domingo, 19 de fevereiro de 2017

Sérgio Moro, Nemo e Robur ou a tragédia do absolutismo egocêntrico, por Fábio de Oliveira Ribeiro

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Fábio de Oliveira Ribeiro
Mais famoso que Robur, o Capitão Nemo é protagonista de dois romances de Júlio Verne: Vinte Mil Léguas Submarinas (1870) e A Ilha Misteriosa (1874). Sobre ele há um excelente verbete em inglês na Wikipédia:
“He avoids dry land, except when it's uninhabited, as with Antarctica and desert islands. In keeping with his contempt for the nations of the surface, he uses no products that are not marine in nature, be it food, clothing, furnishing, or even tobacco. Little is revealed about his political opinions except an almost maniacal hatred of oppression, with which he identifies all the imperialistic nations of the world. He therefore identifies himself with those oppressed, be they Cretans rising against the Turks, Ceylonese pearl divers, or even black whales attacked by cachalots (sperm whales). When Professor Aronnax alleges that Nemo violates maritime and international law by sinking war-ships, Nemo responds that he is merely defending himself from his attackers, and that the laws of the world on the surface no longer apply to him. In one scene, Nemo exclaims:
‘On the surface, they can still exercise their iniquitous laws, fight, devour each other, and indulge in all their earthly horrors. But thirty feet below the (sea's) surface, their power ceases, their influence fades, and their dominion vanishes. Ah, monsieur, to live in the bottom of the sea! ....
There I recognize no master! There I am free!’ ”
Tradução:

