terça-feira, 7 de maio de 2019

Os loucos neoliberais da retranca, por André Motta Araújo

Desse credo neoliberal nada sobrou, mas neoidiotas nos países emergentes continuam a soprar as brasas dessa loucura.



Banksy

Os loucos neoliberais da retranca

por André Motta Araújo

O neoliberalismo dos anos 70 é um credo econômico limitado cuja lógica se aplicava ao Reino Unido mais que a qualquer outro País, por razões objetivas da economia britânica. A versão americana do neoliberalismo, que se deu concomitantemente ao governo de Margaret Thatcher por seu colega Ronald Reagan, se limitou nos EUA à desregulamentação financeira, abrindo espaço para que bancos comerciais de um Estado pudessem se expandir para outro, o que era, até então, proibido pela Lei Glass-Sreagal.

Também permitiu a criação de conglomerados financeiros, onde sob o mesmo guarda-chuva pudessem operar banco comercial, banco de investimentos, corretoras e seguradoras.

Essa desregulamentação permitiu uma grande onda de fusões, bancos tradicionais como Manufacturers Hanover, Irving Trust, Riggs National, Bank of New York, Mellon National, foram fundidos ou absorvidos, o CItigroup incorporou seguradoras.

A desregulamentação foi a principal causa da mega crise financeira de 2008, só resolvida com recursos públicos do Tesouro dos EUA.

A crise de 2008 foi a lápide no túmulo do neoliberalismo dos anos 70.

Nos EUA nada foi privatizado, ao contrário do Reino Unido, continuaram estatais portos, aeroportos, serviços de água e esgotos, trens de passageiros, usinas hidroelétricas, rodovias.

No Reino Unido o legado do neoliberalismo de Thatcher foi revisto e amaldiçoado, assim como a própria biografia da Dama de Ferro, hoje execrada no Reino Unido.

Desse credo neoliberal nada sobrou, mas neoidiotas nos países emergentes continuam a soprar as brasas dessa loucura. No próprio neoliberalismo dos anos 70 há graduações, há versões com alguma visão social, a pior de todas essas versões e a mais desmoralizada pelos acontecimentos pós 2008 é a chamada “Escola de Chicago”, hoje enterrada nos Estados Unidos, onde escolas de economia da Costa Leste como MIT, Harvard, Yale, John Hopkins tem muito maior prestígio acadêmico.

No Brasil assumiu o comando da política econômica uma “Escola de Chicago versão chilena”, o que há de mais primitivo, tosco, irreal em política econômica.

A REALIDADE DAS CIRCUNSTÂNCIAS

A economia de um grande País é muito mais complexa do que uma cartilha de escola ultrapassada e desmoralizada. E ainda mais uma economia que enfrenta problemas gravíssimos para o equilíbrio social e político, quando metade da população economicamente ativa está paralisada, sem emprego e sem renda. O neoliberalismo não tem solução para essa tragédia, a solução depende de políticas públicas rejeitadas pelos neoliberais.

A absurda ideia de que “com as reformas virá o restabelecimento da confiança”, é ridícula, ninguém investe só em confiança, o investimento requer motivação de existência de mercado e renda para justificar uma nova produção, é algo do mundo real e não do mundo imaginário do “restabelecimento da confiança”.

A falta de políticas públicas começa numa política monetária exclusivamente voltada à preservação do valor da moeda, o que gera uma enorme vantagem aos detentores de moeda, o sistema financeiro e seus clientes rentistas. A política econômica brasileira é conduzida por neoliberais desde 1994 e levou o Brasil a ter taxas de crescimento muito menores do que havia no período 1950-1980. A política do “plano real” foi extraordinariamente benéfica para o sistema financeiro e péssima para a indústria e o emprego, em 1990 a indústria correspondia a 23% do PIB, hoje é de 9% e com isso se liquidaram 10 milhões de empregos.

A ILUSÃO DAS REFORMAS E PRIVATIZAÇÕES

Com o apoio da mídia que hoje depende do sistema financeiro para sua receita de publicidade, a atual equipe econômica vende a ilusão de que após as reformas a economia começará a crescer. É absolutamente falso. Não há nenhuma correlação entre reformas, mesmo necessárias, e crescimento do País.

O Brasil cresceu a taxas espetaculares, chegando a 11,4% em um ano, com alta inflação, finanças públicas desorganizadas, crises cambiais recorrentes. O crescimento vinha de outros fatores, o maior dos quais era o gasto público em obras de infraestrutura. Tenho neste blog previsto a estagnação do crescimento desde 2013, infelizmente as previsões se confirmaram, não haverá crescimento com o rentismo dominante, que não precisa de crescimento.

Os lucros dos bancos vêm crescendo a cada trimestre mesmo com recessão contínua e aguda, os rentistas batem recordes de viagens ao exterior mesmo com a economia interna paralisada, as equações da economia são péssimas e a política atual é para aprofundar as distorções.
AMA

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