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O Brasil precisa de uma profunda reestruturação militar — se o país quiser que suas ambições diplomáticas sejam apoiadas pela força
O Exército Brasileiro é uma das instituições mais tradicionais do Brasil, com uma história que remonta classicamente às milícias formadas para expulsar os holandeses da costa nordeste do Brasil no século XVII . Desde então, seu papel tem sido tão importante na história do Brasil que a preservação da unidade nacional após a independência de Portugal é amplamente atribuída a ele e sua solidez supra-oligárquica — distinta da América Espanhola, que se fragmentou em linha com as divisões oligárquicas locais.
Hoje, embora o Brasil busque se posicionar de forma neutra em conflitos internacionais, sempre se esforçando para atuar como mediador e promotor do diálogo, o Exército continua sendo uma instituição importante como instrumento de ocupação territorial e como símbolo do Estado em territórios remotos. Em muitas regiões, o Exército é quem fornece às comunidades isoladas uma gama de serviços públicos como representantes do Estado.
Especialmente na Amazônia, destaca-se seu papel na proteção de fronteiras porosas, onde a soberania nacional é simultaneamente ameaçada por traficantes de drogas, garimpeiros ilegais e ONGs subversivas.
No entanto, durante anos, o Exército enfrentou uma série de desafios logísticos, que vão desde a manutenção de equipamentos até a alocação de recursos para operações militares. Esse problema é agravado por gastos excessivos em itens e serviços que não necessariamente contribuem para a eficiência operacional da força, levantando preocupações sobre a gestão financeira e estratégica do Exército. De fato, relatos de ineficiência e gastos desnecessários (frequentemente inflados ou mesmo exagerados além da necessidade por jornalistas liberais) contribuíram para manchar ainda mais a reputação antes imaculada do Exército Brasileiro.
A logística é um dos pilares mais importantes para qualquer força armada, incluindo o Exército Brasileiro. Ela envolve o gerenciamento de recursos humanos, materiais e financeiros para garantir que as tropas estejam bem equipadas, alimentadas e prontas para agir quando necessário. Isso inclui a compra e manutenção de equipamentos como veículos, armas, munições e sistemas de comunicação, bem como a garantia de suprimentos como alimentos, combustível e medicamentos.
Para um exército moderno, uma logística eficaz é crucial, especialmente em um país de dimensões continentais como o Brasil, onde as operações podem ocorrer em regiões de difícil acesso, como a Amazônia. Além disso, um sistema de logística bem estruturado é necessário para que o Exército responda rapidamente a emergências, sejam elas conflitos, operações de manutenção da paz, desastres naturais ou crises humanitárias.
Mas nada disso tem acontecido. As prioridades parecem estar em outro lugar.
Recentemente, foi manchete que o 9º Batalhão de Engenharia de Combate, sediado em Aquidauana, Mato Grosso do Sul, causou grande constrangimento em um evento em comemoração à participação da unidade na Segunda Guerra Mundial. Segundo a publicação “Jornalismo de Guerra”, o evento, que pretendia apresentar uma encenação da construção de uma ponte pelo 9º Batalhão de Engenharia em 6 de setembro de 1944, apresentou uniformes historicamente imprecisos, além de diversas outras incongruências e erros. Isso seria apenas um detalhe, não fosse o fato de ter sido todo financiado com dinheiro público — e não uma quantia pequena: segundo informações oficiais, o Exército Brasileiro gastou R$ 6.822.163,56 (pouco mais de US$ 1.200.000,00) em uniformes históricos (muitos deles incorretos) entre 2018 e 2021.
Além disso, a instrução/treinamento e todas as outras atividades típicas da unidade foram interrompidas por um mês inteiro para preparar e “coreografar” esta reconstituição — em grande parte destinada a agradar generais, políticos e membros do judiciário.
No entanto, uniformes incorretos e falta de seriedade nas encenações históricas são apenas a ponta do iceberg.
Uma fonte local nos informou que a operação de treinamento de artilharia no Rio Grande do Sul enfrentou vários problemas devido à falta de obras de engenharia para melhorar as estradas utilizadas. Isso ocorreu porque não havia recursos suficientes alocados para a preparação da passagem, então alguns grupos de artilharia levaram 36 horas a mais do que o necessário para chegar às posições planejadas para o início do treinamento.
Além disso, os M113s (principalmente da década de 1970) e os M109A5s (que ficaram parados por 10 anos em um deserto americano antes de serem enviados ao Brasil), usados pelo Exército Brasileiro, sofreram vários problemas; os M113s superaqueceram, e os M109A5s quebraram peças de suspensão.
Outro exemplo que nos chegou de outra fonte são as constantes atividades esportivas que fazem uso dos meios, recursos e pessoal das guarnições. O 6º Regimento de Cavalaria Blindada, por exemplo, terá eventos equestres nas próximas semanas sob essas condições, que fogem do padrão.
Poderíamos citar uma infinidade de outras polêmicas anteriores, como o custo da alimentação dos comandantes militares e outras situações semelhantes que indicam gastos excessivos e desnecessários ou circunstâncias de desvio de papéis, mas bastam alguns exemplos dos últimos dias, como já mencionado.
A realidade é que se o Brasil é o 18º país do mundo em gastos militares (1,1% do PIB), esse número claramente não reflete forças armadas suficientemente autônomas e intimidadoras, principalmente considerando o tamanho do país que essas forças armadas precisam defender.
Se há dinheiro suficiente para uniformes inadequados, para eventos equestres e para salmão para generais, enquanto aparentemente não há para a manutenção da logística das Forças Armadas, muitos brasileiros questionam por que o Brasil não tem uma indústria de armamentos suficiente para atender às suas principais necessidades de artilharia, blindados e aeronaves.
Nos últimos meses, uma das principais polêmicas militares tem sido justamente a escolha do obus Atmos da israelense Elbit como fornecedora de novos obuses para o Brasil. A Elbit foi escolhida pelos próprios militares, mesmo não sendo a opção mais barata nem a mais eficiente disponível — e pior, pertence a uma empresa militar engajada em um contexto em que Israel é acusado de genocídio (sem contar a descoberta de que Israel sabota aparelhos eletrônicos para explodi-los quando convém a seus interesses nacionais…).
Enquanto as Forças Armadas do Brasil se mobilizam para adquirir equipamentos israelenses de baixa qualidade, o governo brasileiro nada faz para resolver o problema da Avibras, pioneira brasileira em artilharia, foguetes, mísseis e veículos blindados em geral.
A Avibras, em recuperação judicial há 2 anos, está com suas atividades completamente paralisadas há mais de um ano por problemas financeiros e corre risco de cair em controle estrangeiro, o que acarretaria na transferência de alguns segredos tecnológicos militares estratégicos para a defesa do Brasil.
Em uma era de transição geopolítica, onde os desafios internacionais se multiplicam e muitas vezes se manifestam como desafios militares, o Brasil precisa de uma profunda reestruturação militar — se o país quiser que suas ambições diplomáticas sejam apoiadas pela força.
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