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EUA fortalecem sua presença para enfrentar o que veem como ameaça contra a sua hegemonia, diz jornalista
por Giorgio Trucchi , do Opera Mundi
Tegucigalpa - Para o ano fiscal de 2014, os Estados Unidos preveem uma
ligeira diminuição nos fundos destinados para a “luta contra as drogas” no
México e na Colômbia, em troca de um aumento para a Carsi (Iniciativa Regional
de Segurança para a América Central, por sua sigla em inglês), para a qual o
Departamento de Estado solicitou US$ 162 milhões, ou seja, US$ 26 milhões a
mais do que o orçamento de 2012. Apesar de não ser fácil saber exatamente que
quantidade de recursos vai chegar a Honduras através de diferentes vias e
programas, é lógico pensar que esse país vai gozar de uma atenção privilegiada.
Recentemente, o Congresso Nacional de Honduras aprovou a criação de mil
novas praças para soldados do exército e para a formação do corpo de elite
Tropa de Inteligência e Grupos de Resposta Especial (Tigres). “Querem fazer
crescer o poderio militar à custa da segurança pública”, declarou à imprensa
local o vice-presidente do congresso, Marvin Ponce.
Em 2011, o Pentágono incrementou seu gasto militar do país em 71% em
relação ao ano anterior. Mesmo levando em conta a grave crise de Estado,
política, institucional e social que se abateu sobre Honduras desde o golpe de
Estado, as repetidas denúncias de corrupção, violação de direitos humanos e de
conluio com o crime organizado dirigidas à Polícia Nacional, e o fracasso do
processo de depuração policial, os EUA seguem enviando fundos para continuar
com seus programas.
Em declarações a Opera Mundi, a diretora do Programa das
Américas do Centro para a Política Internacional (CPI), Laura Carlsen, diz que
os EUA “querem ter mais controle sobre as estratégias de segurança interna dos
países centro-americanos, sobretudo agora que vários governos progressistas ou
de esquerda se instalaram na América Latina”.
“Nesse sentido”, continuou, “os EUA
buscam fortalecer sua presença militar para enfrentar o que veem como uma
ameaça contra a sua tradicional hegemonia na região”, disse.
Segundo o jornalista e comunicador
social hondurenho Félix Molina, já há sinais visíveis que mostram a
progressividade de tal intervenção no cenário hondurenho.
“Começou com a assinatura de um
intercâmbio de inteligência e de experiências entre o regime de Porfirio Lobo e
da Colômbia e depois veio a autorização para criar novas bases militares dos
EUA em La Mosquitia e no Caribe. Assim mesmo, estamos assistindo à chegada de
altos funcionários do Departamento de Estado e à intervenção direta no processo
de avaliação do Ministério Público, de depuração da polícia e da criação de
várias leis”, assegura o jornalista.
Entre as leis questionadas, Molina
citou a Lei Antiterrorista, a Lei de Intervenção de Comunicações Privadas, a
Lei de Inteligência Nacional e a Lei de Extradição para Hondurenhos. Em março
passado, o subsecretário-adjunto de Estados do Escritório Antinarcóticos dos
EUA, William Brownfied, anunciou a aprovação de um financiamento de US$ 16,3
milhões para criar uma força-tarefa policial para combater os crimes mais
graves.
'Duplo discurso'
Manter Honduras nas primeiras páginas dos jornais e dos noticiários como
o país mais violento do mundo e como um Estado falido seria, então, parte da
estratégia norte-americana para justificar uma possível intervenção factual.
“Os EUA mantêm um duplo discurso para garantir seus objetivos e prioridades
estratégicas. Estamos vendo um incremento de sua presença e de suas bases
militares na região, assim como de seus projetos sociais e de cooperação, que
ocultam seus verdadeiros interesses”, explica a ex-diretora de Assuntos
Internos da Policia Nacional, Maria Luisa Borjas.
Um protagonismo silencioso e sutil em
sua aparência, mas muito eficaz na prática, que de acordo com Molina busca
fortalecer institucionalmente o aparato de segurança de Honduras, mas que na
realidade “mira fortalecer o Exército, isto é, o aparato que monopoliza a
violência no Estado hondurenho, e em garantir seu controle hegemônico”.
Recentemente, 21 senadores
norte-americanos enviaram uma carta ao secretário de Estado, John Kerry,
assinalando como um “fracasso decepcionante” o processo de depuração. Assim
mesmo, exigiram uma “prestação de contas” dos fundos desembolsados pelos EUA e
destinados ao Exército e à polícia hondurenha. “Devemos nos assegurar de que os
fundos norte-americanos não estejam permitindo violações desenfreadas dos
direitos humanos, incluindo por membros das forças armadas de segurança de
Honduras que atuam amparadas pela impunidade”, diz a carta.

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