segunda-feira, 8 de outubro de 2018

É um contrassenso músicos e artistas apoiarem Bolsonaro no 2º turno, por Augusto Diniz


É um contrassenso músicos e artistas apoiarem Bolsonaro no 2º turno

por Augusto Diniz

Uma leitura no plano de governo do candidato Jair Bolsonaro (PSL), que disputa o segundo turno da eleição presidencial com Fernando Haddad (PT), nota-se não haver nenhuma proposta específica voltada à cultura e as artes neste documento.

A única citação à cultura no plano de governo de Bolsonaro se refere a algo que já ocorre e é assunto polêmico no meio artístico cultural. No plano, o tema está alocado somente nas atribuições propostas ao Ministério das Relações Exteriores: “Países, que buscaram se aproximar mas foram preteridos por razões ideológicas, têm muito a oferecer ao Brasil, em termos de comércio, ciência, tecnologia, inovação, educação e cultura”.

Pelo que se conclui, é que um possível governo Bolsonaro pretende-se fomentar a aproximação com outras nações, que pode propiciar ao País, entre outros itens, cultura. Porém, sabe-se que uma das maiores críticas do meio cultural é a grande presença da manifestação artística de fora, principalmente nos meios de comunicação, em detrimento da brasileira.

O plano de governo de Bolsonaro está disponível nos anexos desse texto – na página 78 do “Plano Governo Bolsonaro” encontra-se o item citado acima. Relata-se ainda que o candidato defende o fim do Ministério da Cultura (transformando-o em secretaria) e tem críticas severas à Lei Rouanet – o meio artístico também as tens, mas pela necessidade de aperfeiçoamento para evitar distorções e desvios, e não pelo seu fim, como Bolsonaro propõe fazer.

Já no plano de governo de Fernando Haddad há um capítulo específico à cultura, onde se aponta preocupação com o abandono e criminalização do setor nos dois últimos anos; necessidade de um novo ciclo de políticas públicas por meio de maior participação no Ministério da Cultura; ampliação de fomento; ações específicas envolvendo agentes das culturas tradicionais, populares e regionais; aprofundamento da política de desenvolvimento audiovisual; mecanismos para remunerar artistas e criadores no ambiente digital e o diálogo da cultura com outros campos.

Em um determinado trecho do plano, cita-se: “Para efetivar esse direito, construiremos novos mecanismos de circulação dos bens culturais, enfrentando o monopólio das empresas que atuam no setor pela lógica estrita do mercado”. Para ler o item completo relacionado à cultura no programa de Fernando Haddad, se dirigir à página 33 do anexo “Plano Governo Haddad”.

Um leitor aqui pode questionar por que a cultura e as artes precisam do amparo do governo. Pois cita-se que políticas públicas nesse campo são também extensivas em países desenvolvidos. Há também de se entender que governos trabalham nesse campo como articulador socioeconômico, na maioria das vezes, e menos como um financiador. Menciona-se ainda que a grande maioria de músicos e artistas, de alguma forma, depende de políticas públicas para desenvolver seus projetos (principalmente para uso de seus equipamentos e iniciativas de fomento). 

Além disso, a indústria cultural – inclua-se também a indústria do entretenimento, já que são temas indivisíveis, embora exista conflitos de conceitos entre os estudiosos sobre ambos os assuntos - no Brasil é grande devido a sua diversidade, envolvendo um sem número de profissionais, gerando riqueza e desenvolvimento. Por fim, o incentivo à cultura e as artes é estratégico para melhoria da qualidade da educação no País.

Poderia se citar mais alguns pontos aqui da relevância da cultura e das artes dentro do âmbito do cinema, teatro, música, dança, circo, artes plásticas e qualquer outra manifestação artística (inclusive pelos meios de comunicação), mas seria muito extensivo. Talvez nesse momento o mais relevante a dizer é que é um contrassenso o meio artístico cultural apoiar Bolsonaro neste segundo turno que nada pretende ao setor, pelo menos a partir de seu plano de governo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário