O economista Francisco Soriano
lembra que, apesar da crise, a companhia aumentou sua produção em quase 5% no
ano passado.
Darío Pignotti // www.cartamaior.com.br
Brasília - “Não vão conseguir
privatizar Petrobras”, a certeza parte do economista e diretor do Sindicato dos
Petroleiros do Rio de Janeiro, Francisco Soriano, que respalda sua afirmação
com cifras: “apesar das crises interna e externa, nós aumentamos a produção em
quase 5% em 2015, com 2,1 milhões de barris por dia, e superamos as previsões
no plano de negócios da empresa, com um desempenho excelente da área do pré-sal
(águas ultraprofundas)”.
– Analistas do mercado dizem que
será inevitável fazer reformas na Petrobras.
– São opiniões interessadas,
parte de uma série de ataques que vêm de todas as partes, como os que fazem os
acionistas estrangeiros que iniciaram causas na justiça norte-americana. A
verdade é menos dramática, a Petrobras é uma empresa forte, inclusive depois
dos ataques que visam, há anos, levar à sua privatização. Não se pode usar o
argumento de que está quebrada, porque ela vem aumentando sua produção todos os
meses, e já estamos perto de 1 milhão de barris extraídos dos poços da área do
Pré-sal (descobertos em 2007). Isso anula o que dizem os meios e as agências
internacionais que anunciavam que não seria possível tirar um produto rentável
de tanta profundidade, porque se necessitava uma tecnologia muito cara. Nós
fizemos. Tiramos petróleo de mais de 5000 metros de profundidade, porque temos
tecnologia de ponta, engenheiros reconhecidos no mundo todo.
– O Pré-sal é a joia da coroa.
– Sim, falando de 90 bilhões de
barris de óleo cru comprovados, e nossos engenheiros consideram que podemos ter
outras reservas gigantes enterradas, é uma possibilidade que poderia duplicar,
triplicar, quem sabe multiplicar até mais as reservas comprovadas. São recursos
muito cobiçados por outras companhias e pelos países centrais, onde há recursos
insuficientes, por isso eles estão com os olhos sobre o nosso litoral marítimo,
uma zona econômica das mais importantes neste momento. Não se trata só da
riqueza, é um tema geopolítico. Quando o Pré-sal foi descoberto, os Estados
Unidos moveu sua IV Frota para perto das costas do Rio de Janeiro, onde estão
os campos gigantes.
– Até onde chega a pressão
norte-americana?
– Os ataques contra a Petrobras
nascem de várias forças aliadas do exterior, e claro que os Estados Unidos
fazem parte disso, mas não somente. Eles têm apoios dentro do nosso país. É uma
engrenagem grande. Falamos de um poderoso lobby estrangeiro, da participação de
serviços de inteligência como a NSA (Agência Nacional Segurança estadunidense),
que pactuam com os grupos golpistas do Brasil: há empresários participando, o
setor financeiro e os partidos de direita, que pedem o impeachment da
presidenta Dilma Rousseff.
– A disputa pela Petrobras
explica o impeachment (juízo político)?
– São gigantescos os interesses
gigantescos envolvidos na campanha pela queda de Dilma, uma presidenta que
nunca foi simpática com as grandes petroleiras privadas, desde os tempos em que
era ministra de Lula e supervisou o novo marco regulatório do petróleo. Uma
presidenta que não fez os leilões de campos que as estrangeiras pediram. Ela
autorizou sim o leilão do megacampo de Libra, que foi vencido por um consórcio
formado pela Petrobras e por empresas da China e de outros países, num leilão
onde as empresas norte-americanas ficaram de fora.
– Esse leilão foi depois das
escutas ilegais da NSA.
