sexta-feira, 20 de outubro de 2023

O calcanhar de Aquiles da propaganda – Julian Assange, Nick Cohen e Russell Brand



Media Lens [*]

Na segunda década do século XXI, depois de muita conversa oca sobre "governo do povo, pelo povo, para o povo", descobriu-se que as pessoas não eram sequer capazes de regular o seu próprio consumo dos media. Computadores enormes e artificialmente inteligentes revelaram que, 49,5% da população estava a afogar-se num mar de "pós-verdade" e "desinformação" e outros 49,5% estavam em "bolhas" contendo apenas ar quente. Isso deixou apenas 1% para lutar contra esta crise.

Grandes corporações dos media recrutaram "especialistas em desinformação" – guardiões qualificados para distinguir entre jornalismo racional e propaganda. Seus poderes são tais que, trabalham dentro dos meios de comunicação propriedade de multimilionários, maximizando o lucro, dependentes de anunciantes e subsidiados pelo governo, expondo "desinformação" sem o menor traço de preconceito. Executivos, diretores de departamentos de publicidade e outros desprezam os que contam a verdade, seguram suas línguas, sem respeito pela sua nobre causa.

Em toda a infindável tagarelice acerca de "desinformação", muito pouco se vê sobre o calcanhar de Aquiles do jornalismo de propaganda, enraizado no facto que tem objetivos fundamentalmente diferentes do jornalismo racional. Os objetivos do jornalismo racional são honestidade, rigor, completude e clareza. O jornalismo racional apresentará a explicação dos governos dos EUA e do Reino Unido (RU) pela qual invadiram o Iraque, mas apresentará fontes honestas e confiáveis, desafiando essa explicação.

Esta pretensão do jornalismo racional e honesto não é uma pretensão do jornalismo dito objetivo. O julgamento sobre que indivíduos e organizações são honestos e confiáveis é subjetivo. Podemos dizer que estamos escolhendo fontes confiáveis com base em evidências racionais e testáveis, mas o pensamento racional é um fenómeno subjetivo que ocorre na cabeça humana – não é objetivo.

O jornalismo racional exige que façamos o nosso papel como leitores e telespectadores honestos e racionais, verificando as afirmações e formando as nossas próprias opiniões subjetivas. Não podemos aceitar os argumentos de jornalistas supostamente honestos e subjetivos como verdade – temos que fazer o trabalho sozinhos.

Os objetivos do jornalismo de propaganda são diferentes: ele visa levar leitores e telespectadores a uma determinada conclusão. Nesse caso, honestidade, precisão e clareza estão subordinadas às necessidades de persuasão. Quanto ao rigor, porque trabalha de acordo com os objetivos da propaganda, não é somente omitido: é uma ameaça a ser atacada.

Então, podemos distinguir o jornalismo racional da mera propaganda. O grande calcanhar de Aquiles do jornalismo de propaganda é que:

- Combina uma análise detalhada dos factos com enormes e "inexplicáveis" lacunas. O propagandista recolherá todos os minúsculos detalhes em favor da conclusão necessária, mas – como se fosse deficiente mental – "falhará" em notar lacunas do tamanho de “elefantes”, desde que se afastem das conclusões desejadas. O objetivo é apresentar uma visão a preto e branco do mundo, sem margem para dúvidas.

- Encontrará motivos para atacar qualquer um que sugira que a versão filtrada e a preto e branco, está incompleta. Qualquer jornalista racional interessado na completude, será atacado como um "apologista", um "traidor", um personagem do tipo "Lord Haw-Haw" (propagandista nazi) minando a saúde moral e intelectual da nação com "desinformação". Quaisquer outros jornalistas racionais que procurem responder às alegações de "traição" serão também acusados de "traição". É um círculo de lógica fechado – porque para o propagandista, a vitória é tudo o que importa, o florescimento do debate racional é simultaneamente uma ameaça e uma derrota.

