segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Uma Contribuição ao “Xadrez da Maçonaria no Brasil (parte 2)


Uma Contribuição ao “Xadrez da Maçonaria no Brasil (parte 2)
por Luiz Claudio de Assis Pereira

Ao iniciarmos esta segunda parte, vale reafirmar que a intenção deste artigo é contribuir com o debate iniciado pelo Jornal GGN em torno da atuação política da Maçonaria no Brasil.

Fica a sugestão para os que não tiveram a oportunidade de ler a parte 1 deste artigo, ou o “Xadrez da Maçonaria no Brasil”, de Luís Nassif, que o façam, de preferência antes desses.
Nesta parte 2, iremos detalhar como a Maçonaria atua dentro dos partidos políticos, dando como exemplo os casos da França e de Portugal. e mostraremos como a imprensa estrangeira trata a ingerência da Maçonaria na política interna de cada um desses países.

Que conservadora, que nada! A Maçonaria atua na direita, na esquerda, no centro ...Sendo uma instituição que possui inúmeros matizes, caracterizados não só pelos diversos ritos adotados, mas principalmente pelo livre pensar de seus integrantes, a Maçonaria enseja linhas de pensamento das mais diversas, tanto do ponto de vista religioso, quanto ideológico.

Mesmo assim, é possível reconhecer, pelo menos, duas grandes correntes ideológicas (uma mais conservadora e outra mais progressista), ainda que as mesmas possam ter uma atuação que, dentro do espectro político, varia conforme a necessidade de alcançar ou de se manter no poder. Na Maçonaria, a ideia de que “os fins justificam os meios” é levada muito a sério.

A mais conservadora é a corrente liderada pela Grande Loja Unida da Inglaterra. Essa corrente é, internacionalmente, reconhecida como sendo a Maçonaria Regular, simplesmente porque é a que segue fielmente os 12 Pontos de Regularidade que ela mesma definiu. Daí que, somente as “obediências maçônicas” que adotam estes 12 Pontos são reconhecidas como tal. É como obter um certificado ISO 9000, após uma rigorosa auditoria.

Essas também chamadas 12 Regras estabelecem, entre outras coisas, que somente pessoas do sexo masculino podem ser admitidas na Maçonaria Regular. Além disso, essas pessoas devem acreditar num Deus, cabendo a cada maçom a sua concepção do Criador, a religião que professa e a forma como o faz. Na Maçonaria Regular não se admite que haja, dentro do ambiente maçônico, qualquer discussão controversa sobre política e religião. Fora dele pode.

A estrutura da Maçonaria Regular é bastante hierarquizada, havendo inclusive Distritos Regionais que agrupam Obediências de diferentes países. O GOB – Grande Oriente do Brasil, fundado em junho de 1822 como a primeira obediência maçônica da América Latina, está ligado ao Distrito América do Sul Divisão Norte da Grande Loja Unida da Inglaterra.

No site, você pode acessar informações detalhadas sobre a estrutura e forma de atuação da Grande Loja Unida da Inglaterra. Lá você vai ver que além do Grande Oriente do Brasil, também são reconhecidas pela UGLE (sigla em inglês da Grande Loja Unida da Inglaterra), as obediências maçônicas dos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Espírito Santo e Mato Grosso do Sul.

Observação Importante: muitas outras obediências maçônicas estaduais, igualmente denominadas como Grande Oriente, se consideram Regulares, mas não são assim reconhecidas pela Grande Loja Unida da Inglaterra. Elas estão agrupadas na COMAB - Confederação Maçônica do Brasil. Além desta, uma outra grande organização maçônica brasileira é a CMSB - Confederação da Maçonaria Simbólica do Brasil, que reúne as Grandes Lojas de todos os Estados brasileiros.

Voltando ao GOB, vale destacar sua inserção na Maçonaria Internacional. Exemplo disso foi dado na reunião anual de 2014 do Distrito América do Sul Divisão Norte, na qual “a novidade desse ano foi à gravação de um vídeo sobre as atividades da maçonaria inglesa no Brasil”. 

Pois bem, o tal vídeo foi idealizado por um cidadão inglês de nome Colin V. Foster. Ele é o Grão-Mestre do Distrito América do Sul Divisão Norte, ou seja, é ele quem “chefia” o Distrito ao qual o GOB está subordinado. No mais, o Sr. Foster é tão somente o marido de Graça Foster, a mesma que, entre 2012 e 2015, foi presidente da Petrobras nos governos Dilma.

No site http://ugle.org.uk/about/whos-who, você vai ver que o “chefão” da UGLE é o Duque de Kent, Príncipe Edward George Nicholas Paul Patrick, primo da Rainha Elisabeth. Pergunta para reflexão: quem pode garantir que, diante da posição exercida pelo Sr. Colin Foster na Grande Loja Unida da Inglaterra, não esteja aí caracterizado um “conflito de interesses”?

A corrente ideológica progressista é denominada Maçonaria Liberal, ou Irregular, como preferem os membros da Grande Loja Unida da Inglaterra. O expoente desta linha é o GODF - Grande Oriente de França. Não confundir com a GLNF - Grande Loja Nacional Francesa, que, por ser ligada à Grande Loja Unida da Inglaterra, pertence à Maçonaria Regular.

