terça-feira, 5 de dezembro de 2017

O que pensa a direita?, por Sergio Saraiva

Alckmin


A opção da direita por Alckmin pode estar baseada muito mais em um desejo que na real possibilidade de vitória do candidato. Pode ser um suicídio eleitoral.
A ampliação da vantagem de Lula nas pesquisas de intenção de voto para as eleições presidenciais de 2018 e a consolidação do fenômeno Bolsonaro em segundo lugar isolado – ambos adversários do campo da direita – cobram um posicionamento dos grupos políticos que mantém o atual governo.

As análises encontrada, no entanto, na Folha de São Paulo de 04 de dezembro de 2017 parecem sofrer de uma deficiência analítica – trata os fatos buscando encontrar os desejos do analista em não os fato em si.
Somente assim é plausível considerar Lula como um extremista de esquerda polarizando com Bolsonaro no espectro oposto – a extrema direita. E tentar encaixar encaixar Alckmin como um moderado de centro.
“... o PSDB tenta emplacar Alckmin como o candidato das forças de centro, contrapondo-o aos extremos da esquerda e direita, personificados respectivamente em Lula e Bolsonaro”.
Apenas alguém em litígio com a realidade vê Lula como um radical. É justamente a sua capacidade de propor a conciliação a sua estratégia para chegar às eleições de 2018 como uma opção palatável pelo status quo atual. E essa estratégia de conciliação pode se tornar viável.
Outra demonstração de desejo. Com Bolsonaro e Lula consolidados no segundo turno, afirmar que:
“a pesquisa sinaliza espaço para um nome de centro-direita e um de centro-esquerda capazes de bagunçar essa polarização”.
Pode estar faltando candidato à centro-direita, porém, em relação a centro-esquerda esse espaço está ocupado por Lula. E será ocupado pelo candidato apoiado por Lula, na cada vez mais provável, situação de um impedimento judicial de Lula.
Ocorre que a própria interdição de Lula ainda depende de algumas circunstâncias:
  • o crescimento de Bolsonaro consolidando-se como provável ganhador na ausência de Lula pode levar o campo da direita a uma escolha de Sofia – ou Lula ou Bolsonaro.
  • a interdição de um candidato com 36% de intenção de votos, o dobro do segundo colocado, o maior líder popular desde Getúlio, não será sem consequências dentro e fora do país. Será impossível não associar isso a um golpe judicial. O que pode deslegitimar qualquer candidato que se eleja sem Lula. Sem legitimidade, a solução para a Brasil pode ser adiada para 2022. E isso deverá ser pesado pelos agentes políticos e econômicos. Já que não se deve esperar tal consideração por parte do Judiciário.
A opção por Alckmin de repente parece ser algo viável, porém, apenas nas páginas do jornal.
“O governador Geraldo Alckmin (PSDB) indica ter mais musculatura para ser o titular do primeiro perfil”. O candidato da centro-direita.
Onde o analista encontrou tal musculatura em Alckmin é coisa a ser esclarecida. Não foi na pesquisa do Datafolha. Nela, é necessário Lula ser impedido para que Alckmin apareça em quarto lugar, atrás de Ciro Gomes. Ou seja, com Lula ou sem Lula, Alckmin não participa do segundo turno.
Talvez venha do editorial que sonha com um 2018 de crescimento econômico improvável como o grande cabo eleitoral da direita.
“Parece provável que a recuperação da economia no próximo ano dê impulso a candidaturas de perfil mais moderado”.
Até porque, com os níveis de desemprego atual e com a “reforma trabalhista” que aponta para reduções significativas dos rendimentos dos trabalhadores, além de perda significativa de direitos, a questão não é o crescimento da economia, mas sim, que grupo social se apropriará dos ganhos desse crescimento.
Porém, essa parece ser uma não questão para o editorial que crê que o povo enxergue o mundo pela ótica dos empresários.
“... a incerteza sobre a economia –que tende a crescer se o desequilíbrio nas contas públicas não for corrigido– alimentará pressões para que os candidatos se afastem do caminho fácil da demagogia e ofereçam alternativas que inspirem confiança em empresários e consumidores”.
Imagino Alckmin em cima de um palanque bradando ao povo: “tudo que tenho a vos oferecer é sangue, suar e lágrimas”.

PS: Oficina de Concertos Gerais e Poesia: 2018 – desejo, necessidade e vontade.

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