domingo, 1 de dezembro de 2024

A Odisseia de Lula e Haddad e a aliança da Globo, do Mercado (elite) e das viúvas de 2013

Fernando Haddad e Lula (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Lula e Haddad se prenderam ao mastro da embarcação e colocaram cera nos ouvidos para não ouvirem o canto das sereias, seja da direita, seja da ultra-esquerda

Roberto Ponciano
brasil247.com/

Morro e não vejo tudo! É de cair o cu da bunda! Não começarei este texto com nariz de cera e circunlóquios. 2013 é o ano que não terminou, e o espectro da Sininho dançando com o Batman uma ciranda com a música da Globo, na Cinelândia, palco de nossas lutas históricas, parece um filme que se repete na minha cabeça.

A insatisfação da Globo e da grande mídia corporativa em geral, da elite brasileira e internacional, que gosta de ser apelidada de mercado, para que burguesia se aparente com uma mão invisível que está sempre disposta a passar a mão na nossa bunda, sem o nosso consentimento e das viúvas da jornada de julho de 2013, me remete ao filme “Feitiço do tempo”. O filme é bobinho, mas virou meme, porque nele, Bill Murray está eternamente preso numa cidadezinha do interior dos Estados Unidos, enquanto não consegue conquistar o amor da personagem vivida pela belíssima Andie MacDowell. No caso do Brasil, parece que enquanto não conseguirmos entregar uma maioria progressista de verdade para Lula ou qualquer presidente progressista no Congresso, viveremos o tempo inteiro sob a chantagem do golpe pela extrema direita, da tutela do dito “mercado” pelos nossos aliados, e do que eu chamo de “socialismo mágico” pela esquerda Sininho 1%.

Lula ganhou a eleição com meio por cento de diferença. E ganhou um Congresso em 4/5 reacionário, que o chantageia noite e dia em busca de emendas polpudas e cargos até no trigésimo oitavo escalão no governo. Para nossa esquerda 1% socialismo mágico, Lula deveria governar sem o Congresso, a partir de sua vontade imaginária, como um monarca absoluto dos séculos XVII e XVIII, ou fazer conclamações diárias para o povo ir para a rua para bancar o programa máximo no governo. Esta esquerda estilo Jones Mané e Chavoso da USP, que vive (literalmente vive, porque hoje vivem inclusive financeiramente de seguidores, sendo para muitos o único trabalho do qual tiram algum sustento) lacra a cada segundo nas redes sociais, com teses espalhafatosas de “ajuste zero” e que sequer o arcabouço fiscal teria que ter sido submetido pelo governo.

Bem, meus caros, vamos lembrar algumas coisas. O arcabouço fiscal, votado no início do governo Lula era uma bosta, mas uma bosta que deixou o governo Lula sobreviver aos primeiros dois anos de governo, porque ao contrário do arcabouço fiscal não era “ajuste zero”, era o teto fiscal obrigatório imposto em PEC. Sem maioria no Congresso, como uma malabarista chinês, Lula e Haddad conseguiram um acordo ruim, mas que deu campo de ação mínimo para o governo respirar, recuperar a política de salário-mínimo, uma mínima brecha de investimentos e não mexer nos sistemas de previdência e de benefícios aos desassistidos, ou nos pisos de saúde e educação.

Eis que, contra a parede e chantageado novamente pelo tal mercado, a direita que tem maioria no Congresso reúne 3 sacerdotes do Satanás: Kim Kataguiri, Pedro Paulo e Júlio Lopes, o pior do que há de pior na política brasileira, e apresenta o pacote que a elite quer. Fim do aumento real do salário-mínimo, fim do atrelamento dos benefícios do INSS ao mínimo, fim dos pisos da educação e da saúde, nova reforma da previdência, corte nas áreas sociais. A Globo tem orgasmos múltiplos (tirem as crianças da sala) numa orgia de cortes contra o povo em plena luz do dia.

O que fazem Lula-Haddad? Fazem um pronunciamento corajoso e tomam a dianteira. Na política, ter iniciativa é fundamental. Lula sai a campo para negociar e torna a proposta do trio do capeta (Kim-PP e Júlio Lopes) completamente impopular. Na proposta de Lula-Haddad finalmente se começa uma taxação progressiva no país, isentando-se os mais pobres e taxando-se os mais ricos, inclusive incluindo-se os dividendos. Os cortes não serão em áreas sociais e manter-se-ão os pisos de saúde e educação e a indexação dos benefícios do salário mínimo ao INSS, e a política de aumento do salário mínimo acima da inflação. Ao mesmo tempo, mexe-se nas regalias das grandes empresas, cortando-se os “incentivos” (na verdade, isenções fiscais a empresas bilionárias) toda vez que o governo tiver que fazer cortes por conta do arcabouço, como medida de compensação. Acaba-se com a reforma de militares antes de 55 e a farra de extensão de pensões de uma filha para outra (é pouco ainda, mas é o primeiro governo a propor cortes aos militares).

Não, não é a melhor proposta do mundo, porque a melhor proposta do mundo, não existe.

O que acontece no segundo seguinte?

A elite começa a chantagear o governo, especulando com o dólar e a bolsa (o que será um fenômeno temporário, a solidez do crescimento do Brasil fará com que o ataque especulativo cesse) para tentar apavorar o governo. Globo, Falha de São Paulo, Estadão e veículos golpistas congêneres colocam seus especialistas (todos com a mesma formação e opinião) para dizer que tem que cortar é na saúde, na educação, nas pensões, no Fundeb. Uma trágica procissão de imbecis pseudo-especialistas vendidos para tentarem ganhar corações e mentes da população contra a proposta do governo.

Ao mesmo tempo, o povo da esquerda 1% com síndrome de Sininho ou de Renato Cinco, que tem problemas edipianos com o PT corre na rede para lacrar. Ou fazendo tik toks imbecis ou largos artigos onde mostram por A mais B que Lula agora é um neoliberal que atende ao mercado, de forma subserviente, etc, etc, etc. E nos quais não apresentam qualquer alternativa real, senão um apelo ao povo na rua, povo que não vota neles e que não os segue pelas ruas. Queridos senhores, quem está a serviço da elite e do mercado, como em 2013, são vocês!

Para uma conjuntura real de disputas no qual Lula e Haddad tomaram a dianteira, vocês apresentam um rosário de lamentações praguejantes e de palavras de ordem sem sentido, convocando manifestações sobre o nada, sempre com um programa máximo desconectado da realidade. Ao fim e ao cabo são aliados esquizofrênicos da Rede Globo de Televisão.

Não há espaço vazio em política, e a alternativa de não apresentar proposta e ser apenas contra o pacote fiscal do trio de patetas, Kim Kataguiri, Pedro Paulo e Júlio Lopes colocaria o governo Lula nas cordas e sem alternativas para a sociedade. Ao colocar um pacote de cortes que não atinge os benefícios sociais, que corta da reforma de militares jovens e em condição de trabalhar, que acaba com os supersalários, que faz taxação progressiva, levantando a bola da taxação das grandes fortunas, que acaba com renúncia fiscal das empresas antes de cortar dos programas sociais, Lula e Haddad ganham protagonismo para enfrentar a elite e disputar corações e mentes dos setores populares para aprovar sua reforma no Congresso.

Corajosamente, Lula e Haddad se prenderam ao mastro da embarcação e colocaram cera nos ouvidos para não ouvirem o canto das sereias, seja da direita, seja da ultra-esquerda do socialismo mágico.



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