segunda-feira, 13 de março de 2017

O muro é o lugar dos covardes e eticamente miseráveis


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Caro Prof. Paulo Duarte, Universidade Federal do Ceará

Os seus comentários sob os vários vídeos do Canal CRP são evidências de que o amigo é intelectual estudioso, conectado com a realidade e que tem lado, demonstrado com sua postura de vida que a neutralidade é uma farsa.

Este blog e o Canal CRP (Cartas e Reflexões Proféticas) são ferramentas movidas pelo interesse principalmente pela educação cidadã, que todos merecemos, independentemente de nossa construção teórica, esta farta no amigo.

Por isso, com sua licença, me permitirei usar no lugar de neutralidade a concepção popular de “muro”.

Penso que se o professor Leandro Karnal deu alguma contribuição ao debate intelectual e nacional foi o de expor escancaradamente o ridículo do passeio sobre os muros, na verdade trono dos alienados e covardes. 


A explicação de Karnal nessa conjuntura em que predomina a pós-verdade, ao justificar seu encontro com o inimigo do povo e da Pátria brasileira, o juiz da republiqueta de Curitiba Sérgio Moro, estampa ainda mais a alma dos entronizados na falsa muralha da neutralidade.

O historiador da UNICAMP escreveu: “Lamento a polarização no Brasil e lamento o clima que, por poucas explicações minhas, causei. Tomarei mais cuidado e desculpo-me por isto.”

A frase guarda uma aura de inocência ao descobrir que o Brasil vive clima de polarização e que sua base é o muro farsesco no qual se apoia.

De agora em diante, talvez, Karnal tomará mais “cuidado” em não dar tanto na cara de que sua postura é a de um passeador de muros, procurando tirar proveito pessoal e vantagem de marketing do muro.

Mas não me prendo ao professor Leandro, mas ao que a sempre ingênua ou má fé muralista ensina.

O poeta e grande escritor italiano Dante Alighieri (de 1300) indica bem o terreno e o material desse muro: “As regiões mais sombrias do inferno estão reservadas para aqueles que permanecem neutros em tempos de crise moral”.

Os muristas desconhecem a existência de sombras, as do mal e do inferno, onde se assentam as posições de seus muros explicativos e ignoram a crise moral que abala a essência das pessoas e das instituições que deveriam dar-lhes sustentação existencial.

O dramaturgo espanhol (de 1600) mostra mais agudamente a angústia solidária e incômoda dos muristas quando diz: “Se sigo a neutralidade, condeno-me a viver sozinho, pois o neutro não é bom para amigo nem para inimigo.” 

Realmente, os inimigos abominam a covardia e imoralidade dos muristas. Não se sentem seguros de sua honestidade – inexistente. Até mesmo os inimigos do bem e da ética preferem o confronto com quem declara de que lado está do que com quem pretensamente se suspende enganosamente acima do bem e do mal.

O conhecido e respeitado arcebispo anglicano africano do Sul agita a crítica mais contundentemente ao criticar a postura muralista, mesmo que esta seja inconsciente: “Não há lugar para neutralidade. Quando você diz que é neutro em relação a uma injustiça ou opressão, você decidiu apoiar o status quo do injusto.”

Nosso Paulo Freire aponta para a desonestidade moral de quem nega com sua posição de cima de muros a desumanidade do conflito entre opressores que sabotam os oprimidos: “Que é mesmo a minha neutralidade senão a maneira cômoda, talvez, mas hipócrita, de esconder minha opção ou meu medo de acusar a injustiça? Lavar as mãos em face da opressão é reforçar o poder do opressor, é optar por ele.” 

Apesar da grande honestidade intelectual do sociólogo alemão Max Weber (1864 – 1920) e de seu esforço ao defender a possibilidade e necessidade da neutralidade na investigação científica, ele foi derrotado por ignorar a extraordinária força do conflito e dos interesses de classes até mesmo sobre e dentro de quem se diz pronto para revelar a pureza objetiva e verdadeira do conhecimento científico.

Fora da ilusão dos inocentes e da desonestidade dos hipócritas não existem muros sobre os quais possamos sentar ou passear de almas leves.