Nils Melzer – 'Fiquei cego pela propaganda'

Em 2019, enquanto trabalhava como Relator Especial da ONU sobre Tortura, Nils Melzer – um profissional altamente experiente no campo do direito internacional, catedrático de Direito Internacional Humanitário na Academia de Direito Internacional Humanitário e Direitos Humanos de Genebra, agora Diretor de Direito, Política e Diplomacia do Comité Internacional da Cruz Vermelha – comentou sobre Julian Assange:

" Pensei: certamente Assange deve ser um violador! Mas o que descobri é que ele nunca foi acusado de crime sexual. É verdade que, logo após os Estados Unidos terem encorajado aliados a encontrar razões para processar Assange, a procuradoria sueca informou a imprensa tabloide que ele era suspeito de ter violado duas mulheres. Estranhamente, no entanto, as próprias mulheres nunca alegaram terem sido violadas, nem pretendiam denunciar um crime. Além disso, o exame forense de um preservativo apresentado como prova, supostamente usado e rasgado durante a relação sexual com Assange, não revelou nenhum DNA – nem dele, nem dela, nem de ninguém. Uma mulher chegou a mandar uma mensagem dizendo que só queria que Assange fizesse um teste de HIV, mas a polícia só estava "interessada em colocar as mãos nele".

Melzer acrescentou:

"No final, finalmente percebi que a propaganda tinha-me cegado e que Assange fora sistematicamente caluniado para desviar a atenção dos crimes que expôs. Uma vez desumanizado através do isolamento, do ridículo e da vergonha, tal como as bruxas queimadas na fogueira, era fácil privá-lo dos seus direitos mais fundamentais sem provocar indignação pública. Assim, foi criado um precedente legal, pela porta dos fundos da nossa própria complacência, que no futuro pode e será aplicado igualmente às divulgações de The Guardian, do New York Times e da ABC News".

Melzer, claramente uma fonte impecável sobre essas questões, ofereceu este artigo de opinião ao Guardian, The Times, Financial Times, Sydney Morning Herald, Australian, Canberra Times, Telegraph, New York Times, Washington Post, Thomson Reuters Foundation e Newsweek. Resultado: "Nenhum respondeu positivamente".

Por que não? Porque Melzer estava lidando com The Medium, um sistema de propaganda estatal-corporativo que precisava que o caso Assange fosse apresentado em termos preto e branco para neutralizar o apoio público e "privá-lo de seus direitos mais fundamentais sem provocar indignação pública”.

Esta exigência de propaganda é tão importante, tão incansavelmente prosseguida, que muitos propagandistas estatais-corporativos – pessoas que genuinamente imaginam que são jornalistas racionais – sentem verdadeira repulsa por qualquer pessoa que desafie a narrativa oficial. Como descobrimos, embora nenhuma acusação tenha sido feita contra Assange e embora ele não tenha sido condenado por nenhum crime, promover a verdade contestando as várias alegações basta para ser rotulado de "apologista da violação".

Independentemente da veracidade das alegações feitas contra Assange, o próprio facto de o jornalismo especializado e racional que busca o rigor ser não só ignorado, como bloqueado, foi o calcanhar de Aquiles indicando que Assange era de facto alvo de uma guerra de propaganda estatal-corporativa. Isto significava que, quaisquer que fossem as alegações contra Assange, os media já eram culpados de uma profunda subversão da democracia, do debate civilizado e da liberdade, porque estavam agindo como agentes do Estado, não como fonte imparcial de informação. Tratando a própria população como um inimigo a ser controlado e manipulado.

Resumindo: quando detalhes meticulosos são misturados com lacunas do tamanho de elefantes, e quando o interesse pelo rigor é denunciado como "traição", ou "imoralidade" de algum tipo, fica demonstrada a guerra da propaganda.

'Bla, bla, bla!' Os media colocam os dedos nos ouvidos

Em junho, fomos um dos poucos veículos que apoiaram mulheres expondo os abusos sexuais do ex-colunista do Observer Nick Cohen, num artigo de primeira página publicado pelo New York Times. Sete mulheres disseram ao NYT que Cohen "as apalpou ou fez outros avanços sexuais indesejados ao longo de quase duas décadas. Quatro insistiram no anonimato, temendo repercussões profissionais. Em todos os casos, o NYT reviu documentos e corroborou os seus relatos. Ele não foi julgado pelos media – ao relatório do NYT seguiu-se uma investigação interna do Guardian News, após a qual Cohen deixou o Observer.

