Uma reunião sendo intimidada por PMs, a sede da UNE pichada,
a derrubada do site da Carta Maior: a violência política tem sido a tônica do
Brasil.
Victor
Farinelli // www.cartamaior.com.br
E, para dizer a verdade, não venceu só ontem. Desde
sexta-feira a violência política tem sido a tônica do Brasil. Reuniões em
sindicatos sendo intimidadas por PMs armados, sedes da UNE e do PCdoB invadidas
e pichadas. Hoje foi só mais um movimento dessa onda.
A imprensa perdeu, porque todos os seus milhares de chamados
não levaram a diversidade da sociedade brasileira às ruas. Marchou somente a
elite branca e a classe média.
O PSDB venceu, e ainda assim foi talvez o mais derrotado –
mais até que o PT, cuja derrota já estava decretada de véspera. Os tucanos
venceram porque, em seu afã por desestabilizar o país visando o poder,
insuflaram os setores mais violentos da direita. Essa jogada deu muito certo,
porém, muito mais do que se esperava, e não é de hoje que vem já jogando contra
o partido.
Tampouco começou ontem. Podemos observar esse movimento lá
em 2010, quando o Serra usou o pior do conservadorismo religioso contra Dilma.
Mas foi sob o comando de Aécio Neves que o PSDB aderiu definitivamente à lógica
do “quanto pior, melhor”. Vez ou outra, quando a imagem do partido se aproximou
perigosamente a de figuras como Bolsonaro e outras mais radicais, o senador
mineiro tentou se desligar, talvez querendo não perder o controle da situação.
Em várias ocasiões, isso foi visto como sinal de covardia pelos novos aliados.
A vaia que sofreu hoje na Paulista foi uma mostra de que esses aliados se
cansaram e querem mais protagonismo.
O PSDB, assim como a mídia, não conseguiu convencer o povão
a ir às ruas. Isso não significa que as manifestações tenham sido um fracasso.
Os números oficiais, questionáveis ou não, falam de um milhão de pessoas no
total do país. Talvez algumas dezenas de milhares menos, ainda assim é muita
gente – sem contar que São Paulo, a capital do ódio político, levou mais da
metade disso sozinha.
O problema é: quem é o grande vitorioso. Parte da esquerda
comemora o fato de o PSDB levar menos gente do que o esperado, o que é verdade,
mas não motivo para celebração. Quem sim levou gente às ruas, muitíssimo mais
que das outras vezes, foi a direita da direita do PSDB. Bolsonaros, Felicianos,
Malafaias, Olavos, Constantinos. Hoje, permeados por algumas exceções, os que dominaram
as ruas das nossas capitais foram os defensores da intervenção militar, da
perseguição a feministas, homossexuais e transexuais, os que ensinam os filhos
a querer a morte dos petistas, os que querem aquele país mais segregado, o
nosso passado neoliberal de volta, ou aquele passado ainda mais distante, o das
torturas e assassinatos por motivos políticos. Um querido amigo lembrou um lema
da ditadura franquista que caberia bem para a marcha de hoje: “abaixo a
inteligência, viva a morte” – são pessoas orgulhosas da sua falta de informação
e conhecimento geral e histórico, e também da sua sede de sangue.
A vitória do ódio não esteve somente nas ruas. Durante a
madrugada, hackers invadiram e derrubaram o site da Carta Maior, o mesmo
aconteceu com o portal Vermelho. No final da tarde, a página do deputado Jean
Wyllys também foi vulnerada, com fotos e publicações sobre o grande vencedor da
jornada: Jair Bolsonaro. Temo que é só um aperitivo, muito mais virá pela
frente, porque essas pessoas viram que seu ódio tem uma avenida aberta pela
frente, pavimentada pelo discurso da mídia e do PSDB nos últimos anos, e não
vão duvidar em desfilar nela com toda a sua cafajestagem.
No final, o dia de ontem foi um dia terrível para a história
do Brasil e para a sua democracia. E talvez o pior – o muito pior – ainda
esteja por vir.
Créditos da foto: Gabriela Korossy/ Câmara dos Deputados
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