Por Gilvandro Filho
O Brasil acordou estarrecido nesta quarta-feira de cinzas. Algo inimaginável até agora, temos um presidente da República que responde ao clamor e aos protestos do povo com obscenidades. Desesperado com o que viu e ouviu durante o carnaval, em praticamente todo o País, o presidente usa suas redes sociais e posta um vídeo inacreditável para a sua condição de chefe de Estado e para a liturgia mínima que o seu cargo exige. Ao fazer a postagem, Jair Bolsonaro levanta sérias suspeitas sobre sua real condição de continuar à frente dos destinos dos brasileiros.
A postagem se soma a outras manifestações do presidente e dos filhos dele, todas insufladas pelo ódio e pela surpresa que deve ter sido, para eles, os protestos populares ao longo do carnaval. Em várias capitais, Bolsonaro foi alvo de hostilidades durante a folia. Recebeu críticas das escolas de samba que, ainda por cima, enalteceram o ex-presidente Lula; foi xingado impiedosamente nas ruas com cantos que o mandavam para lugares indesejáveis; foi personagem de paródias ácidas insinuando a ligação da família dele com os milicianos; nas ladeiras de Olinda bonecos feitos à semelhança do presidente e da primeira dama foram vaiados e recebidos com chuvas de latas de cerveja. Deve ter doído muito.
Ao mesmo tempo, o presidente e seus filhos e aliados foram viram o ex-presidente Lula – liberado pela Justiça para comparecer ao velório do neto de 7 anos, que morreu de meningite meningocócica – dar um show de coragem e dignidade e crescer no conceito das pessoas. Mesmo sob fortes ataques dos bolsonautas, a começar pelo insano filho do meio do presidente, Lula cumpriu com o que a Justiça determinou de cabeça erguida. E saiu do episódio dando exemplo de altivez.
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Com Bolsonaro foi exatamente o contrário. Ele levou ao extremo as manifestações e passou a expelir as respostas que sabe dar. Desenterrou a ideia de permitir aos policiais matar no exercício da função. Quer que o congresso transforme em lei o conceito da letalidade com o qual as forças repressivas podem eliminar seus alvos sem responder por isso. As consequências de uma medida dessas num país onde a polícia já é a que mais mata no planeta são imprevisíveis. Melhor, são previsíveis: vai sobrar para os alvos-padrão que são os pobres, negros, favelados.
Mas, o que demonstra mais a junção de despreparo com desespero que tomou conta do presidente foi a publicação do tal vídeo pornô. Um absurdo que hoje corre o mundo colocando no ralo a imagem do país. A cena mostra um homem se masturbando pelo ânus e, em seguida, lavando os cabelos com a urina de outro. Isto foi usado por Bolsonaro para tentar comprovar uma suposta permissividade que seria comportamento corriqueiro dos foliões. Pela interpretação dele, que casa com o que imagina ser o carnaval segmentos evangélicos que lhe são respaldo político, o País se transforma numa grande suruba nos chamados “dias de Momo”.
Não é por aí. E não foi, sobretudo neste ano. O que se viu foi a explosão popular de um sentimento de repúdio por um governo que extrapola em tudo o que diz respeito a truculência, misoginia, preconceito e ignorância. Um sentimento que vem contagiando até mesmo quem cometeu a bobagem de votar em Bolsonaro e acreditar em suas fakenews de campanha.
Obsceno não é o carnaval. Mas, a destruição das garantias e conquistas trabalhistas; a escolha de ministros bizarros e inacreditáveis; é se ajoelhar de costas para os Estados Unidos; é vender as riquezas do País; é utilizar a morte de uma criança de sete anos para destilar ódio e vingança; é impedir que os idosos se aposentem.
E muito mais obsceno que o filme mostrando excessos durante o carnaval é isto ser postado na página pessoal de um presidente da República.
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