Em suas primeiras palavras como presidente, Jair Bolsonaro apontou a “ideologia de gênero” como o principal inimigo, e sua ministra Damares Alves prometeu meninos de azul e meninas de rosa. O binarismo de gênero, embora continue dominante, é percebido como uma ameaça: como o bolsonarismo o transformou no grande laboratório de sua restauração conservadora?
A reportagem é de Gabriel Giorgi, mestre em Sociosemiótica pela Universidad Nacional de Córdoba e doutor em Spanish and Portuguese pela New York University, onde atualmente é professor, publicada por Página/12, 11-01-2019. A tradução é de André Langer.
Em um ato de festiva declaração de guerra, Damares Alves, a nova ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos do Governo de Jair Bolsonaro, anunciava que “no Brasil, começa uma nova era: menino veste azul e menina veste rosa”, diante do aplauso e da excitação dos presentes. Ela disse isso em um tom infantilizado: como aquele inesquecível “queremos papai e mamãe” aclamado em nossas ruas por sessentões e sessentonas durante o debate sobre o casamento igualitário, aqui a nova ministra – na ocasião pastora evangélica – também ativa a infância como teatro da restauração conservadora.