Depois de autorizar entrada de dinheiro
estrangeiro na saúde e a formação de oligopólios no ensino privado, Legislativo
tenta, com a lei da terceirização, fazer o país andar para trás
por Marcio Pochmann / http://www.redebrasilatual.com.br/
Após sua hibernação por mais de uma década, o neoliberalismo
vem registrando sinais recentes de seu reaparecimento. Para ser introduzido
ainda no início dos anos 1990, durante a passagem do governo Sarney para o de
Collor de Mello, o neoliberalismo contou com três condições fundamentais. A
primeira, provocada pela recessão econômica no início da década de 1990, que
buscou enfraquecer seus opositores, como os sindicatos, diante da inexorável
elevação do desemprego e da redução no poder aquisitivo dos salários.
A segunda condição foi revelada pelos constrangimentos
impostos pela revisão do papel do Estado através das transferências de funções
públicas ao setor privado viabilizadas pela privatização de empresas estatais e
corte generalizado no gasto público. A terceira condição ocorreu constituída
pela implementação de várias medidas de flexibilização das regras nas áreas
financeira, comercial, produtiva e trabalhista.
Essas três condições estruturadoras do neoliberalismo dos
anos 1990 no Brasil encontram-se, guardada a devida proporção, retomadas no
período recente, o que pode contribuir, ao que parece, para a reversão da
posição governamental que até então se movia majoritariamente contrária.
Inicialmente, pelo reaparecimento de um novo quadro recessivo, capaz de alterar
a trajetória positiva de elevação no nível de emprego e de ampliação salarial.
Na sequência, a abertura para o crescimento da presença do setor privado em
paralelo à contenção do Estado em algumas atividades.
Exemplo disso pode ser observado pela aprovação da
legislação que incentiva a entrada de capital estrangeiro na saúde,
responsável, até o momento, pela aquisição de quase meia centena de hospitais
no país. Um movimento comparável localiza-se também na educação, com o
estabelecimento de oligopólios privados no ensino superior e participação
importante do capital estrangeiro. A contenção no gasto público em todos os
níveis imposta pela retomada do programa de austeridade fiscal permanente,
assim como a possibilidade de haver novas rodadas de concessões no serviço
público, pode apontar para uma nova fase de apequenamento do Estado no Brasil.
Por fim, o atual vigor legislativo expresso pelo rápido
avanço da pauta patronal e antilaboral estabelecida pela condução de votações
sobre a terceirização e o Simples trabalhista. De um lado, o projeto de lei da
terceirização tal como apresentado poderá representar o rebaixamento das
condições de trabalho e remuneração dos empregados não terceirizados ao
precarizado já vigente entre os terceirizados.
Em síntese, o trabalhador terceirizado no Brasil recebe
remuneração que equivale, em média, à metade da percebida pelo empregado não
terceirizado. Além disso, a rotatividade do terceirizado é duas vezes maior que
a do empregado não terceirizado. De outro lado, o encaminhamento das
proposições estabelecidas em torno do projeto do Simples trabalhista poderá
permitir redução sensível na proteção que o empregado assalariado possui por
meio da Consolidação das Leis do Trabalho. Ou seja, a maior e mais profunda reforma
neoliberal do trabalho que o Brasil conhecerá.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
12