O contraste com a reação dos media às alegações de Assange dificilmente poderia ser mais perturbador. A reportagem do NYT sobre Cohen foi publicada em 30 de maio. Nossa pesquisa no banco de dados de media ProQuest em 15 de junho quanto a menções em jornais do RU após 29 de maio, deu os seguintes resultados: 'Nick Cohen’, 9 menções, total desinteresse de toda a imprensa britânica. A história foi simplesmente enterrada e não foi coberta nem pelo Guardian nem pela BBC.

Fomos um dos poucos veículos a citar a sobrevivente de abuso sexual Lucy Siegle:

Em 2018, a jornalista independente e repórter da BBC, escreveu uma coluna no Observer sobre vida ética e lançou os Prémios Éticos do jornal, denunciou Cohen ao Guardian por a ter apalpado na redação, mas "nada tinha acontecido". Siegle descreveu a sua reunião de 1 de fevereiro de 2018, com a administração do Guardian, como "agressiva", no qual ela se sentiu "encurralada": "basicamente eles passaram metade do tempo tentando diminuir o que eu estava dizendo e depois a outra metade do tempo colocando os dedos nos ouvidos e mostrando indiferença".

'Bla, bla, bla', resume bem a reação de todo o meio estatal-corporativo ao escândalo. Compare-se agora com a resposta às acusações contra o comediante e comentarista político dissidente Russell Brand, acusado por uma mulher de estupro e de abuso sexual por outras três mulheres. A Polícia informou posteriormente que também recebeu uma "série de alegações de crimes sexuais". A Rede Socialista Mundial (WSWS) comentou:

"A resposta histérica à história de Brand nos media, como o Guardian e outros jornais nominalmente "liberais", mina princípios legais e democráticos básicos. Preventivamente, julgou Brand culpado, tornando-o um pária e colocando em risco qualquer chance de um julgamento justo se isso estivesse nos planos no futuro…” "Os direitos legais e democráticos devem ser defendidos para pôr fim à situação em que figuras públicas e artistas podem ser derrubados apenas por alegações e boatos com intenção maliciosa. Não deveria ser necessário explicar o enorme poder que isso dá àqueles com mais influência nos media e na política, e a injustiça que pode ser forjada".

De facto, qualquer um que tenha acompanhado o caso Assange terá ficado alarmado quando o ministro das Relações Exteriores, James Cleverly, comentou publicamente as alegações contra Brand:

"Temos de ter um cuidado especial quando ouvimos as vozes das pessoas que são relativamente impotentes. Porque nós, coletivamente perdemos oportunidades de fazer a coisa certa e intervir muito antes".

Isso, é claro, implicou fortemente a culpa de Brand, ajudando a dar o tom para o julgamento subsequente pelos media. Poder-se-ia, é claro, perguntar por que um político tão graduado do Ministério das Relações Exteriores responsável pelas relações britânicas com países e governos estrangeiros estava a manifestar-se sobre alegações direcionadas a um ator britânico. Afinal, o ministro das Relações Exteriores do Reino Unido não comentou o escândalo sexual de Cohen.

Dame Caroline Dinenage, presidente do comité de media na Câmara dos Comuns, escreveu à plataforma de media Rumble:

"Ficaríamos gratos se pudessem confirmar se o Sr. Brand é capaz de monetizar seu conteúdo, incluindo os vídeos relacionados com as graves acusações contra ele. Se assim for, gostaríamos de saber se o Rumble pretende juntar-se ao YouTube para suspender a capacidade do Sr. Brand ganhar dinheiro na plataforma".

Para seu crédito, Rumble respondeu:

"Hoje, recebemos uma carta profundamente perturbadora de um presidente de comissão no Parlamento do RU (…) "Consideramos profundamente inapropriado e perigoso que o Parlamento tente controlar quem tem permissão para falar na nossa plataforma ou ganhar a vida com isso. Destacar um indivíduo e exigir o seu banimento é ainda mais perturbador dada a ausência de qualquer conexão entre as alegações e conteúdo no Rumble.” "Embora possa ser política e socialmente mais fácil o Rumble juntar-se a uma turba de cultura do cancelamento, fazê-lo seria uma violação dos valores e da missão da nossa empresa. Rejeitamos enfaticamente as exigências do Parlamento do RU".

