veio, numa situação de crise econômica, crise social e crise política.
E os problemas diários?
Agora se além disso, ele tiver que resolver a cada dia um problema. Ele já teve que ficar desmentindo ministros. O da Justiça disse que ele não nomearia o primeiro indicado do Ministério Público. Depois teve o Minha Casa Minha Vida, uma série de declarações dos ministros que mostram que eles têm a ilusão de serem autônomos em relação ao presidente, mostra que ele tem uma autoridade já fragilizada e agora com o afastamento do Romero Jucá o eixo central do que ele poderia fazer, que era no plano econômico. O central era Jucá no Planejamento, Henrique Meirelles na Fazenda e Serra nas Relações Exteriores. Então se eixo já é quebrado logo de início e a questão é conquistar a confiança dos empresários, dos trabalhadores e investidores estrangeiros, já começa mal.
Como fica a governabilidade?
Eu acho que a solução Temer vai passar por uma situação muito grave de governabilidade porque, além disso, o Partido dos Trabalhadores e a presidente Dilma vão continuar bombardeando na oposição e muitas vezes vão com base muito factual, como neste caso, fica muito esquisito dizer que ele veio para acabar com a irresponsabilidade fiscal da presidente. Se você tem um ministro nestas condições e que é ministro do Planejamento… Se fosse do Turismo, ainda seria uma coisa de menor relevância, mas ele é do núcleo central do plano de recuperação que o Temer propõe.
Falta experiência?
Mas o Temer nunca foi um líder político nacional, ele sempre foi muito apagado, ele não tem o carisma dos antigos líderes políticos, nem do Ulysses Guimarães nem do Mário Covas. Ele é um professor de direito constitucional muito respeitado, mas é uma acadêmico. Ele nunca teve nenhuma experiência no Executivo, nunca foi governador, prefeito nem nada, sempre foi do Legislativo, da cátedra ele já foi pro Legislativo, portanto, ele não conhece as armadilhas do cotidiano do poder Executivo com o Legislativo no Brasil. Ele conhece o outro lado, mas ele não conhece o lado do Executivo e isso ajudou muito ele a nomear este ministério heteróclito e muitas vezes sem competência na área, como a Ciência e Tecnologia. Ele tem demonstrado certos erros táticos na nomeação dos ministérios que são fatais. A situação é muito complicada.
Isto pode fazer com que o presidente em exercício não chegue a 2018?
Quando me perguntavam sobre a possibilidade de impeachment da Dilma Rousseff, eu dizia que não tomo café da manhã com a santíssima trindade. Você tem pelo menos três crises, a econômica, a institucional e a social. Então, a todo momento há rebeliões em presídios, movimentação dos sem teto, dos sem terra, movimentação cotidiana no plano da sociedade, que, em parte, é originária da decisão do Partidos dos Trabalhadores que tendo chegado ao governo, de certo modo, cortou os laços com os movimentos sociais. Esses movimentos desenvolveram estratégias próprias que não correspondem a quem está no governo ou é do partido dominante e fica imprevisível. Não tem um pacto social no Brasil.
Em que implica esse pacto?
Não ter um pacto social também significa não ter um pacto político. Essas maiorias criadas no Congresso Nacional são maiorias ocasionais, são ligadas muitas vezes a interesses mais ligados a recursos para região, cargos. Não tem nenhum pacto político fundamentado em programas para o estado brasileiro e a sociedade. Isso é muito flexível, de uma leveza enorme.
Pode fazer com que o discurso por novas eleições seja retomado?
É uma ideia que está tomando conta cada vez mais, assim como a de uma nova assembleia nacional constituinte. Há um problema sério que é causado primeiro pela Constituição. A Carta Magna brasileira não é mais aquela que foi promulgada em 1988, são muitas emendas que fazem com que exista praticamente um outro texto constitucional e isso abre brecha para essa guerra e judicialização, que hoje é exarcebada. Por outro lado essa ambiguidade do texto constitucional possibilita a intervenção da Justiça, sobretudo do Supremo Tribunal Federal. Isso já acontece há um bom tempo. Há tempos atrás existia a cláusula de barreira e esses partidos pequenos que são fisiológicos, sem programa, eles estariam cortados, o que diminuiria muito a necessidade de compra e venda de votos no Congresso. Mas o STF proibiu a cláusula de barreira e avalizou a proliferação de partidos. Não tem partidos propriamente ditos.
Mas tem a dificuldade de que quem faz a reforma é quem é beneficiado pelo sistema atual...
Para mudar isso, é preciso de um movimento semelhante ao que aconteceu com a Lei da Improbidade Administrativa e da Ficha Limpa. É preciso uma conjugação do Ministério Público, da imprensa e da cidadania. No caso da Ficha Limpa, foram 1,2 milhão de pessoas e os deputados tentaram ao máximo atenuar a lei, ainda assim tem dado frutos positivos.
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