Nesse sentido as consequências dos muristas são desastrosas para eles e para a humanidade.

São os “neutros” obedientes a hierarquias fascistas que na polícia atiram contra adolescentes, jovens, mulheres, pobres e trabalhadores desarmados.

Na imposição da tal escola sem partidos veem-se os facínoras ditos educadores – que de educadores não têm nada – assumindo muros que se tornam proteção de interesses mesquinhos, preconceituosos e fundamentalistas contra os diferentes.

Deve-se aos muros desses facínoras a droga de educação aplicada em instituições privadas, principalmente. Muitos dos diretores, coordenadores e donos de escolas e faculdades são leitores da revista suja Veja e, imbecis, gostam de citá-la em salas de professores e em aula, provocando verdadeiras indecências contra o conhecimento.

Esses indecorosos têm pruridos para de matraquear que são apartidários e de que odeiam política. Se isso não for desonesto será, no mínimo, ignorância. É muro que se reverterá contra eles, como já começou a acontecer com o alto custo em falências, desemprego e os baixos salários que os atingem.

O golpe que amargura o Brasil foi dado por juízes e parlamentares que se dizem neutros, covardes de muros, que sempre decidem pelo opressor e pela injustiça.

Até mesmo ou talvez mais, só que vestidos da máscara de santidade, veem-se os danos dos muristas.

Estes se apresentam doces e amáveis sobre seus muros. Gostam de obras de caridade e nelas amam abraços, beijos e as palavras que exaltam sua “bondade”. Publicamente cultuam o espírito de compreensão com as diversidades humanas e até participam de eventos que os façam públicos e queridos.

Mas se alguém criticar os poderosos, mesmo que este alguém seja seu irmão de comunhão, apressam-se a xingá-lo e a humilhá-lo, em plena explicitação do fracasso ético de seu muro. 

Sua vida falsa não os lhes permite organização para a luta nem o devido preparo para a critica recebida e o direito de fazê-la respeitosamente.

Não sabem o sentido da solidariedade e da força do pensamento coletivo. O personalismo, a vaidade e o egoísmo são suas marcas.

Odeiam ouvir a palavra revolução e as tais categorias marxistas de análise da realidade. Não suportam o que carrega o potencial do desmascaramento de suas posições falsas e cínicas.

Embora chocado não estranhei que dois cardeais brasileiros fossem ao Palácio do Planalto dar banho de água benta no golpista e traidor Michel Temer. Ainda abençoaram o pacote de arrocho fiscal aprovado pelos canalhas do Congresso Nacional.

Durante minha vida de luta, que já vai há anos, os maiores prejuízos e ataques covardes que sofri e, não poucas vezes anônimas, partiram dos muristas.

No início de minha existência produtiva sofri muito por ingenuidade em não entender que esses santos do pau oco também fazem parte do conflito de classes. O mal deles é que não lutam em campo aberto e honestamente, mas constroem seu inferno nas sombras, como definiu Dante Alighieri.

Fui preso, perdi a liberdade, perdi familiares, amigos e quase morri entregue à repressão ditatorial pelos muristas de igreja e de escolas, que se moveram às sombras.

Quando fui anistiado, bastante conhecido no Brasil e no mundo, agravando o ciúme e a inveja dos “neutros”, alguns deles vieram a mim dramatizando arrependimento e dizendo que não pretendiam que eu sofresse, mas que apenas mudasse minha visão do mundo e fosse mais “imparcial”. Destes nunca mais vi nenhum. Retornaram aos muros sombreados e mofados da covardia. Também não acreditei que sua “confissão” fosse honrada e honesta.

Com a velhice chegou-me a maturidade de quem percebe que não vale a pena investir energia pacífica em quem se alimenta e se move medrosa e covardemente no bolor dos muros. 

Creio, meu querido amigo prof. Paulo Duarte, que a hora atual é grave. Em tais circunstâncias de conflito e de crise os autênticos mudadores do mundo se colocam às claras. Embora cuidadosos com a segurança, como também aumentam as larguras dos muros que suportam os alienados e covardes, que em cima deles tentam construir sua solidão e falta de ética.

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