Por Luis Nassif
Vamos a algumas hipóteses sobre a operação de compra privada de vacinas da Astra Zeneca.
Como se recorda, o preço da vacina da Astra Zeneca é de US$ 5,00 para governos. A operação envolvendo o setor privado falava em US$ 23,00. Logo, há um botim de US$ 594 milhões em jogo.
Fatos
1. Foi planejada com pleno conhecimento de Paulo Guedes e Jair Bolsonaro. Há declarações públicas de ambos.
3. A Astra Zeneca negou a venda, afirmando que não negocia com particulares.
4. Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias de São Paulo, e Fábio Spina, da Gerdau, tiveram participação direta na operação.
5. Segundo coluna de Lauro Jardim, em O Globo, o ponto de contato com Bolsonaro foi Flávio, o representante comercial da família.
Em cima de uma narrativa defensável – o setor privado ajudando o país -, os organizadores conseguiram envolver um sem-número de empresas e de organizações sérias. As que perceberam mais cedo a jogada pularam fora. As que se mantiveram terão que se explicar futuramente às autoridades, pois certamente a jogada será alvo de investigações.
Teoria dos fatos
O grande mistério em questão é: com, quem ficariam os US$ 594 milhões que seriam pagos a mais, em relação aos preços privados (a diferença entre 33 milhões de doses a US$ 5,00 e a US$ 23)?
Há duas hipóteses em jogo para saber com quem ficariam .
Hipótese 1 – para a Astra Zeneca.
Essa hipótese está descartada. A Astra Zeneca negou peremptoriamente qualquer envolvimento com a operação e qualquer possibilidade de venda para o setor privado. Nessa hipótese, então, os organizadores pagariam US$ 5,00 para a Astra Zeneca e receberiam US$ 23,00 das empresas patrocinadoras. Mas como comprariam, se a Astra Zeneca não vende para o setor privado?
Hipótese 2 – para quem organizou a operação.
Se não havia a hipótese da Astra Zeneca vender por fora, e se o comunicado de Paulo Guedes e Bolsonaro era taxativo, tanto em relação ao número de doses quanto ao preço, alguém ficaria com a diferença. Se não era a Astra Zeneca, obviamente seriam os organizadores. Mais ainda: de onde sairiam as 33 milhões de vacinas? Não há hipótese do governo ter avalizado uma operação com tal riqueza de detalhes – preço e quantidade – sem a garantia segura sobre onde obter as doses.
Nesse caso, só existem duas possibilidades:
1. Sairiam da Black Rock.
O peixe vendido pelos organizadores era o de que fundos haviam financiado as pesquisas e receberiam, como retorno, doses de vacinas a serem negociados no mercado. O comunicado oficial do governo brasileiro, inclusive, teve como um dos destinatários o fundo Black Rock detentor de 8% do capital da empresa. Depois que o escândalo estourou, o fundo negou participação no negócio. Mas não pode se afastar a hipótese de algum executivo envolvido na patranha. Caberá ao compliance do fundo apurar as responsabilidade. Mesmo assim, não haverá como isentar Bolsonaro, Guedes, e a Controladoria Geral da União e a Advocacia Geral da União, que deram aval para a jogada.
2. Sairiam das encomendas do governo brasileiro.
Da cota do Brasil com a Astra Zeneca, 33 milhões seriam desviadas para a operação. Como metade seria doada para o SUS, 16,5 milhões seriam desviados para o setor privado.Os organizadores reembolsariam US$ 165 milhões para o SUS – referente aos US$ 5 dólares por vacina – e embolsariam US$ 594.
Em qualquer hipótese, é um escândalo formidável, que certamente não terá como não ser investigado.
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