“Ele evita a terra, exceto quando está desabitada, como na Antártica e nas ilhas desertas. Preservando seu desprezo pelas nações da superfície, ele não usa produtos que não sejam de natureza marinha, incluindo comida, vestuário, mobiliário, ou mesmo tabaco. Pouco é revelado sobre suas opiniões políticas, exceto um ódio quase maníaco da opressão, com o qual ele identifica todas as nações imperialistas do mundo. Ele se identifica com os oprimidos, sejam eles cretenses que se levantam contra os turcos, mergulhadores de pérolas de Ceilão, ou mesmo baleias negras atacadas por cachalotes. Quando o professor Aronnax alega que Nemo viola o direito marítimo e internacional ao afundar navios de guerra, Nemo responde que ele está apenas se defendendo de seus agressores e que as leis do mundo na superfície já não se aplicam a ele. Em uma cena, Nemo exclama:
‘Na superfície, eles ainda podem exercer suas leis iníquas, lutar, devorar uns aos outros, e se entregar a todos os seus horrores terrenos.  Mas trinta pés abaixo da superfície do mar, seu poder cessa, sua influência se desvanece, e seu domínio desaparece. Ah, meu caro senhor, viver no fundo do mar! ...
Lá eu reconheço nenhum mestre! Lá sou livre!’ ”
Robur, personagem de Júlio Verne nos romance Robur o Conquistador (1886)  é um brilhante inventor que construiu uma maravilhosa aeronave capaz de dar a volta ao mundo em alguns dias. Existem algumas semelhanças entre Robur e o Capitão Nemo http://e-nigma.com.pt/criticas/robur.html. Mas o autor da comparação levou em consideração apenas os personagens de Júlio Verne. A versão cinematográfica de Robur, que devota um ódio doentio às máquinas de guerra construídas pelos Estados imperialistas, se parece muito mais com o herói de Vinte Mil Léguas Submarinas e A Ilha Misteriosa. É este Robur que pretendo levar em conta.
Na versão cinematográfica de 1961:
“...Master of the World, with Vincent Price as Robur. The movie kept the basic concept but added elements of intrigue and a romance to the plot.
In this version, Robur is an idealist who plans to conquer the world in order to put an end to tyranny and war. Using the Albatross he plans to bomb the nations of the world until he is acknowledged its ruler. (In contrast, book-Robur has no such aims, and bombs only one ground target: an African coronation where a mass human sacrifice is about to take place.)
Instead of the Weldon Institute members, he kidnaps Mr. Prudent of Philadelphia, an armaments manufacturer, along with his daughter Dorothy and her fiance Phillip Evans. Charles Bronson plays Strock, the reluctant hero who comes to admire Robur, but not enough to let him carry out his plans.
The name Albatross is retained, though the novel's description and early illustrations that suggest a flush-decked clipper ship with propellers on its masts instead of sails, is replaced by a more contemporary design resembling a classic airship, or dirigible; though still given propellers for lift. The vessel is described in the film as being a 'heavier than air machine of several tons,' a statement later explained as the vessel 'is made entirely of straw paper, mixed with dextrin and clay, and squeezed in a hydraulic press...'
This construction also enables the Albatross to fly high enough to be impervious to contemporary weapons fire. When flown low to the ground, though, Albatross was heavily damaged while within the blast radius of one of its own bombs,and was finally damaged beyond repair and sank into the ocean when the gunpowder in its armory exploded due to sabotage by the passengers.”
Tradução:
“O filme manteve o conceito básico, mas adicionou elementos de intriga e um romance para o enredo.
Nesta versão, Robur é um idealista que pretende conquistar o mundo para pôr fim à tirania e à guerra. Usando o Albatroz ele planeja bombardear as nações do mundo até ser reconhecido como seu governante. (Em contraste, no livro de Júlio Verne o personagem Robur não tem esta pretensão; ele só usa bombas uma vez: durante a coroação de um rei Africano para impedir o sacrifício humano em massa que está prestes a ocorrer.)
Em vez dos membros do Weldon Institute, ele sequestrou o Sr. Prudent da Filadélfia, um fabricante de armamentos, junto com sua filha Dorothy e seu noivo Phillip Evans. Charles Bronson interpreta Strock, o herói relutante que chega a admirar Robur, mas não o suficiente para deixá-lo realizar seus planos.
O nome Albatroz é mantido, embora a descrição do romance e as primeiras ilustrações que sugerem um navio com propulsores em seus mastros em vez de velas, sejam substituídas por um design mais contemporâneo que se assemelha a um dirigível clássico. A embarcação usa  hélices para voar. Ela é descrita no filme como sendo uma ‘máquina mais pesada do que o ar de várias toneladas’, uma declaração explicada mais tarde como o navio ‘é feito inteiramente de papel de palha, misturado com dextrina e argila, e espremido em uma prensa hidráulica ... '
Esta construção também permite que o Albatroz voe alto o suficiente para ser invulnerável ao fogo das armas contemporâneas. Ao voar rente ao chão,o Albatroz sofre extensas avarias em razão da explosão de uma de suas próprias bombas. Após ser reparada a aeronave de Robur afunda no oceano quando a pólvora em seu arsenal explode devido à sabotagem realizada pelos passageiros.”
À medida que a Lava Jato caminha para seu inevitável fim, o protagonista da operação começou a se parecer mais e mais com os dois personagens acima referidos. Movido por um ódio irracional contra o PT, Sérgio Moro conseguiu afundar a economia brasileira sem ter realizado seu sonho de destruir Lula.
O Capitão Nemo, Robur (versão cinematográfica) e Sérgio Moro tem em comum uma evidente devoção próprio ego. Eles são incapazes de servir a algo maior do que seus próprios sonhos de independência (Nemo), de conquista (Robur) e de purificação do Brasil (Moro).
No comando de suas maravilhosas armas de destruição naval (Nautilus), aérea (Albatroz) e judiciária (Lava Jato), os três não levam em consideração os danos colaterais que produzem. Sérgio Moro provocou desemprego e desespero ao afundar a Odebrecht. A dor dos familiares dos marinheiros que estão nos barcos atacados por Nemo e Robur não entram no cálculo que ele faz antes de usar suas armas.
Como notou o Ministro do STF Marco Aurélio de Mello, o protagonista da Lava Jato não consegue mais nem mesmo cumprir e fazer cumprir fielmente a Lei http://www.sul21.com.br/jornal/moro-simplesmente-deixou-de-lado-a-lei-isso-esta-escancarado/. Sérgio Moro “... simplesmente deixou de lado a Lei. Isso está escancarado…”. É por esta razão que ele pode ser comparado a Nemo e Robur.
Os três agem como se estivessem fora do alcance da Lei, acima dela ou, pior, como se fossem a única fonte de legalidade. O Capitão Nemo, Robur (versão cinematográfica) e Sérgio Moro são justiceiros. Os dois primeiros, porém, são apenas personagens fictícios e não estão em condições de produzir estragos reais nas estruturas políticas, econômicas e judiciárias de uma nação com mais de 200 milhões de habitantes. Apenas Sérgio Moro estava em condições de fazer isto. E até o presente momento nada foi capaz de interromper sua ação destrutiva. Os delírios literários de Júlio Verne se tornaram uma realidade no Brasil.
Todavia, ao contrário de Seŕgio Moro os personagens Nemo e Robur cumprem pedagógica. Eles exemplificam aquilo do que todos nós devemos nos desviar: o poder absoluto e a solidão egocêntrica. Ao mergulhar em ambos com ajuda da imprensa, Sérgio Moro segue no comando da Lava Jato transformando sua tragédia pessoal num drama social que pode estraçalhar o país inteiro.

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