– Isso foi um escândalo muito
grave, porque a NSA invadiu as comunicações da presidenta e da Petrobras, e
nunca disseram que informações foram roubadas. Não será que essa informação é a
que se usa agora para atacar a Petrobras? Eu acho que essa pergunta deve ser
feita. A presidenta pediu a Barack Obama que entregasse a informação que foi
roubada pela NSA, mas nunca se devolveu nenhum dado, algo bastante raro. Foi um
caso gravíssimo, e depois disso Dilma teve a altivez de rejeitar um convite de
Obama para uma visita de Estado (marcada para meados de 2013). Foi algo
inédito, uma mandatária sul-americana rejeitando uma visita a Washington.
Antes, os presidentes iam correndo, independente da situação.
– O marco regulador do petróleo é
um ponto central?
– As corporações internacionais
perderam toda esperança com Dilma assim que o governo deu sinais de que não vai
retroceder no caso do marco regulador do petróleo. Há muitas críticas à
presidenta que são justificadas, mas no caso da política para o petróleo eu
acho que ela não vai dar o braço a torcer, e não permitirá que voltemos à
legislação entreguista de Fernando Henrique Cardoso. Durante aqueles dois
mandatos (entre 1995-2003) o modelo de concessões foi imposto a pedido das
multinacionais, o que acarretou problemas seríssimos. As forças Armadas
ocuparam refinarias e houve repressão pesada contra os trabalhadores. Também
houve a demissão de centenas de companheiros petroleiros. FHC passou com um
rolo compressor sobre o movimento sindical, suspendeu nossas fontes de
financiamento, que eram absolutamente legais.
– O que querem mudar da atual
lei?
– Eles querem alterar a
legislação que surgiu no segundo governo de Lula (2007-2011), para ter acesso
às nossas reservas. O que eles querem? Que haja mais leilões, restabelecer o
regime de concessões do FHC, quando a Shell, a British Petrolium e a Chevron
ganhavam os campos e se tornavam donas do petróleo. Agora isso não acontece
mais, porque temos um regime de participação compartilhada.
– Onde está a diferença central?
– Agora também há leilões, mas a
lei obriga que mesmo quando uma petroleira estrangeira vence, a extração seja
realizada em conjunto com a Petrobras, e a Petrobras decide quanto será
extraído e é a dona do recurso. As multinacionais já não podem levar tudo o que
querem a qualquer momento. Agora o petróleo é tratado como um bem não
renovável, estratégico, destinado ao desenvolvimento da indústria energética e
do país em geral.
Ações em baixa
Nesta sexta-feira (22/1), as
ações da Petrobras caíram 7% na Bolsa de Valores de São Paulo, quando se
cotizaram a menos de cinco reais, o valor nominal mais baixo desde 2003.
Soriano relativizou a importância
do “sobe e desce da bolsa”, pois a “empresa real é saudável, e em caso de mais
oscilações, de que o preço do barril siga caindo, é possível contar com alguma
ajuda do governo brasileiro ou dos nossos sócios do BRICS – a China, por
exemplo, que já fez fortes investimentos”.
– A Petrobras anunciou uma
redução de 32 bilhões de dólares em investimentos.
– Devemos esclarecer que isso não
será em um ano, que é dentro do período 2015-2019, e que haverá investimentos
de 98 bilhões de dólares que não serão afetados os investimentos nos campos da
área do Pré-sal. Não queremos dizer com isso que a diminuição nos investimentos
é boa, ou que estamos indiferentes, nós estamos categoricamente contra a venda
de ativos da empresa, que agora alguns chamam “desinvestimentos”, e
especialmente contra a venda de campos do Pré-sal, isso é inaceitável, mas por
enquanto não está ocorrendo. Mas também é preciso dizer que há vendas de ativos
que são lógicas, como quando se vendem navios antigos ou unidades que perderam
sua capacidade de produção e não vale a pena reformá-las.
– Haverá demissões devido à
crise?
– Não estamos enfrentando
problemas de demissões dos trabalhadores permanentes neste momento, e somos
mais de 80 mil. O que está ocorrendo é a demissão de trabalhadores
terceirizados, que aumentaram muito nos últimos anos, algo que nosso sindicato
vem criticando de forma geral.
