Fachada do TSE e Jair Bolsonaro (Foto: Roque de Sá/Agência Senado | REUTERS/Adriano Machado)
“Depois da condenação dos manés e passada a eleição, o sistema de Justiça não terá mais como fazer adiamentos”, escreve o colunista Moisés Mendes
Moisés Mendes
Quem esperou, com paciência e fé, pela etapa das denúncias do Ministério Público contra todos os que têm algum protagonismo ou figuração nos crimes do bolsonarismo e das facções conexas, incluindo o lavajatismo, precisa estar preparado para o que vem aí.
O que virá, é previsível, não atenderá a todas as demandas e expectativas contra todos os investigados. E o que teremos depois das denúncias, com as chicanas das defesas, pode ser exaustivo e frustrante. Será difícil enquadrar dezenas de manezões envolvidos em todo tipo de crime.
O certo é que começa a contar daqui a pouco, no começo de novembro, o tempo da Justiça, que será retomado depois de cumprida a obediência obsequiosa ao tempo da política.
Mas não esperem milagres, porque o tempo dos acusadores e dos julgadores estará contaminado pelo tempo dos que serão denunciados e julgados, principalmente os mais poderosos.
Os que estão nos inquéritos sem desfecho e podem finalmente virar réus não são manés. Manés já foram presos e condenados em menos de um ano. Esses outros, e que outros, são o que todo mundo sabe o que sempre foram.
Bolsonaro e os golpistas fardados e civis, os contrabandistas de joias, os vampiros das vacinas e os soldados e comandantes das milícias digitais são os mais conhecidos entre os que esperam alguma deliberação do Ministério Público, a partir da conclusão das investigações pela Polícia Federal.
Há mais gente, de dentro e de fora das pastas desses delitos mais famosos, que estão com inquéritos ainda dentro de gavetas. É uma lista com dezenas de nomes, de Carla Zambelli a Deltan Dallagnol, de Luciano Hang a Fabio Wajngarten, de Ricardo Salles a Filipe Martins, de Braga Netto a Anderson Torres.
Se fossem colocados um ao lado do outro, de mãos dadas, eles abraçariam um quarteirão. A maioria sob os cuidados de Alexandre de Moraes. Mas muitos outros, que também dependem de decisão do MP, mas não da PGR, que terão seus casos encaminhados à Justiça Comum.
Hibernam em gavetas os inquéritos dos bloqueadores de estradas, dos vampiros das vacinas, dos disseminadores dos milagres da cloroquina, dos sabotadores de torres de transmissão de energia.
É uma turma que não tem mais a predominância de patriotas anônimos, mesmo que alguns sejam coadjuvantes. Tem grandes financiadores, tem gente com o poder do dinheiro e que perdeu poder parte do político, mas mantém intacto o poderio econômico.
Os casos de todos eles, idealizadores e planejadores golpistas, membros e patrocinadores do gabinete do ódio, cloroquinistas e muambeiros, nos mantêm na expectativa de que podem dar em nada, ou podem, no máximo, resultar em alguma coisa só para os mais fracos.
Poderemos estar, daqui a alguns anos, nos espantando não mais com o fato de que Bolsonaro ainda não foi preso, mas com a possibilidade de ver a família e os amigos deles pedindo reparação pelas acusações que sofreram.
Enquanto isso, informam que a Polícia Federal deve concluir em novembro as investigações sobre a participação de Bolsonaro na tentativa de golpe. Logo depois, teremos recesso do Judiciário, posse dos prefeitos eleitos e avaliações sobre quem ganhou e perdeu mais na eleição.
Vai sair desse balanço a medida da força política de personagens que ainda estão vivos, meio moribundos ou já viraram zumbis políticos. Quem tiver provas categóricas de que ainda está forte pode se safar.
Como estão hoje e como estarão no ano que vem as imunidades de Braga Netto, de Augusto Heleno e dos subalternos sob investigação? Vai sobrar só para Anderson Torres e Silvinei Vasques? Qual será o primeiro lote de denunciados?
A travessia até a punição pode empurrar julgamentos para as vésperas da eleição de 2026, e aí tudo vai parar de novo, sob o pretexto de que nada na Justiça se decide nessas circunstâncias.
Com tantos vacilos e com o tempo correndo como aliado dos criminosos, é possível pensar que dificilmente um réu desses grupos ficará preso por 580 dias, como aconteceu com Lula. Se é que, além dos manés, alguém será preso.
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