Sobre uma carta que enviou a Dinenage, o jornalista americano Glenn Greenwald perguntou: "Desde quando as autoridades políticas ocidentais têm o poder de impor punições extra legais a pessoas por supostos crimes dos quais nunca foram acusadas? O que dá às autoridades dos EUA e do RU o direito de exigir que as empresas removam ou desmonetizem os seus sites?"

Nenhum ministro do governo escreveu ao Guardian Media Group exigindo a desmonetização dos artigos de Cohen. A BBC e o Guardian, que nem sequer noticiaram o escândalo Cohen, esbanjaram cobertura em dezenas de notícias comentando as acusações contra Brand.

Mais uma vez, o calcanhar de Aquiles da propaganda é claramente visível: alegações meticulosas com lacunas espantosas – por exemplo, o facto de o governo aplicar enorme pressão para silenciar Brand, embora ele não tenha sido acusado e muito menos condenado por nenhum crime – enquanto jornalistas racionais que buscam rigor são apontados como "apologistas do estupro", exatamente como foram no caso Assange.

Os críticos argumentaram que sugerir que Brand está sendo alvo de uma guerra de propaganda é descartar as alegações das mulheres como invenções de propaganda. Isso não se segue de forma alguma. É bem possível, por exemplo, que as afirmações sejam verdadeiras e usadas por forças sem escrúpulos para silenciar Brand.

Os críticos também perguntaram por que não comentamos sobre a plausibilidade das alegações das mulheres – como podemos duvidar das alegações de quatro mulheres falando de forma independente? O caso Assange, e especialmente a análise especializada de Nils Melzer sobre esse caso, convencem-nos que é absurdo que pessoas como nós – e pessoas que julgam instantaneamente nas redes sociais – representem uma opinião informada sobre questões jurídicas complexas com base em reportagens e comentários dos media.

Brand é de esquerda?

Como sempre, nada é permitido desde que interfira na versão obrigatória, a preto e branco, dos acontecimentos. A cobertura para a guerra de propaganda foi fornecida pela afirmação que Brand não é alvo de uma guerra ao estilo Assange ou Corbyn porque ele não é um dissidente de esquerda.

Quer chamemos Brand de "esquerdista" ou não, o facto é que, na última década, fez muito para desafiar e ofender o poder estatal-corporativo. Entrevistou pessoas de esquerda radicais como Cornel West, Noam Chomsky e Aaron Maté. Ele apoiou Corbyn e Assange por muito tempo e, nos últimos dois anos, entrevistou Max Blumenthal, Edward Snowden, Chris Hedges, Glenn Greenwald, Matt Taibbi, Jimmy Dore, Joel Bakan, Helena Norberg-Hodge, Vandana Shiva e muitos outros. Este é um trabalho importante dando voz a pessoas de esquerda e ambientalistas que são completamente ignorados pelos media corporativos, quando não estão sendo caluniados e abusados.

Brand sempre desafiou a narrativa oficial sobre a guerra da Ucrânia. No YouTube, em fevereiro passado, conduziu a primeira entrevista dada pelo jornalista de investigação Seymour Hersh depois de este ter publicado a afirmação condenatória que os EUA estavam por trás dos ataques terroristas do Nord Stream 2 na Europa.

Como documentámos, as alegações de Hersh foram ignoradas ou, na melhor das hipóteses, ridicularizadas no Guardian, BBC e The Times como parte de outra supressão da dissidência. Aplique o rótulo que quiser, o facto de Brand ter realizado esta primeira entrevista com Hersh no YouTube, de ter 6,6 milhões de inscritos no YouTube e do vídeo ter sido visto 855 mil vezes, foi uma contribuição séria para a dissidência anti-guerra.

Só a entrevista de Hersh e o facto de Brand estar consistentemente alcançando um grande público com sua dissidência – o ex-jornalista do Guardian, Jonathan Cook argumenta que "ele é possivelmente o mais influente crítico do capitalismo em língua inglesa" – significa que Brand certamente será alvo do sistema de propaganda estatal-corporativa que destruiu o projeto político de Corbyn, e a reputação de Assange, pelas mesmas razões.

