quarta-feira, 21 de agosto de 2019

A devastação nacional na cara da burguesia brasileira

A burguesia nacional está assistindo passivamente a devastação das estruturas econômicas nacionais construídas pelo Estado e pelo próprio setor privado. Na medida em que vão se conhecendo os projetos de Donald Trump para o mundo e para a América Latina, é possível medir a extensão dos crimes de lesa pátria que estão sendo cometidos no Brasil

Evidências que viram certezas: há um destruidor de esperanças (Foto: REUTERS/Adriano Machado)

Jose Carlos de Assis
https://www.brasil247.com/

A burguesia nacional - em termos de Bolsonaro, essa burguesia de “merda”- está assistindo passivamente a devastação das estruturas econômicas nacionais construídas pelo Estado e pelo próprio setor privado. Na medida em que vão se conhecendo os projetos de Donald Trump para o mundo e para a América Latina, é possível medir a extensão dos crimes de lesa pátria que estão sendo cometidos no Brasil, por seus parceiros oferecidos Guedes e sua equipe de Chicago boys, radicalizando o iniciado com absoluta eficácia pela Lava Jato.

Viramos um cocô, como diria Bolsonaro, no cenário da guerra geopolítica decretada por Donald Trump contra a Rússia e a China. Como não podem desfechar uma guerra direta contra a Rússia, o grande poder nuclear rival, território dela, a estratégia norte-americana é atrair Moscou para uma guerra ou uma disputa em terceiro país. Enquanto as pessoas riem das patacoadas de Trump, por baixo operam os reordenadores do mundo, que tem, entre outras prioridades, a de submeter completamente a América Latina a suas empresas.

Um dos movimentos estratégicos fundamentais é afastar o Brasil da Rússia e da China, se possível descolando o país do grupo BRICS. Isso tem um embaraço, na medida em que a China é o maior parceiro comercial do Brasil, e a Rússia está atrelada ao BRICS. Sabemos que para Bolsonaro isso não é um empecilho absoluto. Não será difícil rifar os produtores de soja em nome da democratização da China. Já o grupo BRICS pode ser congelado parar derrotar a Rússia. O futuro embaixador nos Estados Unidos poderá cuidar dos detalhes.

A equipe de Trump organiza um sistema de 438 bilhões de dólares para financiar a penetração de empresas norte-americanas na América Latina. No Brasil, onde o projeto avança celeremente, teve a contribuição inestimável da Laja Jato para destruir as principais construtoras brasileiras e limpar o terreno para a entrada das construtoras norte-americanas, que antes tinham que superar as regras de proteção ao trabalho aqui. Foi-se depois a Embraer, a maior empresa de tecnologia do país. Depois a JBS, que praticamente se mudou para os EUA.

Eike Batista, o grande investidor brasileiro, apoiado pelo BNDES, foi destruído: ousou, ele, um reles brasileiro, estar entre as dez maiores fortunas do mundo com investimentos reais espetaculares, como o do Porto do Açu. A lista não para. As tradicionais empresas de cerveja brasileira foram parar numa fração acionária da Ambev. A Petrobrás está sendo destruída. O pré-sal está sendo entregue em nome da “eficiência”, como se a Petrobrás, entre as petrolíferas, não fosse a mais eficiente do mundo em águas profundas.

É preciso ter consciência que isso é um plano de Trump. Seu próximo passo é acabar com as barreiras norte-americanas a investimentos de empresas de telecomunicações fora de sua área para empurrar goela abaixo do país a compra da Time/Life pela AT&T, o maior conglomerado de telecomunicações norte-americano. O passo seguinte é forçar o mesmo passo na América Latina e no Brasil. A AT&T já está de olho em tevês brasileiras. Dá preferência à Globo, mas, se os Marinho não toparem, compram alguma outra à venda para concorrer economicamente com uma Globo discriminada pelo Governo.

Um parênteses: jamais pensei em minha vida que o Brasil pudesse ter um presidente como Bolsonaro ou uma equipe econômica como a de Guedes. Também não imaginava que pudesse, em algum momento, defender a Globo. Sempre fui um crítico de suas manipulações jornalísticas. Pois estou com ela agora. Será uma tragédia que uma empresa de telecomunicações norte-americana comprasse até mesmo nossas máquinas de fazer sonhos. Por outro lado, espero que a Globo se conscientize desse risco, mas sobretudo da necessidade de recorrer ao nacionalismo para defender o povo e a si mesma.



Economista, doutor em Engenharia de Produção pela Coppe-UFRJ, professor de Economia Internacional da UEPB

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