sábado, 5 de janeiro de 2019

Lavanderia press

José Cruz/Agência Brasil


Por Leandro Fortes, do Jornalistas pela Democracia - É de uma ironia cruel o fato de que, iniciado circo fascista dos Bolsonaros, a turba de jornalistas que mentiu, manipulou, inventou, deturpou e, no limite, se omitiu antes e durante o golpe que derrubou Dilma Rousseff, em 2016, esteja sendo chamada, agora, de esquerdista.

Tudo bem que a designação, usada como adjetivo pejorativo, venha dessa tropa de débeis mentais que dá suporte digital às sandices do Bozo, mas, ainda assim, é uma injustiça que desanda para uma malandragem antiga: a lavagem de biografia.

Na última década, assistimos, não sem alguma estupefação, dezenas de jornalistas brasileiros se alinharem ao antipetismo primário e à manipulação rasteira de informações para achincalhar os governos do Partido dos Trabalhadores, demonizar ações da esquerda e, mais grave, criminalizar os movimentos sociais. A maioria se alistou nesse exército de bajuladores de patrões apenas por sabujismo, puro e simples, certos de que não teriam que se preocupar com o futuro.

Em todas as redações, o sinal verde para atacar e tripudiar o petismo gerou um fenômeno bifurcado: de um lado, jornalistas experientes aderiram à loucura antipetista de olho na sobrevivência e na possibilidade de ascensão, em meio à fulminante decadência do jornalismo impresso e analógico; e, de outro, o surgimento de uma nova geração de monstrinhos competitivos, lapidados nos cursinhos de trainee das velhas marcas de imprensa, adestrados para fazer, literalmente, qualquer coisa que seus chefes mandarem.

O resultado foi a consolidação de um subjornalismo, baseado numa visão unificada e burra da reportagem, ditado pelo baronato de mídia, voltado basicamente para uma classe média historicamente iletrada e apavorada, e para um lumpesinato urbano que começava a migrar para o WhatsApp – terreno fértil para a propagação de mentiras facilmente absorvidas pelas alminhas pequenas que inundam as redes sociais, na internet.

Ao anunciar uma mudança no eixo de alimentação de verbas para o SBT e a Record, desprezando o Grupo Globo, e ignorar completamente os jornalões remanescentes, Jair Bolsonaro forçou os patrões da velha mídia a liberar suas hordas para pressionar o novo governo, de modo a, como de costume, forçá-lo a se submeter a seus habituais caprichos. Mas era tarde demais.

Essa perda de timing, aliada à perda de credibilidade dos veículos de comunicação, ao longo dos últimos 15 anos, tornou ainda mais bizarra essa virada de opinião de certos jornalistas, nas redes sociais. O que antes era naturalizado sem nenhum pudor – o estado policial, as perseguições políticas, as prisões arbitrárias, as condenações sem prova, a corrupção dos amigos – passou a causar horror e indignação.

Gente que babava de ódio contra o PT, jornalistas subalternos que apoiaram o processo criminoso de impeachment contra Dilma para, em seguida, participarem daquela entrevista patética com Michel Temer, no Roda Viva, estão agora no Twitter e no Facebook fazendo textões contra o tratamento que a imprensa teve na posse do Bozo, como se não tivessem culpa direta por tudo que está acontecendo.

Eu, de minha parte, não vou deixar essas madalenas caírem no esquecimento, impunemente.

Leandro Fortes

Nenhum comentário:

Postar um comentário