A democracia no Brasil corre perigo enquanto o
Estado não enfrentar o monopólio midiático e não construir políticas públicas
para promover a pluralidade
FNDC / www.cartamior.com.br
Em 2015, comemoramos 30 anos do início da
redemocratização do Brasil e 27 anos da promulgação da Constituição Cidadã.
Nestes anos, temos buscado os caminhos para a construção de uma sociedade
democrática, consolidando e aprimorando a democracia representativa, através
das eleições, e lutando para avançar e ampliar os espaços de participação
social.
Somos um país com duzentos milhões de pessoas,
ainda marcado por profundas desigualdades econômicas, sociais e culturais. As
políticas de inclusão social e cidadã adotadas nas últimas décadas tiraram mais
de 40 milhões de brasileiros e brasileiras da miséria e as integraram ao
mercado consumidor. Políticas de expansão e ingresso à educação básica e
superior também melhoraram a escolaridade da população.
Nesse período, a evolução tecnológica promoveu a
ampliação do acesso à internet, seja através de dispositivos móveis ou fixos. A
televisão, que já na década de 80 estava entre os itens eletrônicos de maior
presença nos lares brasileiros, continua soberana não apenas nas salas, mas
também nos quartos e cozinhas das casas, sendo ainda a principal fonte de
informação e lazer.
No entanto, o Estado brasileiro não promoveu
transformações estruturais necessárias para garantir que a livre circulação de
ideias, informações e da produção cultural se desse no país, sem a qual a
consolidação de uma sociedade democrática fica perigosamente comprometida.
A história dos meios de comunicação no Brasil é
marcada pela concentração da propriedade em poucos grupos econômicos, que detêm
o monopólio da palavra e do debate público. Um monopólio que está a serviço da
elite econômica e não tem qualquer compromisso com o interesse público. A
chamada grande mídia brasileira reproduz um pensamento único, e que nos últimos
anos tem, em muitas ocasiões, disseminado preconceito, discriminação e
veiculado um discurso de ódio social e político.
Na programação das emissoras de televisão não
faltam exemplos disso: programas policialescos que incitam a violência e
reforçam a criminalização da juventude que vive nas periferias, dos negros e
das mulheres. No jornalismo, o compromisso com a notícia factual e com a
possibilidade do contraditório com pluralidade de ideias tem sido cada vez mais
raro de se observar. A diversidade cultural e social deste imenso país estão
invisibilizadas.
A comunicação é um direito de todos e todas e a
liberdade de expressão é condição indispensável para a garantia da democracia.
O totalitarismo das ideias e opiniões compromete a possibilidade de se formar
uma opinião crítica e referenciada em opostos.
Desta forma, o FNDC chama a atenção, nesta Semana
Nacional pela Democratização da Comunicação, que a democracia no Brasil corre
perigo enquanto o Estado não enfrentar o monopólio midiático e não construir
políticas públicas para promover a pluralidade e a diversidade nos meios de
comunicação.
Como esta agenda vem sendo historicamente
negligenciada pelos governos brasileiros, vários são os desafios do país para
democratizar o setor, entre eles, a regulamentação dos artigos da Constituição
Federal que tratam da Comunicação Social. Neste sentido, reiteramos a
necessidade de unir esforços em torno da coleta de assinatura para o Projeto de
Lei de Iniciativa Popular da Mídia Democrática, lançado em 2013 pela Campanha
Para Expressar a Liberdade (www.paraexpressaraliberdade.org.br).
Enquanto se reúnem as assinaturas para levar a
proposta ao Congresso Nacional, há outras ações tão importantes quanto esta e
que podem, de imediato, enfrentar minimamente o cenário de exclusão da
sociedade e negação de direitos no campo da comunicação.
Entre elas cobrar que o Ministério das Comunicações
fortaleça a sua agenda regulatória, cumprindo o papel de fiscalizar e também de
aplicar políticas que já estão ancoradas em legislações em vigor; cessar a
criminalização das rádios comunitárias; fortalecer a comunicação pública;
estabelecer canais de diálogo permanentes com o movimento social; adotar
políticas para universalização da banda larga; garantir o cumprimento do Marco
Civil da Internet no que diz respeito à neutralidade de rede e a outros direitos
conquistados.
Durante a campanha eleitoral de 2014, a Presidenta
Dilma Rousseff afirmou que seu novo governo faria a regulação econômica dos
meios de comunicação, que nada mais é do que regulamentar o Capítulo V da
Constituição Federal. É preciso exigir que a Presidenta cumpra este compromisso
de campanha, tendo como parâmetro as resoluções da I Conferência Nacional de
Comunicação (Confecom). O governo pode fazê-lo por meio de um processo
organizado em diálogo com a sociedade civil, por meio de seminários, audiências
públicas e da realização de uma II Confecom.
Mantemos firme a luta em torno da consigna definida
no II Encontro Nacional pelo Direito à Comunicação (ENDC), realizado em abril
de 2015 com mais de 800 participantes de todo o país: “Dilma, Regula Já!”. Está
é a palavra de ordem que aglutina o movimento social brasileiro, seja em torno
de demandas pontuais e específicas, seja em torno de uma agenda mais
estruturante. Toda luta pela democratização da comunicação – a defesa da
política de Classificação Indicativa, do direito de resposta, da constituição
de um Conselho de Comunicação democrático, pelo fortalecimento do campo público
de comunicação, pela universalização da banda larga e todas as outras que
compõem um amplo leque de campanhas – é uma luta que visa uma mídia mais
democrática e, portanto, uma sociedade mais democrática.
Créditos da foto: reprodução
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