sexta-feira, 22 de abril de 2016

Obra de esgoto. E o esgoto transbordou, à vista de todos. Por Jari da Rocha

hamelin3
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Ninguém, em sã consciência, conseguiu dormir sossegado depois do 17 de abril. A gente até sabia que o bicho era feio, mas não tínhamos a real dimensão da feiura. O pior congresso eleito dos últimos tempos era, até domingo, apenas uma abstração coletiva. Não tinha cara definida e agora tem.

Foram necessários míseros dez segundo para que cada parlamentar mostrasse quem é e a que veio. O horror pode ser conferido nos olhos arregalados da população que se orgulhava de não gostar de política e que, portanto, desconsiderava a necessidade de envolvimento e dedicação.
Ninguém troca o carro sem pesquisar e avaliar consideravelmente a situação. Nem vender o apartamento ou comprar um aparelho de ar condicionado. Mas vender o próprio país onde nasceu e vive foi o mesmo que comprar canos de esgoto.
– Alguma preferência de marca ou modelo, senhor?
– Ah, me dá qualquer um. Vê aí o mais barato. Vai ficar enterrado mesmo, nuca mais vou ver.
No domingo ensolarado a fossa do país entupiu, transbordou e trouxe de volta todo o lixo produzido dos últimos anos.
O que, durante a transmissão ao vivo, era apenas uma repugnante sensação precedida de susto (anos de dejetos acumulados) foi transformada em vergonha nacional na segunda-feira.
Não convém e nem precisa-se reprisar aqui os ‘melhores’ lances da votação. Possivelmente, pela primeira vez na história desse país, todo mundo sabe, com detalhes, o que aconteceu no congresso.
Há quem diga que a referência à família, no momento do indisfarçável SIM, era uma senha para receber uma recompensa pelos ‘serviços’ prestados.
Que diferença isso faz? Nenhuma.
Crime executado sem grampo, diante dos brasileiros em rede nacional.
“Vence na vida quem diz sim”.
Por isso a surpresa, por isso a vergonha e o desespero. “O que foi que eu fiz? É essa a turma que me representa? São eles que vão salvar o país?”
O horror perante o céu do Brasil.
Definido o número da besta (367), muita gente deve ter repensado o que andou bebendo diariamente nos últimos dois anos. Veneno.
Estava ali o golpe, representado por uma horda de canalhas de primeira grandeza. Dez segundos para cada parlamentar transbordar todo seu lixo acumulado. Emporcalharam a nossa falsa civilidade, nossa falsa politização, falsas informações, falsas indignações e, sobretudo, nossa falsa justiça.
E o mundo todo sabe disso.
O 7 a 1 da copa ficou tão pequeno diante do 171 do golpe.
Ao Supremo Tribunal – parte dele, evidentemente – permanecerá a imagem da arma disparada pelo bandido solto, armado e só observado à distância. (link)
A vergonha do esgoto nacional pegou a todos de jeito. Mas, principalmente, àqueles que podiam interferir e ficaram vendo a banda passar. E, também, quem não se preocupou em filtrar as doses diárias de erro.
Ainda dá tempo para se arrepender?
Sim, mas o buraco que será reaberto mostrará o tamanho da podridão e isso se sabe que ninguém vai querer mexer.
Mas e agora, o que fazer?
Estamos unidos na vergonha mundial por termos, através de um bando de desqualificados, avalizado o maior fiasco nacional. Aceitarmos que bandidos julgasses uma pessoa honesta. Uma presidenta da república.
O “somos todos Cunha” passou de uma simples hashtag ocasional para um sequestro, cujo resgate pagaremos com o cerceamento das liberdades, achatamento dos salários, recessão e a mais segura impunidade do planeta.
Até o presente momento, bandido bom é bandido que diz sim.
Porém, nem tudo está perdido.
Afinal, podemos contar com a decência do senado federal, onde, pelo menos, não deve haver um só político corrupto ou envolvido com trampolinagens, tráfico de drogas com helicópteros fantasmas ou lavagem de dinheiro e compra de votos.
Dessa vez, nenhum político votará pelo filho, pelo pai ou pelo espírito santo.
E em nome de Deus também não vale, senhores senadores.

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