A colunista da Folha de São Paulo
Eliane Cantanhêde cometeu um texto revoltante na edição desta quinta-feira (27)
daquele jornal, no qual cobrou exposição voluntária de Lula neste momento de
crise política no Brasil. E, para variar, exaltou Fernando Henrique Cardoso por
estar “se expondo” enquanto o petista teria “sumido”.
Segundo Cantanhêde, “O Brasil
está de pernas para o ar e os Poderes estão atônitos diante da maior
manifestação em décadas, mas o personagem mais popular do país, famoso no mundo
inteiro, praticamente não disse nada até ontem”.
O “personagem” em questão deu
algumas declarações, sim. Primeiro, endossou os protestos e, depois, convocou
movimentos sociais e sindicatos para irem à rua disputar espaço com os
fascistas e oportunistas que se assenhoraram das manifestações a fim de imporem
suas pautas psicóticas, como extinção dos partidos, fechamento do Congresso e
até volta da ditadura.
Mas, no geral, Lula vem se
mantendo discreto, sim, sobretudo por respeito à líder política da Nação, a
presidente Dilma Rousseff, quem tem o dever constitucional e a primazia política
para indicar aos brasileiros que direção tomar, sempre convivendo com as
críticas democráticas da oposição declarada e da não-declarada, à qual a
colunista em questão pertence.
O que espanta na cobrança dessa
senhora é o seu nível de amnésia – ou de má fé – ao sugerir oportunismo e
covardia de um homem que foi à rua em um momento da história deste país em que
não se podia denunciar e, assim, acuar as forças de repressão do Estado como
fizeram os jovens que a polícia agrediu com violência desmedida.
Em 1979, sob a liderança de Lula,
os metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema decidiram declarar greve
geral da categoria. A reação das forças de repressão da ditadura, que desde o
início da paralisação já era intensa, a partir dali se tornou ainda mais
agressiva e violenta.
A Polícia Militar mobilizou toda
a sua Tropa de Choque, cavalaria e soldados com cães para o ABC. A repressão
não se limitou a bombas de efeito moral e balas de borracha. Quem enfrentava a
ditadura não só corria risco de morte, mas de sofrer uma morte excruciante, sob
tortura.
O ministro do Trabalho, naquele
ano, decretou a segunda intervenção no sindicato presidido por Lula, cassando
seus diretores da vida sindical, mas sem conseguir que se afastassem do comando
do movimento.
Para calar Lula, a ditadura
enviou agentes do DOPS à sua casa para prendê-lo, em uma operação coordenada
pelo então governador Paulo Maluf que envolveu a prisão de inúmeros dirigentes
sindicais em todo o ABC, inclusive sindicalistas e juristas de São Paulo.
Hoje é fácil sair à rua, convocar
manifestações e denunciar a truculência policial. Hoje, FHC pode até dar
pitacos sobre as massas que foram às ruas porque não corre risco de ir parar na
cadeia ou de sumir da face da Terra. Aliás, quando esse risco era alto o
“príncipe dos sociólogos” tratou de deixar o país, enquanto tantos outros
ficaram e lutaram.
Àquela época, não se sabe onde
andava a venenosa colunista da Folha. Provavelmente era uma menina. Talvez por
isso não saiba que tanto ela quanto FHC precisarão comer muito arroz com feijão
para cobrarem postura de um homem que se tornou famoso justamente por sua
coragem diante de uma ditadura assassina.

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