terça-feira, 5 de março de 2019

Eis o governo Bolsonaro, à sua imagem e semelhança

Alan Santos/PR


Sem projeto e à deriva, o governo se desintegra num turbilhão de erros e contradições inimagináveis. No Congresso, não consegue sequer articular a base de sustentação, mesmo o PSL, partido de Jair Bolsonaro, tendo a maior bancada na Câmara.

Sob investigação do Ministério Público por denúncia de uso de "candidaturas laranja" para desviar dinheiro do fundo partidário, o PSL tornou-se uma bola de ferro amarrada no pé do governo.

Arma-se o balcão de negócios, a velha política do "toma lá, dá cá", mas mesmo assim não dá liga. Está instalada a incerteza com o futuro do governo, o racha na cúpula militar e o duplo comando. Além disso, nada proposto para a saída da crise econômica e social.

No desmoralizado judiciário, as forças políticas internas alinhadas com o golpe de Estado, com o governo e seu representante, o ex-juiz e ministro da Justiça, Sérgio Moro, dissolvem as bases da justiça, inscritas na Constituição de 1988, e mergulham no mar da indecência. Mantém o ex-presidente Lula preso, condenado sem provas, e, livres, corruptos de estimação de certos magistrados: Michel Temer, Aécio Neves, José Serra, Aloysio Nunes, Romero Jucá, e tantos outros que no los puedo contar. Talvez por serviços prestados ao golpe.

No Executivo, os ministros do governo Bolsonaro têm sido lembrados predominantemente pelo despreparo, pelas trapalhadas, revezes, por estarem sendo investigados por corrupção, ou pela bizarrice. A incompetência demonstrada, inoperância e decisões atabalhoadas estão colocando o Brasil no rol de países de governos caricatos.

O caso mais emblemático é, sem dúvida, o próprio Jair Bolsonaro, apontado como neófito, "desprovido das condições mínimas para o exercício do mandato presidencial" pelo conservador jornal O Estado de São Paulo, em editorial, logo após a desastrosa participação dele no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça. Percebendo o desastre, outros jornais, TVs e rádios começam a apontar os erros do governo.

No governo, montado à imagem e semelhança de Bolsonaro, ministros como Damares Alves ganham notoriedade por tolices e aberrações, tornam-se figuras folclóricas e motivo de chacota mundo afora.

Ernesto Araujo, com sua diplomacia servil, tenta empurrar o Brasil para o conflito com a Venezuela. Ele e o chefe, Jair Bolsonaro, foram desautorizados publicamente pelo vice, Hamilton Mourão, de forma constrangedora, nas reuniões de Bogotá e Lima. Ou seja, o desgoverno transborda pelas fronteiras do país.

Araujo e Bolsonaro criam problemas diplomáticos e comerciais no oriente médio, manifestando apoio a Benjamin Netanyahu, indiciado pelo Ministério Público israelense por dois crimes de corrupção, e com a ideia de mudar a embaixada do Brasil para Jerusalém (Exportações para 22 países da Liga Árabe, US$ 9,3 bilhões); criam problemas com a China, nosso maior parceiro comercial (US$ 53,2 bilhões); e com o Mercosul (US$ 18,8 bilhões, em 2018).

A China anunciou que vai comprar produtos agropecuários dos Estados Unidos, os mesmos produtos comprados do Brasil. Caso Araújo insista na sua desastrada diplomacia servil, países do oriente médio podem optar também por comércio com outros países.

Tereza Cristina, ministra da Agricultura, conhecida como "musa do veneno", cria barreiras sanitárias para as exportações do país. O lobby dos laboratórios colocou em sua mesa 131 pedidos de liberação de novos agrotóxicos. Somente na segunda semana de janeiro foram liberadas 28 substâncias químicas, consideradas perigosas e muito perigosas para o uso agrícola. Substâncias, na grande maioria banidas dos países desenvolvidos.

O ministro Ricardo Salles, inimigo do meio ambiente, condenado na justiça por improbidade administrativa, demitiu 21 superintendentes do IBAMA, para, evidentemente, nomear indicados pelos setores do agronegócio, da mineração, e facilitar licenças ambientais. Com isso, demonstra que, na área de meio ambiente, atropelará tratados assinados pelo Brasil e trombará com organismos internacionais como um lobista de grandes negócios.

O controvertido ministro Sérgio Moro, fincado como estaca moral do governo, vê sua imagem se desfazer como a de um boneco de areia ao vento. Em recente episódio, indecente, nomeou e demitiu Ilona Szabó, do Conselho Nacional de Política Criminal, a maior especialista em segurança pública do país, depois de pressões de militantes bolsonaristas nas redes sociais.

