sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Os trilhos do Brasil e o descarrilamento do governo golpista

             EMIR SADER // http://www.brasil247.com/
Beto Barata
Na sua ânsia aventureira de assaltar o poder, Michel Temer fez todo tipo de promessa. Que ia reunificar o país, que ia recuperar a confiança dos empresários, que ia recolocar o Brasil nos trilhos. O Brasil está unificado, mas contra o seu governo. Os empresários assaltaram os cargos econômicos do governo e seguem especulando, sonegando, fazendo tudo menos investimentos produtivos.

Quanto aos trilhos, a afirmação medíocre de Temer remetia à velha e ultrapassada ideia de que cada economia tem trilhos obrigatórios, espécie de via obrigatória, proposta pelo fim da História e pelo Consenso de Washington. Aquela ideia provinciana de que toda economia tem que "fazer seu dever de casa", eufemismo que reitera o ajuste fiscal como prioridade de todo governo "sério".

Seis meses depois, o governo golpista recolocou o Brasil nos trilhos da hegemonia do capital especulativo, elevou os gastos públicos, ao tempo que aprofundou a recessão e o desemprego com um duro ajuste fiscal, reitera que seu governo só tem compromisso com esse ajuste. Revela assim quais os trilhos a que o governo quer recolocar a economia: os da dominação sem contrapesos do capital especulativo, da recessão, do desemprego, do desmonte do Estado, do corte radical das políticas sociais, do ataque aos direitos dos trabalhadores, do retorno à política externa de baixo perfil e subordinada aos EUA.

Qualquer balanço dos caminhos que o Brasil vinha trilhando neste século leva à constatação de que não há trilhos obrigatórios, que todo governo faz opções políticas. Os governos do PT romperam com a suposta obrigatoriedade do ajuste fiscal como centralidade do governo e a desenvolveu como condição da priorização as políticas sociais. Provou que se pode combinar desenvolvimento econômico com distribuição de renda e com controle da inflação. Que a condição da expansão do comércio exterior é a sua diversificação e que deixar de depender profundamente dos mercados do Norte do mundo é condição para dinamizar a economia. Que a distribuição de renda não é negativa, mas ao contrário, é alavanca para manter o crescimento sustentável da economia.

Em suma, esses governos recolocaram o Brasil nos trilhos do desenvolvimento produtivo com expansão contínua do mercado interno de consumo popular. Fortaleceram o Estado como instrumento dessa opção. O país passou a trilhar os caminhos da prosperidade e da auto-estima, do respeito externo e da legitimidade do governo e dos seus líderes.

O governo golpista difundiu a visão equivocada de que o Brasil tinha "saído dos trilhos". Que o Estado teria gastado demais, que a força de trabalho estaria muito cara, que as políticas sociais seriam gastos inúteis. A partir desses supostos errados, está levando o Brasil para o despenhadeiro. Desmontando o patrimônio público mais valioso, como o da Petrobras e do pré-sal. Retrocedendo no combate às desigualdades e acionando de novo poderosos mecanismos de concentração de renda e de exclusão social. Fazendo com que a imagem do Brasil no exterior seja a pior possível, a mais degradante e desmoralizada. Atacando os trabalhadores e seus sindicatos como adversários centrais do governo golpista.

Em pouco tempo o governo Temer descarrilha mesmo dos trilhos bitolados a que se propôs. O país está mais do que nunca fraturado, entre um governo que representa o 1% da extrema riqueza e a grande maioria da população, afetada por políticas profundamente antissociais. O prestígio do governo tende a zero. A governabilidade se sustenta nos frágeis apoios de um Congresso assolado pelas denúncias de corrupção e por sua impopularidade. A mídia consegue cada vez menos blindar o governo, tais as fragilidades deste. O governo descarrilha de forma acelerada, ladeado pelos precipícios da crise econômica e social, do desgaste político e da sua falta de legitimidade.

O Brasil é muito maior do que os estreitos trilhos a que o governo golpista e neoliberal quer sujeitá-lo. A sociedade brasileira cada vez mais diz que não quer esses trilhos, que prefere que o país seja recolocado nos trilhos do desenvolvimento econômico com distribuição de renda, como a cada vez maior popularidade do Lula, que representa esse modelo, evidencia.

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