Por Wanderley Guilherme dos
Santos, cientista político
Coluna semanal Cafezinho com Wanderley
A direita radical obteve vitórias
importantes com as turbulências. Ficam para os seminários acadêmicos os debates
sobre a transformação do extraordinário movimento de solidariedade contra a
brutalidade policial em palavras de ordem hostis à democracia. Cabe reconhecer
que a direita se preparou e seqüestrou os cordéis íntimos das manifestações.
Pequenos grupos treinados surgiram do nada, profissionais e disciplinados, com
nomes benignos e endereços desconhecidos. Dispersos em contingentes reduzidos,
sempre contando com jovens que se declaravam bem intencionados, pedindo paz e
não violência, agrupavam-se em segmentos dispersos das passeatas, protegidos no
anonimato pelos simpatizantes de boa fé. Homens maduros, todos de camisa branca
e gravatas sociais, incorporavam-se à marcha a distâncias regulares. Eram eles
que ditavam a velocidade dos caminhantes, coordenando a ação dos grupos de
direita, e que, a seus comandos, elevavam a gritaria e exibiam cartazes com bem
boladas palavras de ordem. O destino era o local do confronto, primeiro, e,
depois, destacamentos encaminhavam os incautos, os saqueadores e sociopatas de
todas as inclinações, para vizinhanças propícias às devastações. Nenhum foi,
até agora, apanhado. Preliminares de 2014.
Com sucesso, a direita radical
vem trazendo a reboque todas as oposições institucionalizadas, o PSDB, o DEM e
a unanimidade dos comentaristas das mídias tradicionais, obrigados, quiçá com
prazer interior, a aplaudir palavras de ordem absolutamente descabeladas,
declarações tatibitates, bem como a achar profundíssima a alegre ignorância dos
que testemunhavam não saber exatamente o significado do refrão que cantavam: “o
povo, unido, não precisa de partido”. Esta, a primeira vitória da direita
radical neste pugilato. A oposição institucional vai cortar um dobrado para
convencê-la de que não está obsoleta.
Tendo colaborado com seus tuites
e emails para mais esta rodada de desmoralização da política, petistas
fisiológicos em busca de empregos e bocas (suas mensagens têm sido
identificadas a granel nas redes sociais) continuam colaborando para a segunda
vitória da direita radical: a difusão da divergência entre os participantes da
coalizão política e social que vem conduzindo com elevada taxa de acerto a
acelerada inclusão social dos grupos vulneráveis, a reforma institucional das
práticas econômicas e o aumento dos graus de liberdade no cenário
internacional. Foi a conquista mais espetacular da ousadia direitista. Na atual
conjuntura, as lideranças progressistas se enfraqueceram e não há consenso
operacional sobre nenhuma das propostas com que o Executivo presume atender às
vozes das ruas. Nem há como haver.
Quem garante que as alegadas
vozes das ruas são representativas dos quase duzentos milhões de habitantes?
Pesquisas sobre o que as pessoas consideram problemas nacionais são sempre
variantes da seguinte lista: saúde, educação, segurança, lisura administrativa,
eficiência do governo, emprego, salário, compromissos dos políticos. Independentemente
do nível de qualidade ou atendimento real dos itens acima, excepcional ou
lastimável, os resultados revelarão coquetéis variados dos mesmos ingredientes.
No Brasil, no mundo e em qualquer tempo. Por isso, medidas imediatas ficarão
eternamente aquém do que as pessoas desejam. E quando as medidas são
despropositadas, a emenda se sai pior do que o soneto. Por exemplo: que
emergência nacional justifica a convocatória de pactos? Se não resultam de
fadigas beligerantes, a idéia intimida mais do que alivia. A probabilidade de
que falhem é bastante elevada, sobretudo porque, às escondidas das luzes da
ribalta, bom número dos esperados executores dos pactos vai sabotá-los. A
direita radical, com a ajuda dos petistas fisiológicos, encaçapou mais esta. Só
falta as centrais sindicais convocarem uma greve geral. Quer dizer, não falta,
não, já estão anunciando. A direita radical, profissionalizada e
para-militarizada, promete trazer sua colaboração se as centrais toparem uma
marcha “pacífica até aqui”.

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