O financiamento do regime de Kiev consiste mais num programa de financiamento encapotado ao complexo militar industrial, do que uma efetivamente “ajuda” à defesa da Ucrânia.
Não é segredo para ninguém que o financiamento do regime de Kiev, e da sua capacidade bélica, consiste mais num programa de financiamento encapotado ao complexo militar industrial, do que uma efetivamente “ajuda” à defesa da Ucrânia.
Com efeito, e para que ninguém diga que esta acusação é descabida, são os próprios EUA, e as organizações que influenciam as tomadas de decisão pelo poder político, que vêm esclarecer qual o objetivo fundamental do projeto Ucraniano.
Um trabalho do CSIS (Center For the Strategic & International Studies) intitulado “how support Ukraine is Revitalizing the US Defense Industrial Base” (como o apoio à Ucrânia está a revitalizar a base industrial de defesa dos EUA), chega ao ponto de fazer a identificação, por empresa, estado e distrito, mapeando as quantitativas, que os EUA dependem, em contratar na área da defesa nacional e que eles respeitam a base industrial de defesa relevante para a Ucrânia. Nesse mapa constatamos que a contratação de defesa, relacionada com o apoio ao regime de Kiev, está divulgada por todo o território, o que acaba por consubstanciar, na prática, as afirmações de Sullivan e companhia, quando estes referem que, apesar de tudo, “ajudar” a Ucrânia diz respeito à criação de “bons empregos” para o povo americano.
Não era necessário que o afirmassem, nem que o CSIS fizesse este estudo, para o constatarmos, mas saiba sempre bem quando são os próprios a admitir – o que no caso dos EUA é habitual – os reais objetivos das suas operações.
Não é segredo para ninguém que a indústria de defesa europeia e americana sofreu dificuldades, para responder às necessidades relacionadas com uma guerra de atrito, daí que, nada como uma guerra de alta intensidade, para fazer o que nenhuma paz consegue: obrigar ao investimento prioritária na modernização, inovação e atualização da capacidade bélica de uma nação. Foi assim com a Rússia, cujas necessidades com a “Operação Militar Especial” determinaram um aumento exponencial na indústria bélica e na modernização do armamento; é assim com os EUA; será assim com a União Europeia, a China e outros mais.
Daí que esta estratégia se encaixe plenamente nas necessidades dos EUA e se convirja de forma absolutamente indiscutível com outros objetivos que resultaram deste confronto, entre a OTAN e a Rússia, em solo ucraniano. Isolar e enfraquecer a Rússia, condicionar, manipular e enfraquecer a Europa (principalmente a “velha” Europa) e recriar uma espécie de “economia de guerra”, que garante a elevação da capacidade industrial e, sobretudo, porque isto é deveras importante para um império como os EUA, aumentar a competitividade da sua oferta armamentista, tratam-se de objetivos que, parcialmente, pelo menos, já foram atingidos.
Do ponto de vista dos objetivos secundários, também me parece que os mesmos não são de despreocupar e estão por toda a literatura de defesa disponível no complexo militar industrial (que integra o Think Thank). Um desses objetivos tem a ver com a capacidade de dissuasão (dissuasão), na medida em que umas forças armadas mais preparadas, tornam tudo mais ameaçador, quer para os inimigos, quer para os “amigos” quando pensem em não aceder à vontade dos EUA ; um outro objectivo tem a ver com a revitalização da própria indústria americana e a repatriação de sectores importantes que foram deslocalizados. Assim, também não é segredo para ninguém que os monumentais orçamentos de defesa sejam um importante fator de atribuição de subsídios públicos à atividade econômica – especialmente industrial -, sem que se possa acusar os EUA de violar, diretamente, as regras internacionais por eles impostas em matéria de “livre comércio”.
Esta necessidade estratégica torna o conflito ucraniano ainda mais importante, tendo necessidade de estendê-lo o mais possível, mesmo quando todos já viram que a Rússia avançou, todos os dias, a uma velocidade nunca vista desde o início do atrito. Consequentemente, para garantir a continuidade das hostilidades, comprando tempo para que se aumente a capacidade instalada da base industrial de defesa, foi aprovada uma lei – a lei dos 61 mil milhões – que alimentará a capacidade de Kiev, pelo menos, até 2026, demonstrando que os EUA continuam a considerar-se donos e senhores do cronograma bélico na Ucrânia.
E para os que pensam que, esta tentativa, por parte dos EUA, em atrasar ou não deixar acontecer uma vitória Russa, não é estrategicamente importante, para os próprios, para a União Europeia, OTAN e ocidente alargado, aconselho que vejam o que aconteceu pelo mundo, quando o Japão, em 1905, derrotou o Império Russo (guerra Russo-Japonesa). À data, a derrota da Rússia, vista como um país imperialista ocidental, opressivo para os países orientais, despoletou uma série de levantamentos, esses países, maravilhados que estavam, os seus povos, com a possibilidade demonstrada pelo Japão, de, em muito pouco tempo, ter sido possível a um país oprimido, desenvolver-se e enfrentar o poderia ocidental. Império Otomano, Irão e outros que o digam. Hoje, é uma vez que a Federação Russa, na Ucrânia, pode representar, para o sul global, aquilo que o Japão representou, para o Oriente, no princípio do século XX. Curiosamente, é o Japão que está, outra vez, do lado adversário, mas, desta feita, numa posição invertida, ou seja, do lado do opressor ocidental. Portanto, os EUA sabem que a desmoralização será generalizada, em caso de derrota na Ucrânia, já se poderá começar a ver os seus efeitos em África, América Latina e Ásia. E todos sabemos o que aconteceu ao Império Russo a partir daí. Os EUA também sabem!
