quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Tribunal Europeu afirma importância do sexo para idosos

O tribunal da U.E. restabeleceu um princípio do respeito à dignidade humana que é fundamental em qualquer idade

     Flavio Aguiar
     http://www.cartamaior.com.br/

Tudo começou quando Maria Morais, uma cidadã portuguesa, teve de se submeter a uma cirurgia em seus órgãos genitais. Isto aconteceu em 1995. Por alguma razão, o resultado não foi bom para ela. Queixou-se de que a cirurgia defeituosa deixara-a num estado em que não tinha a possibilidade de ter um desempenho sexual satisfatório. Exigiu uma indenização, processando o hospital.

Em primeira instância, ganhou. Mas o hospital recorreu. E em 2013 - 18 anos depois do episódio original - o Tribunal de Recursos reduziu em um terço a indenização pedida. Justificativa dos três juízes: a reclamante era quinquagenária (não ficou esclarecido se na época da cirurgia ou depois), e “depois dos 50 anos a prática do sexo não é tão importante”. Diga-se de passagem que os três juízes, dois homens e uma mulher, tinham mais de 50 anos.

Não satisfeita, Maria Morais recorreu ao Tribunal Europeu de Direitos Humanos, que tem sede na França. E agora, em 2017, a Corte da União Europeia bateu o martelo: sexo depois dos cinquenta é importante sim. Condenou o tribunal português por prática discriminatória contra idosos, restabeleceu o valor original da indenização pedida e acresceu-lhe os custos advocatícios e jurídicos. Total, quase 6 mil euros, no câmbio turismo, equivalente a quase 24 mil reais.

O valor pode parecer pequeno. O princípio não o é. O tribunal da U. E. restabeleceu um princípio do respeito à dignidade humana que é fundamental em qualquer idade. Ainda mais que está comprovada - e o episódio desencadeou, duas semanas atrás, uma torrente de análises neste sentido - a importância da prática sexual por idosos para a própria saúde corporal e mental.

Em primeiro lugar, há a questão do prazer, fundamental em qualquer idade, desde que obtido por mútuo consentimento, é claro.

Mas há mais. Durante a prática de atividade sexual - de qualquer tipo, em todos os sentidos, masturbação, cópula, amasso, etc, - o corpo libera um agente neurotransmissor chamado dopamina. E recentes pesquisas demonstram que a dopamina exerce influência benéfica no cérebro sobre o armazenamento da memória. Ou seja, ajuda a combater males como Alzheimer, Parkinson, esclerose, etc.

E mais ainda. Depois da prática sexual, derrama-se no corpo humano outro neuro-transmissor, a serotonina, em quantidades apreciáveis. A serotonina é responsável pela comunicação entre as ramificações das células nervosas, que não se tocam entre si. Sua falta acarreta transformações negativas do humor, podendo causar depressão. É chamada, algo impropriamente, de “hormônio do prazer”, devido à sensação que se segue á prática do sexo.

Em altas latitudes, como aqui em Berlim, o escurecimento do dia hibernal causa falta de vitamina D, que é fundamental para sintetizar a serotonina. Anualmente, na Alemanha, registram-se 800 mil casos de depressão causados pela falta de insolação, de vitamina D, e consequentemente, de serotonina. Suspeita-se que, por falta de informação, outras 800 mil pessoas não registrem seus casos junto ao sistema de saúde.

Não se confunda isto com alguma melancolia poética hibernal, ou pela perda de algum ente querido, por exemplo. A depressão clínica é um quadro grave que, pela inanição, pode levar até à morte. É isto que a prática do sexo ajuda a combater. Ainda mais em se tratando de idosos, que têm mais dificuldade de locomoção e, portanto, de exibição à luz solar.

A decisão do Tribunal Europeu de Recursos Humanos não só fez justiça à reivindicação de Da. Maria Morais, como também ajudou a reafirmar o princípio de que tod@s - idos@s também - têm direito a uma vida saudável e cheia de prazer.

Em tempo: há alimentos que ajudam a produção de dopamina e serotonina, como o chocolate amargo, a castanha do Pará, a banana, o abacaxi, o tomate e também o vinho tinto, tomado com moderação.

Saúde e sexo para tod@s!

Créditos da foto: Sérgio Lemos

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