Nonato Menezes - Muita gente torceu o nariz quando
Lula disse que “perdoa os golpistas”. Inclusive, gente que “combate” o ódio, a “divisão
ideológica” da sociedade. Acredito até, que muita “gente boa” sentiu forte
ânsia de vômito quando ouviu ou ficou sabendo.
E a discussão continua.
Cientistas políticos,
jornalistas, professores, entre outros, se manifestaram a respeito. As Redes Sociais
estão cheias de comentários. A maioria contra, evidentemente.
Mas “Lula é o Cara!”. Lula é um Mestre
da Política. Se bem levássemos em conta, aprenderíamos muito com esse genuíno
“animal político”. Salve Lula!
Lula, a meu ver, não joga para a
plateia, nem se presta a barganhar. Seu compromisso com o País o faz ir muito
além das intrigas, da culpabilidade e dos erros incorrigíveis.
Por isso, creio que Lula jogou e
está jogando com as seguintes alternativas, entre outras:
Primeiro. A expressão utilizada com a palavra “perdoa”.
Quem bem atenta para a formação
da nossa sociedade sabe que qualquer termo com conotação cristã se sobressai,
sobretudo, no discurso político. Por isso, além do sentido político dado à
mensagem, vale lembrar sua acepção antropológica e sociológica, quando há
entendimento social e o objetivo é atingir o interesse coletivo.
Neste momento a palavra “perdoar”
tem muito mais força política do que o termo “compor” ou “aliar-se”. Por outro
lado, não significa que quem perdoa, pretende aliar-se ou simplesmente esquece
os danos que sofreu.
Segundo. A oportunidade, o momento.
Uma “bandeira branca” agora é
tudo que precisamos. Num momento em que a sociedade está tomada de ódio,
envolvida com um discurso raivoso, vingativo; nada mais oportuno do que uma
mensagem de coragem, paz, de humildade e de integração.
Quando pessoas comuns e muitas
autoridades defendem o porrete, a punição indiscriminada, a delação, o “dente
por dente, olho por olho”; vem o Lula e diz: calma gente! Vamos corrigir os
rumos? “Eu perdoo vocês, golpistas”!
Uma expressão de significado
simples, à primeira vista, mas muito importante, porque foi dirigida, a meu
ver, mais aos que apoiaram o golpe, do que aos que deram o golpe.
Lula, e isso é um dos atributos
que o faz liderança, nunca defendeu a cizânia. Ao contrário, ele foi sempre
favorável ao diálogo. Tem sido com diálogo que ele vem propondo construir o que
muitos acham impossível.
Eis aí seu verdadeiro poder. O
que, para muitos é motivo de temor. Sua força reside na habilidade, capacidade
e coragem de dialogar. Lula tem sido capaz, inclusive, de demonstrar que não
têm inimigos, mas adversários. Mesmo aqueles que querem vê-lo morto ou preso
não são, por ele, considerados hostis ao ponto de dizer: “com vocês não tem
conversa”! Já, ao contrário, sem chance. Jamais veremos um João Dória, por exemplo,
ou Moro, entre outros, sequer insinuarem que gostariam de ‘ter uma conversa’
com o ex-presidente Lula. Pois a soberba, a falta de modéstia, de coragem e,
sobretudo, de capacidade e habilidade para o diálogo é o que reina nessa gente.
A tal ponto, de não contarem até dois, para agredirem, perseguirem e até, na
insegurança, proporem a morte de seus adversários políticos, ideológicos e de
classe, pura e simples.
Terceiro. A defesa do que é público e de interesse pessoal.
Em todos esses anos que Lula me
apareceu como pessoa pública, nunca o vi defendendo questões pessoais ou
paroquiais. Sempre o vi se manifestando em defesa dos interesses da sociedade
brasileira, do espaço público, do nosso País. E isso faz um diferencial enorme,
quando o que vemos, com exceções, claro, é o exercício da Política em proveito
próprio. Prática, aliás, bem conhecida da sociedade brasileira. Por isso,
dispensa maiores comentários.
Por fim, o “perdoar golpista” do Lula
não veio como demonstração de fraqueza, insegurança ou como pedido de clemência
aos que deram e aos que apoiaram o golpe. Ela surgiu como obra prima de quem, na
adversidade, encontra a mensagem que surpreende e inquieta, principalmente aos
que se consideram donos da palavra e conhecedores das verdades contextuais.
Salve Lula!
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