Leitura das letras do compositor mostra aproximação surpreendente com as ideias do filósofo. “A minha alucinação é suportar o dia a dia e meu delírio é a experiência com coisas reais”, cantava em “Alucinação” (1976).
Por Elstor Hanzen
O cantor e compositor morreu há um ano, no dia 30 de abril de 2017
A semelhança entre o compositor brasileiro Antônio Carlos Belchior e o filósofo alemão Friedrich Nietzsche vai muito além do bigode. Sem ostentar e sequer se manifestar diretamente sobre esta influência, Belchior bebia nos conceitos nietzschianos, como a moral do rebanho, vontade de poder, eterno retorno e a crítica ao mundo idealizado pela própria filosofia, pela religião e pela ciência. A relação fica evidente quando se faz um passeio pelas letras do cearense.
Nietzsche só viveu 56 anos. Contudo, bastou para ele ser considerado um dos maiores marcos do pensamento contemporâneo. Embora não muito valorizado pelo establishment, o autor é uma referência para organização da história desde o século 19 e se tornou pop entre o público jovem. Desconstruiu a moral e os valores estabelecidos pela filosofia grega, chegando ao desmantelamento da cultura dos ídolos e da religião. Nietzsche, portanto, foi o primeiro a interromper a órbita de compreensão do mundo criado por Sócrates, Platão e Aristóteles.