De facto, como discutimos na época, Brand já havia sido submetido a um lixo mediático ao estilo Corbyn uma década antes, envolvendo grandes nomes pró-guerra como David Aaronovitch, então do The Times, e Nick Cohen. O livro de 2014 de Brand, Revolution, descrito como "anticapitalista", vendeu 22 mil cópias nos primeiros 11 dias e citou nomes como Noam Chomsky e David Graeber. Tornou-se alvo devido a comentários como:

"Hoje a humanidade enfrenta uma escolha difícil: salvar o planeta e abandonar o capitalismo, ou salvar o capitalismo e abandonar o planeta". "Os ocupantes do ónibus [da elite] são tão draconianos na defesa da sua economia que decidiram abandonar o planeta." (Brand, Revolution, Century, 2014, ebook, p.345)

A realidade é que "vivemos sob uma tirania". (p.550) Os EUA, em particular, "agem como um exército que faz valer os interesses comerciais das corporações das quais é aliado". (p.493) Brand observou que 70% da imprensa do RU é controlada por três empresas, 90% da imprensa dos EUA por seis, e "o 1% mais rico dos britânicos possui tanto quanto os 55% mais pobres". (pág. 34)

Sobre as possibilidades de mudança radical, Brand escreveu:

“Lembrem-se, as pessoas que escrevem isto não podem funcionar no governo, Fox News, MSNBC, em artigos de opinião do Guardian ou no Spectator, ou onde quer que haja gente pessoalmente interessada em que as coisas permaneçam na mesma." (pg. 514)

Qualquer um que tenha lido Manufacturing Consent, de Edward Herman e Noam Chomsky, saberá que os dissidentes que atingem um público massivo com mensagens deste tipo estarão sujeitos a intensos e crescentes ataques dos media corporativos. Brand não precisa ser tão radical quanto Assange ou tão politicamente influente quanto Corbyn, para se qualificar. Mesmo dissidentes académicos britânicos relativamente discretos como Piers Robinson, Tim Hayward e David Miller foram alvo de difamações de propaganda destinadas a silenciá-los. O facto de Brand ter entrevistado recentemente nomes como o direitista Ben Shapiro não anula o seu histórico de dissidências de esquerda. Aliás, o título do vídeo dessa entrevista é: "Russell Brand e Ben Shapiro "Respeitosamente Discordando".

Conclusão

O descrédito e o silenciamento de dissidentes influentes e anti-guerra é um assunto extremamente sério. Em maio, o projeto Costs of War, sediado na Universidade Brown, nos Estados Unidos, estimou que o número total de mortos nas guerras pós-9/11 – incluindo Afeganistão, Paquistão, Iraque, Síria e Iêmen – poderia ser de pelo menos 4,5 a 4,7 milhões. Os autores do relatório comentaram:

Uma pesquisa de 2018 com refugiados sírios, afegãos e iraquianos mostrou que mais de 60% estavam traumatizados por experiências de guerra, incluindo ataques de forças militares, lidar com o assassinato ou desaparecimento de parentes, viver tortura e confinamento solitário, testemunhar assassinatos, abusos e violência sexual. Mais de 6% teriam sido violadas".

Há boas razões para acreditar que a intensidade dos protestos anti-guerra em 2002-2003 – com importante impacto na carreira política de Tony Blair – tornou muito mais difícil para o governo do RU e partidos da oposição apoiarem a guerra planeada por Obama na Síria em 2013. Consequentemente, sem o apoio britânico, essa declaração de guerra formal e completa dos EUA não aconteceu.

Isto não significa que as vozes anti-guerra devam receber um tratamento benevolente; significa que as alegações e contra-alegações, devem ser submetidas a um escrutínio cuidadoso de uma forma fundamentalmente racional e justa.

Se basta o julgamento dos media num tribunal de opinião pública, distorcido por uma propaganda avassaladora para silenciar as vozes anti-guerra que procuram conter a desenfreada máquina de guerra dos EUA-RU, então isso simplesmente, é mau.

11/Outubro/2023

[*] Observatório britânico dos media e da desinformação que propalam.
Este artigo encontra-se em resistir.info

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