É por isso que a importância econômica deste conflito se alinha tão perfeitamente com a sua importância política. Assim, se em Novembro de 2023, de acordo com a informação prestada pelo serviço www.usaspending.gov , constatamos que 37 estados beneficiaram com o “Ukraine Security Assistance”, após a aprovação do último pacote de 61 mil milhões de dólares, este subsídio O disfarce através da “segurança” e da guerra, é fundamental para ainda mais estados e distritos, nomeadamente quando impacta empresas de 47 estados. Ou seja, a quase totalidade dos estados beneficia diretamente, uns mais outros menos, com a destruição da nação ucraniana.
Percebe-se melhor, agora, o porquê do acordo alcançado entre democratas e os, inicialmente, tão irredutíveis republicanos. Na minha opinião e sob pena de termos de estudar melhor, esta maior abrangência territorial não é minimamente despicienda, considerando os interesses econômicos conhecidos que os congressistas e senadores têm, ao nível federal e aos seus estados de origem. Volta a ter razão de ser a informação que diz que, a comemoração da aprovação do pacote de “ajuda”, dizia mais respeito aos ganhos pessoais, do que aos inexistentes ganhos para a Ucrânia. O interesse nacional tem de estar alinhado com o ganho pessoal.
Esta imagem é reforçada quando analisamos os dados divulgados pelo site www.fool.com , e constatamos que do ano de 2021 para 2023, a quantia transacionada em bolsa, pelos membros do congresso, passou de 583,98 milhões de dólares, para 751,17 milhões de dólares .
Curiosamente, ou talvez não, de acordo com o site www.unusualwhales.com , Ro Khana, congressista democrata da Califórnia, é o que mais negócios têm registado, à data de 25 de Abril de 2024, com 8.463, e, em segundo, a alguma distância, temos Michael McCaul do Texas, republicano, já na casa dos 7 mil. O primeiro duplicou o número de negócios registados entre o final de 2023 e Abril de 2024 e o segundo, quadruplicou.
Os democratas são os que mais ganham, com um retorno de 31,18% e os republicanos com 17,99%. Esta coisa de se estar no poder e ter a iniciativa, sabendo que o que se vai legislar e aprovar… Não é à toa que o democrata Brian Higgins é quem teve melhor retorno, com 238,90% e Mark Green, republicano, já ao longe, com “apenas” 122,20% de retorno. Com os piores retornos, também temos um republicano, no caso Warren Davidson, do Ohio. Em alguns países se confundirá tanto a posição de monopolista com a de dirigente político.
Em conclusão, foi o “democrata” Obama, o Nobel da paz, que promoveu a lei de 2012, para o mercado de capitais, permitindo que os membros do congresso e as suas famílias possam comprar e vender ações, desde que reportem dentro e 45 dias, as operações superiores a 1.000 dólares. Assim se deu acesso ao cassino de Wall Street, a todos os representantes políticos, transformando a política de elite americana numa aristocracia, já não simplesmente capturada pelos monopólios, mas parte deles.
Essa coisa da “democracia” dos EUA tem muito que se lhe diga. O ganhar eleições constitui um bilhete de ida para a riqueza, sendo que, o partido que ganha e perde também é importante, pois é assim que se garante o sigilo e que a informação privilegiada, sobre as leis e subsídios que passam ou não, são traduzidos em ganhos concretos. Se o povo americano ganha alguma coisa com isto, tenho muitas dúvidas, pois as ruas estão cheias de sem abrigo, infra-estruturas degradadas, dificuldades baixas e habitação a preços incomportáveis. Portanto, enquanto uns ganham o direito à riqueza, os outros confirmam o direito à pobreza.
Quando Lyndon Johnson avisou para o perigo de interferência do complexo militar industrial no aparelho do estado dos EUA, não estaria certamente a falar de ser o próprio aparelho de estado a passar a ser um dos donos do “perigoso” complexo militar industrial. Mas é o que temos.
Quando a esperança da chamada “esquerda progressista” – Roy Khana – do Congressional Progressive Caucus, é o principal jogador, está tudo dito sobre “esquerda e direita” dos EUA. Apenas um espaço onde se confundem privilégios, práticas democraticamente erradas e muito discurso barato. E depois andam estes tipos – republicanos e democratas – a propagar moral pelo mundo.
Nos EUA, os ganhos de capital, a reindustrialização e a sobrevivência da hegemonia, medem-se em vidas perdidas. Na política e na economia, dentro e fora de portas!
Escritores: info@strategic-culture.su
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