sábado, 6 de outubro de 2018

Foi então que lembrei de Zezé Di Camargo


The Intercept Brasil

Na quinta-feira, eu mandei um áudio pro meu irmão pra ver como andavam as coisas. Ele mora no interior. No interior, não: na verdade, ele mora no interior do Brasil. [sim, é diferente morar no oeste do Brasil de morar no interior do Rio]

“Eu não sei o que fazer”, ele me disse. “Vai todo mundo de Bolsonaro, dos meus funcionários aos meus amigos empresários.” Meu irmão tem uma pequena empresa. O que mais lhe chamou atenção foi que seus amigos “estudados, inteligentes, intelectuais” também votariam no Bolsonaro.

Então lembrei de Zezé Di Camargo. 

Em 2002, Zezé fez campanha para Lula. Em 2014, para Aécio. Hoje, morre de amores por Bolsonaro. É o artista modelo do Jair: sertanejo, mulherengo (“Esse apartamento é pra comer gente”), rico (será que tem joias em um cofre?), “raiz”. Daqueles que merecem ser financiados pela Lei Rouanet. Zezé, de fato, já é: ele cavucou alguns milhões de reais da Rouanet durante sua carreira. Para Bolsonaro, a lei é um problema fundamental, menos para Zezé.

No ano passado, eu provoquei o João Brizzi, mestre dos designers aqui do site, com Zezé em mente: “O Brasil está mudando tão rápido quanto os humores de Zezé Di Camargo. Temos que ir pro Oeste”. Trabalhávamos juntos na revista piauí. Minha tese à época era que pela primeira vez na história do país o oeste geográfico colonizaria o litoral, culturalmente falando. E que isso significava a potencial eleição de Jair Bolsonaro. Vocês sabem: o agro é pop, armamentismo pra resolver na bala, os machões com seus carros tunados, e o sertanejo. Eu nasci e cresci lá, eu sei como é.

Acabou que o Brizzi e o câmera Ricardo Marques foram parar em Barretos porque Bolsonaro não tinha agenda no Centro Oeste na época, região onde liderava nas pesquisas (acima de Lula). O vídeo nunca foi ao ar. Era outubro de 2017. Bolsonaro estava consolidado nas pesquisas e os depoimentos colhidos – que hoje soam clichê – já mostravam o Brasil que teríamos dali pra frente. “Conheci o capitão quando vi alguém falando mal dele na internet”, nos disseram duas pessoas ouvidas em uma praça, fãs de Bolsonaro. “Vi ele na televisão, quando falaram mal dele”, disse outro eleitor. “Eu acho que ele é autêntico”, soltou um professor de História. “Ele fala o que precisa ser dito”, concluiu um cara mais velho que tinha tomado tapa na cara de milico durante a ditadura. As entrevistas eram ardidamente verdadeiras, mostravam toda a falência civilizacional do país. As pessoas estavam, de fato, em campanha por Bolsonaro.

Jair Bolsonaro é o maior fenômeno político popular desde Lula. Eu vou repetir para que não reste dúvida: Jair Bolsonaro é o maior fenômeno político popular desde o fim da ditadura. O bolsonarismo, hoje, só não é maior do que o petismo/lulismo. Aécio fez 51 milhões de votos e hoje tenta se escorar em um cargo de deputado federal para não perder o foro privilegiado. Marina fez 22 milhões de votos e, agora, é uma voz distante, um vexame eleitoral. Alckmin? Serra? Quem mais? Com Bolsonaro é diferente.

Mesmo que perca no fim de todo esse processo eleitoral (o que hoje parece bem difícil), ele já é grande demais para acharmos que seu balão será esvaziado em janeiro do próximo ano. Diziam, poucos meses atrás, que ele derreteria. Bolsonaro não derreteu e nem vai, porque a sociedade brasileira se viu no espelho diante de Jair. Teremos muitos anos de bolsonarismo pela frente. Eu também queria notícias melhores, mas não há. Bom voto.

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