Empresa na área de tecnologia da comunicação (ao fundo), marcas dos jornais Folha de S.Paulo, O Estado de S.Paulo, O Globo, e Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Reprodução | ABR)
“É desesperada a tentativa das corporações de mídia de equiparar Lula a Bolsonaro”, escreve o colunista Moisés Mendes
Moisés Mendes
Estão se intensificando os esforços das corporações de mídia para tentar equiparar Lula a Bolsonaro. É uma tática dentro da estratégia geral das falsas equivalências, que põe lado a lado personagens incomparáveis, enquanto ainda procuram a terceira via.
Fazem assim com Alexandre de Moraes e seus agressores, como se pudessem ter o mesmo tratamento. Com os que defendem as instituições e com os que as agridem. Com democratas e golpistas. Com defensores da ciência e com negacionistas.
A Folha conseguiu agora o que vinha tentando há muito tempo. Com um ano e oito meses de governo, deu de manchete, com base em pesquisa do Datafolha, que Lula e Bolsonaro são vistos do mesmo jeito pela população, porque nessa época, com o mesmo tempo de governo, o golpista inelegível tinha 37% de aprovação, e Lula teria agora 35%.
A manchete informa: “Datafolha: Avaliação de Lula é igual à de Bolsonaro na mesma altura do mandato”. E essa é a linha de texto que a complementa: “Na margem de erro, petista é aprovado, reprovado e regular para a mesma fatia do eleitorado”.
Aqui está o detalhe que reforça a manchete: Lula teria a mesma avaliação do golpista “na mesma fatia do eleitorado”. Jornalistas sabem que essa linha não é coisa elaborada por um editor de plantão.
É tarefa para gente grande do comando do jornal. Lula e Bolsonaro, segundo a Folha, têm a mesma avaliação na mesma fatia da população. Como se os avaliadores do ótimo, regular e ruim de Bolsonaro fossem os mesmos de Lula. Como se tudo estivesse igual, quatro anos depois, nas mesmas faixas? Como se Lula e Bolsonaro fossem iguais.
A mesma ‘fatia’ do eleitorado, assim mesmo, no singular, repete com Lula o que fez com Bolsonaro? Não, Folha, não repete. São fatias diferentes. São outras pessoas, com outras índoles, com outros valores, mesmo que em algumas situações se aproximem.
A confusão deliberada e a tese da equivalência ficam facilitadas pelo cenário que destrói todas as tentativas de cientistas sociais e políticos de oferecer respostas a uma interrogação: o que mudou na percepção dos brasileiros sobre o desempenho de um governo?
Como é possível comparar Lula e Bolsonaro e ainda dizer que eles têm performances iguais na mesma fatia? Que história é essa de fatia?
Quem procura explicações terá de se puxar mais para dimensionar a sabotagem a que a grande mídia se dedica desde o início do terceiro mandato de Lula. E aprofundar a análise da incapacidade de resposta das instituições com atitudes que pelo menos abalem as estruturas de mentira, ódio e difamações montadas pelo bolsonarismo.
Todas as frentes continuam ativas. Fazem parte dessa tentativa de equiparações e equivalências, para que Lula seja posto ao lado de Bolsonaro, o título e o conteúdo de artigo mantido durante dias na capa do Estadão, para que fosse compartilhado pelas redes fascistas: “Lula lidou com a Venezuela sem obedecer a princípios morais”.
Organizações que foram colaboracionistas do golpe de 64 tentam se defender com uma invertida: Lula seria tão moralmente condenável quanto Bolsonaro, por não admitir que Maduro, segundo os jornalões, Trump, Hamilton Mourão, Kataguiri e Fabrício Queiroz, teria fraudado a eleição na Venezuela.
O autor do artigo é William Waack, mandado embora da Globo por uma das mais abomináveis condutas discriminatórias. Waack foi expelido da Globo por atitude racista. Por não ter os princípios éticos e morais exigidos pela empresa.
Uma empresa que, com seus princípios morais precários, apoiou ditadores e torturadores. A Folha também apoiou ditadores, e o Estadão, que depois se dedicou ao marketing da democracia, para se reacomodar no mercado, deu suporte à ditadura.
Essas são as equivalências possíveis. A grande imprensa que se esforça para colocar Lula ao lado de Bolsonaro foi parceira da ditadura e incapaz, em quatro anos de bolsonarismo, de fazer 10% do que Alexandre de Moraes fez para expor e emparedar o fascismo.
O resumo, que nem precisaria ser feito, é este. Corporações que apoiaram ditaduras e são incapazes de reagir à extrema direita, e que abrigam extremistas e racistas em seus quadros, tentam dar lições de conduta a Lula.
Inclusive na área de uma falsa moralidade, no esforço para equipará-lo a uma aberração mundial. Para sobreviver, Folha, Estadão e Globo disputam não mais só o conservadorismo, mas a mesma fatia da extrema direita.
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