quinta-feira, 10 de março de 2022

Lula e as posições da esquerda no Brasil

Fontes: Rebelión [Imagem: Lula sempre soube estar muito próximo do povo. Créditos: Ricardo Stuckert]


Neste artigo, o autor sustenta que Lula é a força unificadora da esquerda, tanto no presente quanto no passado, durante os governos petistas.

O PT é um partido de esquerda, o partido de esquerda mais forte que o Brasil já teve, o único partido verdadeiramente nacional hoje, com grandes projeções na América Latina e no mundo.

Sempre houve debates no PT entre diferentes posições, daí a novidade democrática do partido que contém a presença de diferentes correntes dentro dele.

Os debates ocorreram em todos os momentos da história do PT, praticamente desde sua fundação, inclusive sobre o caráter que o novo partido deveria ter. Os debates nem sempre deixam claras lições para a trajetória do partido.

Foi na contramão que o PT vinha tomando, com seu programa voltado para as eleições, que Lula promoveu uma reviravolta em 2002, que permitiu ao partido conquistar pela primeira vez a presidência da República. O partido manteve seu patamar histórico de pouco mais de 30% das preferências nas pesquisas, com o favoritismo de Ciro Gomes e a disputa com José Serra.

Quando Serra, diante do risco de ficar de fora do segundo turno, jogou tudo para tirar o favoritismo de Ciro Gomes, boa parte daquele eleitorado ficou disponível para disputar entre PT e Tucanos. Serra teve dificuldades, devido à erosão do governo FHC, cuja continuidade ele representou diretamente. Lula partiu para conquistar esses votos com a Carta aos Brasileiros e a projeção da imagem de "Lulinha paz e amor".

Lula entre dois assessores durante o debate eleitoral que os Bandeirantes promoveram em seu canal de televisão. Créditos: Folha de São Paulo

A combinação desses dois instrumentos foi o que levou Lula à vitória no segundo turno, quando saltou de 30% para 50%. Lula apreendeu não apenas as condições para a vitória, mas também o caminho para combater o neoliberalismo.

Começou seu governo com um pequeno ajuste fiscal, para que tivesse recursos para implementar a grande chave do sucesso dos governos petistas: a centralidade das políticas sociais. Resgatou o papel ativo do Estado para induzir a retomada do crescimento econômico e implementar uma política externa soberana ativa, priorizando os processos de integração regional e não o Acordo de Livre Comércio com os Estados Unidos. Tudo isso mantendo o equilíbrio das contas públicas e controlando a inflação.

Esse esquema de governo não só permitiu que Lula vencesse, mas também governasse, mesmo em meio a uma dura ofensiva da direita e da mídia, levando o Brasil a ter os governos mais virtuosos de sua história. A economia voltou a crescer, com políticas de distribuição de renda, com ampliação do mercado interno de consumo popular e enfrentamento das desigualdades sociais e regionais. Para tanto, Lula organizou as alianças políticas que, sob a hegemonia das políticas do PT, levaram o governo a ter força política e parlamentar para governar com sucesso o Brasil. A esquerda nunca esteve tão forte e alcançou hegemonia no país, como quando Lula concluiu seu segundo mandato, com 87% de apoio.

Uma esquerda que permitiu ao PT ter a façanha de vencer quatro eleições presidenciais consecutivas, democraticamente, respeitando os mecanismos republicanos, convivendo com a dura oposição da mídia e do judiciário. Porque Lula havia encontrado os meios para a esquerda ser hegemônica no país, mesmo sem ser maioria no voto popular e no Congresso.

O PT liderou as forças democráticas e populares para governar o país, mesmo em meio ao domínio global do modelo neoliberal. Apoiado no que caracteriza as posições da esquerda, no PT e em outros partidos: ser frontalmente antineoliberal, resgatar o papel ativo do Estado e colocar em prática uma política externa soberana.

Essas são as posições que continuam a caracterizar a esquerda, liderada por Lula. Ele entendeu que, para voltar a colocar em prática essas posições, a derrota do bolsonarismo é uma condição, para a qual é fundamental ter um amplo quadro de alianças políticas, tanto para vencer as eleições quanto para poder governar.

Os debates internos do PT são sempre saudáveis, levantam as alternativas e forçam a esclarecer as razões das posições assumidas pelo partido. Sob a liderança de Lula e da presidente do partido, Gleisi Hoffman, o partido se mostrou à altura dos maiores desafios que o país enfrentou: sair dos desastres que a direita brasileira trouxe ao país com este governo, devolvê-lo à democracia, uma política de justiça social e a reconquista de posições de prestígio para o Brasil no mundo.

Ainda faltam muitas definições programáticas, das quais o PT já traçou o norte: fim do teto de gastos, recuperação do Estado das empresas privatizadas, reforma fiscal para dotar o Estado de recursos para enfrentar a superação do caos atual no país, entre outras iniciativas. É preciso aproveitar os meses entre agora e as eleições para traçar com mais precisão o programa com que o PT, se vitorioso, pretende governar novamente o Brasil.

A liderança de Lula, aberta às posições de todos os setores dispostos a lutar contra o bolsonarismo, permite ao PT enfrentar esses desafios. Há tarefas pendentes, para chegar, em menos de 7 meses, em condições de – quem sabe, até – vencer no primeiro turno, virar essa página horrível da história do Brasil e recuperar o país, sua imagem no mundo e seu orgulho, ser brasileiro.

Rebelión publicou este artigo com a permissão do autor através de uma licença Creative Commons , respeitando sua liberdade de publicá-lo em outras fontes.

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