Sobre o escândalo de corrupção:
“Eram uma minoria”
O jornal paulista O Estado de S.
Paulo publicou uma matéria dizendo que o arrependido Nestor Cerveró, o
ex-diretor da Petrobras condenado por corrupção, declarou à Procuradoria que
recebeu 300 mil dólares de propina pela venda da empresa Transener às
argentinas Electroingeniería e Enarsa. Embora o processo pelo chamado
“Petrolão” esteja sob segredo de justiça, o matutino reproduziu parcialmente
essa confissão, na qual o ex-responsável da área internacional da Petrobras – a
qual a Transener pertencia – menciona reuniões com o ex-ministro argentino
Julio De Vido, mas não o indica como responsável pelos subornos, a maior parte
dos quais “vieram da Argentina”. E comenta que o governo de Néstor Kirchner
considerava “estratégico” que a transmissão de energia ficasse em mãos
argentinas, impedindo que fosse operada por norte-americanos.
Néstor Cerveró se refere também a
um almoço no qual participou, entre outros, o ex-ministro argentino Roberto
Dromi – do governo de Carlos Menem. Consultado sobre as declarações de vários
ex-hierarcas da Petrobras processados ou condenados por corrupção, o
sindicalista Francisco Soriano declara que “a conduta desviada de alguns poucos
não deve manchar o coletivo de trabalhadores e diretores da Petrobras”.
“Houve manobras obscuras de parte
de altos funcionários, eram uma minoria dentro dos 80 mil trabalhadores que
somos honestos, que defendemos a Petrobras e que consideramos que a corrupção é
uma forma de atacá-la. Muitos desses corruptos vêm da época do governo de
Fernando Henrique Cardoso. O que o Cerveró diz deve ser analisado com muito cuidado,
porque ele busca a recompensa da delação premiada que o juiz Sérgio Moro
entrega arbitrariamente, algo que me faz lembrar o modo de atuar da ‘República
do Galeão’.”
– Por que a República do Galeão?
– Em 1954, pouco depois de criar
a Petrobras, o presidente Getúlio Vargas sofreu um ataque sistemático das foras
reacionárias, que promoveram uma investigação judicial liderada por um juiz da
Força Aérea, algo absurdo do ponto de vista institucional. Era parte do plano
golpista. Depois, o tribunal da Aeronáutica ordenou a prisão de gente próxima a
Getúlio. Todo esse processo foi repudiado pelas forças populares, que usaram a
expressão “República do Galeão” para denunciar o que acontecia. Hoje, está
ocorrendo algo parecido com o processo do chamado “Petrolão”, porque é um caso
típico de estado de exceção judicial. Um atentado judicial claro. Temos agora
no Brasil um grupo de juízes e promotores que são parte de um plano para atacar
a Petrobras e dar um golpe contra Dilma. O juiz (Sérgio) Moro (encarregado do
“Petrolão”) realizou cursos financiados pelo Departamento de Estado
norte-americano, está relacionado com os Estados Unidos, e sabemos que é
simpatizante do PSDB. Moro é parte de uma engrenagem, conta com a simpatia dos
meios de comunicação hegemônicos, os quais recebem informação filtrada pelos
promotores. Assim chegam as confissões dos corruptos, declarações que partem de
pessoas interessadas não confiáveis, e que se publicam de forma parcial, também
segundo os interesses ideológicos da imprensa. É curioso que tudo o que sai nos
diários seja os ataques ao PT e a ministros, e que quase nunca saia uma linha
de declarações que mencionam políticos da oposição ou o próprio ex-presidente
FHC. Na semana passada, o próprio Cerveró confessou que foi entregue uma
propina de 100 milhões de dólares ao governo FHC, estamos falando de uma cifra
muito alta. Mas nenhum meio deu maior importância, e o assunto morreu no dia
seguinte.
Tradução: Victor Farinelli
Créditos da foto: Petrobras
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