quinta-feira, 23 de março de 2017

O milagre está fora das igrejas

O milagre está fora das igrejas

Por Padre Beto
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A principio o milagre é um fato que foge às leis naturais. Isso mesmo, um fenômeno que ainda não pode ser explicado pela ciência e pelas leis naturais conhecidas pelo ser humano. Na Idade Media, um eclipse era visto como um milagre, pois não se tinha conhecimento do movimento dos astros como temos hoje. E, com certeza, existem, hoje, muitos fatos inexplicáveis que chamamos de milagres que, possivelmente, no futuro terão explicações racionais, pois ainda não conhecemos toda a nossa natureza.

De qualquer forma, um milagre é um fato inexplicável atribuído a Deus. Mas, neste sentido, é preciso ser mais perspicaz e inteligente. Quando falamos em milagres sempre nos referimos a algo que possui “efeitos especiais”, como nos filmes de terror ou ficção científica. Porém, o extraordinário, o milagroso, a presença de Deus se faz de uma forma muito mais cotidiana do que a imaginação humana deseja.

Isso mesmo, o milagre é um fenômeno que foge da racionalidade e nos surpreende pela mudança positiva dos planos humanos e dos rumos que a vida parece ter. De qualquer forma, não podemos acreditar que Deus faça milagres nas igrejas através de missas ou e cultos. Se fosse assim Deus seria conivente com a exploração econômica sobre fieis, conivente com a alienação que as igrejas exercem sobre as pessoas e conivente com a vida de conforto e luxo dos líderes religiosos. Não, me recuso a acreditar em um Deus que apoia estruturas com padre e pastores que comem filé mignon enquanto trabalhadores são induzidos a depositar boa parte de seu salário como dizimo.
O milagre acontece naquelas circunstâncias em que, sem combinar, há uma sincronia de desejos. Sem planejar as pessoas atuam, por exemplo, para atingir um bem comum


O milagre está fora das igrejas, ele acontece na vida. O milagre acontece naquelas circunstâncias em que, sem combinar, há uma sincronia de desejos. Sem planejar as pessoas atuam, por exemplo, para atingir um bem comum. Neste caso, o próprio ser humano é o instrumento do milagre. Tanto a experiência que temos como a nossa intuição nos leva a acreditar que o milagre acontece quando corações sinceros e transparentes movem ações humanas para o bem. O milagre neste sentido pode fazer com que outras pessoas que estavam contribuindo para o mal venham a se surpreender e a repensar sobre suas intenções.

É claro que existem os teimosos e ignorantes que não aceitam o acontecimento do milagre na ação humana, a interação de Deus conosco. Estes teimosos sempre arrumam desculpas para continuar a insistir com o mal e com suas artimanhas para alcançar seus objetivos. Para entendermos melhor, o milagre é aquele fenômeno positivo que chamamos de coincidência. Nada é por acaso em nossa vida e existem situações que a razão humana não consegue explicar e que podemos depositá-las nas mãos de Deus. Mas, o milagre não é um fenômeno que acontece para o fato em si, mas como sinal para mostrar geralmente outras coisas. O milagre acontece sempre como um sinal para que sejamos melhores, para que a solidariedade volte a existir, para que o ser humano volte as suas ações para o bem comum, etc. O milagre é como um alerta de Deus, indicando o caminho que devemos seguir para a felicidade de todos.

Porém, se o milagre é um fenômeno que foge de nosso controle e nos surpreende positivamente, ele necessita também de pessoas que saibam reconhecê-lo. O ser humano, muitas vezes, se torna cego diante dos milagres que acontecem no cotidiano e acaba não percebendo o diálogo que Deus deseja manter conosco. Estar aberto para o novo, para o não planejado, para o que não poderia acontecer é estar aberto para perceber os milagres de Deus presentes em nossa vida.

Roberto Francisco Daniel, Padre, Escritor, Cronista, Filósofo. Padre Beto é formado em direito pela Instituição Toledo de Ensino (ITE), em história pela Universidade do Sagrado Coração (USC) e em teologia pela Ludwig-Maximillian, de Munique (Alemanha).

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