sábado, 15 de julho de 2017

Enquanto houver parlamentares compráveis, Temer não sai do Planalto



O Brasil vive hoje um dos períodos mais negros e vergonhosos da sua história, marcado pela hipocrisia e pelo cinismo que caracterizam o comportamento de figuras de destaque do Executivo, Legislativo e Judiciário. E mais grave ainda: esse tipo de conduta, com o qual vão destruindo o país, de tão rotineiro passou a ser encarado com naturalidade, não mais ensejando uma reação do povo, a maior vítima, que parece ter perdido a capacidade de se indignar e se mostra conformado com a situação. O Senado, por exemplo, acaba de decretar a morte da CLT, aprovando uma reforma condenada até pelo Ministério Público do Trabalho, mas o povo não saiu às ruas para protestar. Seis senadoras da oposição até tentaram impedir a sua votação, ocupando a mesa diretora da Casa num gesto extremo, em defesa dos trabalhadores, que deveria ter sido apoiado pelos homens, mas não resistiram à pressão dos covardões da base aliada que, inclusive, subscreveram uma representação contra elas ao Conselho de Ética. 
O presidente do Conselho, senador João Alberto, que recentemente arquivou uma representação contra o senador Aécio Neves alegando inexistência de provas – apesar do pedido de dinheiro ao empresário Joesley Batista e do flagra do seu primo e portador carregando uma mala de dinheiro – surpreendentemente acolheu o pedido de abertura de processo disciplinar contra as senadoras, assinado por 14 senadores, à frente José Medeiros, do PSD de Mato Grosso. A covarde e vergonhosa atitude dos subscritores do documento e, também, do presidente do Conselho, revela, além de machismo, asquerosa subserviência a Temer, que os transformou em marionetes dos seus interesses. E não apenas esses senadores, mas todos os que aprovaram a tal reforma, entre eles Marta Suplicy, Cristovam Buarque, Tasso Jereissati, José Serra e Aécio Neves, se tornaram algozes do povo que dizem representar, traindo a confiança que lhes fora depositada nas últimas eleições. 

Esses mesmos senadores devem ter comemorado a sentença do juiz Sergio Moro, condenando Lula a 9 anos e seis meses de prisão, convencidos talvez de que com o líder petista fora do páreo sucessório será mais fácil manter o poder conquistado mediante um golpe. Eles sabem, especialmente os tucanos, que ninguém consegue vencer o ex-presidente operário nas urnas, em eleições livres e limpas, e, por isso, torcem para que ele seja condenado em segunda instância e fique inelegível. Entre os jornalões que também comemoram a decisão do magistrado de Curitiba, a “Folha” já cobrou, em editorial, a urgente manifestação do Tribunal Regional Federal da 4ª. Região, para confirmar a condenação do líder petista, que aparece na liderança da preferência popular em todas as pesquisas de intenção de votos, de modo a torná-lo inelegível. Não há outra maneira de impedi-lo de voltar para o Palácio do Planalto.

Juristas do Brasil e do resto do mundo, além de chefes de Estado, já condenaram a sentença de Moro, flagrantemente injusta por absoluta ausência de provas, que evidenciou mais uma vez o seu comportamento político e obsessão pela ribalta. As fotos dos seus sorridentes encontros com os tucanos Aécio Neves e João Doria, além do seu cumprimento dobrando a cerviz ao presidente ilegítimo Michel Temer, já indicavam que ele tinha lado politico. Celebrizado pela mídia, no entanto, ele é visto como super-herói pela parte da população imbecilizada pela Globo e, estribado nisso, auto-afirmou-se como a autoridade máxima do país, temido até pelo Supremo Tribunal Federal, que não tem coragem de contrariá-lo. Na verdade, ele nunca foi censurado nem mesmo pelos abusos cometidos e reconhecidos até por ministros da Suprema Corte, o que lhe permite fazer suas próprias leis. O Conselho Nacional de Justiça, que legalmente seria o órgão encarregado de punir os abusos cometidos por magistrados, se tornou figura decorativa no cenário do Judiciário desde a aposentadoria da ministra Eliana Calmon. 

Enquanto isso Temer vai empurrando de barriga, pernas, braços, cabeça e dinheiro dos cofres públicos qualquer tentativa para defenestrá-lo do Planalto. Conseguiu, também promovendo intenso e indecoroso troca-troca de seus membros, no dizer do ministro Eliseu Padilha, uma “vitória magistral” na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara que rejeitou por 40 votos a 25 o parecer do deputado Sergio Zveiter acolhendo a denúncia do procurador Rodrigo Janot. Constata-se, sem muita dificuldade, que enquanto houver partidos pusilânimes e parlamentares compráveis, seja com verbas para emendas ou cargos, ele não levanta tão cedo a bunda da cadeira de Presidente. E ninguém se espante se ele conseguir aprovar tudo o que mandar para o Congresso, inclusive a entrega de nossas terras para os estrangeiros, pois com esse Parlamento entreguista e inimigo do povo tudo é possível, até mesmo a ampliação dos seus mandatos em mais um ano, conforme projeto de Emenda Constitucional que tramita discretamente na Casa, aumentando os atuais mandatos para cinco anos. Como não se pode contar com esse Supremo, que seria a última fronteira para impedir as agressões à Constituição, o jeito é assistir estarrecido e envergonhado injustiças cometidas pela própria Justiça, que não precisa de prova para condenar ninguém. Basta a convicção e o desejo do magistrado.

Ribamar Fonseca

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