A Maçonaria Liberal e Adogmática é assim chamada justamente por não estabelecer regras tão rígidas quanto as que a Maçonaria Regular estabelece, pois, diferentemente desta, a Maçonaria Liberal admite pessoas de ambos os sexos, bem como, ateus e agnósticos. Ela também não só permite, como incentiva, o debate político e defende a postura da maçonaria como organização civil, livre de dogmas. Aparentemente, não existe dentro da Maçonaria Liberal uma estrutura tão bem organizada e hierarquizada quanto a da Maçonaria Regular.

Por outro lado, em relação aos ritos, o de York é bastante difundido nos EUA (país que sozinho congrega mais da metade dos maçons do mundo inteiro); enquanto que o Rito Escocês Antigo e Aceito e o Francês Moderno (ou apenas Rito Moderno) são os que prevalecem no continente europeu. Os três juntos reúnem quase a totalidade dos obreiros.

Apesar de não ser o mais praticado o Rito Escocês Antigo e Aceito é o mais organizado, contando, em vários países, com um Supremo Conselho do Grau 33, onde só os membros de mais alto nível se reúnem. Na prática, é como se existisse uma maçonaria dentro da outra.

Vale a pena dar uma olhada no luxo da sede do Supremo Conselho do Grau 33 nos EUA, a “House of the Temple”. Tem até um museu dedicado a Albert Pike, um dos mais proeminentes da história. A brasileira também é bem estruturada. http://sc33.org.br/sede/

Dito isso, vamos, então, a dois exemplos de atuação da Maçonaria no exterior, pra depois voltarmos o foco para o Brasil. A intenção é mostrar que, tanto lá, quanto aqui, a Maçonaria está presente em (quase) todos os partidos políticos, seja de direita, esquerda ou centro.

Veja no link abaixo, quais as relações que os diversos candidatos à presidência da França em 2012 mantinham com a Maçonaria. Repare que todos os principais candidatos têm contato muito estreito com maçons politicamente bastante influentes. Alguns deles com contato nas duas grandes correntes ideológicas citadas (o GODF e a GLNF). Essa informação foi obtida junto a uma das melhores fontes sobre a (e da própria) Maçonaria: o “bibliot3ca.wordpress”. E veja como o vencedor das eleições de 2012, François Hollande, montou seu governo.

Ainda na França, um caso bastante interessante é o do candidato de extrema esquerda à presidência, Jean Luc Mélenchon, que foi o quarto mais votado nas eleições de 2012 com 11,1% e que, em 2017, chegou na mesma posição mas com um melhor resultado (19,6%).

No link a seguir, temos o vídeo de uma palestra que ele deu numa Loja Maçônica durante a campanha presidencial de 2012. No mesmo link, não deixem de ouvir, uma gravação de < 3 min. na qual ele procura dissimular sua condição de membro da Maçonaria.



Mas, vamos deixar a França, pois muitos podem achar que é uma realidade muito distante da nossa. E é, realmente. Proponho, então, nos compararmos a Portugal. Vejamos como a Maçonaria está infiltrada nos diversos partidos e como a ingerência da Maçonaria na política portuguesa é tratada pelos nossos amigos lusitanos. Para isso, sugiro “perder” não mais que 13 min. para ver uma reportagem feita pela RTP – Rádio e Televisão de Portugal, que, diga-se de passagem, é uma empresa estatal que concorre de igual pra igual com os canais privados. Olhem como o assunto é levado ao conhecimento do público português em horário nobre.

Tal como na França, em Portugal temos lá representadas as duas principais correntes ideológicas, sendo o GOL - Grande Oriente Lusitano, ligado à linha Liberal (progressista) e a GLRP ou GLLP - Grande Loja Legal de Portugal, ligada à Maçonaria Regular (conservadora).

Reparem que há disputa por influência política não só entre as duas grandes correntes ideológicas (GOL e GLLP), mas até mesmo entre Lojas que pertencem à mesma Obediência.
Destaco ainda duas coisas: o escândalo causado por um maçom, chefe do Serviço de Informações Estratégicas de Defesa, acusado de passar informações classificadas (sigilosas) e a definição dada por um dos entrevistados: “o problema da maçonaria é associar pessoas com interesses que funcionam em unidade nas instituições onde exercem a sua influência”.

Reparem também que um dos políticos maçons entrevistados, o ministro da Cultura de Portugal, João Soares, filho do falecido ex-presidente e ex-primeiro ministro Mário Soares, admite que a Maçonaria portuguesa é, politicamente, menos atuante do que as do Brasil, Estados Unidos e Inglaterra. Ele pode (e deve) estar falando isso pra disfarçar a forte presença da Maçonaria na política portuguesa, mas, ainda assim, é algo a ser investigado. Fica aí a sugestão para aqueles que atuam no chamado “jornalismo investigativo” no Brasil.

Vou pedir paciência aos que duvidam da influência política da Maçonaria no nosso país, pois o espaço acabou e vou ter que deixar para mostrar na parte 3 provas de que isso realmente acontece, mesmo sabendo que, ainda assim, muitos vão achar que são apenas indícios. Para esses, deixo a seguinte pergunta: por que aqui no Brasil seria diferente do que acontece em outros países, se os maçons sempre estiveram à frente dos principais fatos políticos de nossa história, desde antes da Independência? Teriam eles abdicado da sua atuação política?

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