No tal "pacote antecrime", Moro voltou atrás na criminalização do Caixa 2, classificado por ele, no auge da Lava Jato, como "pior que corrupção". Agora, depois das "candidaturas laranja" do PSL, partido do presidente, Moro diz que Caixa 2 não é crime tão grave. Dias antes, o ministro Onyx Lorenzoni, réu confesso dessa atividade ilícita e investigado a pedido da Procuradoria-Geral da República, foi defendido por Moro com uma frase lapidar: "Ele já admitiu e pediu desculpas". Ou seja, está perdoado?

O colombiano Ricardo Vélez Rodrigues, ministro da educação, na esteira da patética militarização do ensino, assinou a infame carta às escolas induzindo filmagens, sem autorização, de alunos e professores cantando o hino nacional. Inerte na própria incompetência, ele e seu capitão querem transformar a educação num ringue. Anunciaram ataques a universidades e escolas, com uma tal "Lava Jato na Educação", na tentativa clara de impor ideologia fascista no ensino.

Paulo Guedes, ministro da Fazenda, com sua pauta do mercado, para o mercado e pelo mercado, vende a ideia da reforma da previdência e as privatizações como panaceia para o problema da economia. Enquanto a crise se agrava sem nenhuma iniciativa concreta do governo. Resumiu-se num governo de negócios.

Outros ministros desapareceram na burocracia. Por exemplo, o que anda fazendo o astronauta Marcos Pontes, ministro da Ciência e Tecnologia? Em viajem a Israel atrás da tecnologia de dessalinização? Cientistas brasileiros tornaram o Brasil referência internacional nessa tecnologia.

Empresários de alguns setores já admitem erro por apoiar o golpe de Estado e a eleição de Bolsonaro, com subordinação colonial aos Estados Unidos. Ainda mais com a perspectiva de prolongada recessão econômica naquele país, já em 2019.

Jorge Paulo Lemann, apoiador de primeira hora do golpe, financiador da eleição de Bolsonaro, acaba de contabilizar um prejuízo de US$ 10,2 bilhões e uma depreciação de US$ 15,4 bilhões nos ativos da Kraft Heinz. Perdeu o posto de homem mais rico do Brasil.

Os recentes dados da economia brasileira são desanimadores: pífio crescimento do PIB, de 1,1%, dois anos seguidos (2017 e 2018), com projeção de 2,2%, em 2019, segundo o Banco Mundial, desemprego estrutural chegando a 13 milhões de pessoas e aumento em dobro do déficit das transações correntes, que atingiu US$ 14,511 bilhões, em janeiro.

A nomeação de dezenas de militares de pijama para ocupar importantes cargos no governo parece ser outro problema que começa dar sinais de travamento. Militares sem patentes, salve raras exceções, costumam ser burocratas paquidérmicos, pouco criativos, sem iniciativa, amarrados na hierarquia e na disciplina. A coisa não anda.

Logo após a eleição de Jair Bolsonaro, o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), em Brasília, onde se instalou o gabinete de transição de governo, parecia um formigueiro, tão grande o número de parentes e aderentes de militares, pastoras e pastores de igrejas evangélicas, de políticos, apoiadores do presidente eleito, e até de amantes, em busca de uma boquinha, de uma nomeação para o novo governo.

Provavelmente, os requisitos mais valorizados para as nomeações não foram currículos com a devida qualificação para os cargos, mas ter vestido uma camiseta amarela, ido às manifestações a favor do golpe de Estado, postado fotos e impulsionado fake news nas redes sociais. Ser seguidor do astrólogo Olavo de Carvalho, acreditar que a terra é plana, ser inimigo da democracia, do que é público e dos direitos civilizatórios.

O fato é que a Esplanada dos Ministérios, em Brasília, e os órgãos federais espalhados por todo o país, hoje parecem ter sido transformados num imenso cabide de empregos, com pessoas nomeadas sem as condições mínimas para o exercício de importantes funções publicas. A começar pelos cargos do primeiro e segundo escalões até os de assistentes e auxiliares.

Informações escapadas das paredes dos ministérios e dos demais órgãos que compõem o governo são assustadoras. O governo está paralisado, não funciona, devido a absoluta incompetência e preconceito ideológico. Pessoas nomeadas cumprem horários de expediente sem produzir absolutamente nada, por não saberem fazer as tarefas elementares para as quais foram nomeadas. Outras, completamente despreparadas, sequer sabem se comportar numa reunião, debater e encaminhar decisões por não dominarem os assuntos da área.

Eis o governo Bolsonaro, montado à sua imagem e semelhança.

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