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(JB) - Tivesse um senso melhor de oportunidade, a Presidente
Dilma, no dia seguinte ao seu discurso da ONU - no qual defendeu a soberania e
a autonomia das nações na comunicação eletrônica e cibernética - jamais teria
aceitado reunir-se, em Nova Iorque, com o mais alto executivo de um grupo
estrangeiro de telecomunicações.
E menos ainda, teria tomado a infeliz decisão de fazer, um
dia depois, a defesa indireta da possibilidade desse grupo espanhol passar por
cima da lei e tomar de assalto o controle do mercado brasileiro nessa área.
Qual é a razão da especial deferência da Presidente Dilma
com a Espanha do governo corrupto e conservador de Mariano Rajoy e seus
sorridentes executivos, como Emilio Botin, do Santander, e Cesar Alierta,
Presidente da Telefónica? Um grupo que se equilibra, perigosamente, sobre uma
dívida de 50 bilhões de euros - ou mais de 150 bilhões de reais - não pode ser
considerado sólido.
Do ponto de vista moral, a reputação da Telefónica também
não recomendaria o encontro. Basta dizer que, com o dinheiro de vários
empréstimos de bilhões de reais do BNDES, a empresa teve e continua tendo em
seu conselho e com salários de milhares de euros - figuras da estatura de um Iñaki Undangarin, -
ex- jogador de handebol ali alçado por ser genro do Rei da Espanha. Ele está envolvido com uma
série de escândalos de corrupção em seu país. Como “consultor” para seus
negócios da América Latina, há ainda
Rodrigo Rato, ex-presidente do FMI, acusado de envolvimento na quebra
fraudulenta – com prejuízo para milhares de pequenos poupadores - do banco
estatal Bankia.
Para ter acesso a essas informações, a Presidente da
República – que tem se encontrado também com Emilio Botin, do Santander - e sua
assessoria não dependeriam de sofisticados instrumentos de espionagem do tipo
dos usados pela NSA.
Basta entrar por 10 minutos na internet, em inglês ou na
língua de Cervantes, para saber a
opinião média dos próprios espanhóis sobre a Telefónica e sua situação financeira, e a baixíssima
credibilidade de seus serviços em seu próprio país de origem.
O mais grave, no entanto, não foi apenas o fato da
Presidente Dilma dar sinais de que
estrangeiros vão continuar mandando, e cada vez mais, nas
telecomunicações brasileiras, contradizendo, assim, o teor do discurso que havia feito na ONU.
No dia seguinte ela ainda reforçou essa situação, ao
desautorizar, publicamente, o Ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, ao
parecer defender, indiretamente, a possibilidade do Grupo Telefónica, de Cesar
Alierta - com quem havia se reunido no dia anterior - tomar, com um virtual
monopólio, o controle do mercado brasileiro de telecomunicações.
O que está ocorrendo? Porque o Sr. César Alierta procurou,
em Nova Iorque, a Presidente da República?
A Telefónica, dona da Vivo no Brasil, está assumindo o
controle da Telecom Itália, dona da TIM em nosso país, e quer unir as duas
empresas no Brasil, o que lhe daria 55% do mercado brasileiro de telefonia
celular, ou 150 milhões de usuários.
Mas o problema não é a telefonia celular. Hoje, todo mundo
sabe que quem vende telefone, também vende TV a cabo e internet - e quem
controla a internet, controla as informações que por ela circulam.
Tanto isso é verdade, que quando a justiça precisa de
quebrar o sigilo telefônico ou de email ou computador de alguém, recorre à
operadora.
Relembrando, a Presidente da República chega a Nova Iorque,
e ataca os norte-americanos na ONU, porque estão lendo o seu email e grampeando
o seu telefone, e, dois dias depois, após se reunir com um executivo espanhol
de uma empresa cheia de problemas, aceita a possibilidade de que se
eventualmente quisesse, essa empresa venha a
espionar não apenas o seu email e
o seu telefone, mas o email e o telefone de 150 milhões de brasileiros, a
serviço dos norte-americanos.
Afinal, o governo espanhol e as empresas se misturam, e poucos países há, hoje, no mundo,
mais fiéis do que a Espanha, e o seu governo, aos interesses norte-americanos,
a ponto de enviar soldados a lugares em que não deveria meter o bedelho, como o
Afeganistão, por exemplo.
Nos últimos anos, executivos da turma da castanhola,
incluindo os do Santander e da Telefónica, tentam engambelar, tranquilamente, o
governo, com o conto da carochinha de que, por estarem faturando mais no Brasil
do que na Espanha, seu compromisso com o nosso país seria maior do que com o
seu país de origem.
Em vez de ficarem embasbacados com a transferência da sede
da Telefónica América Latina de Madrid para São Paulo - o que nos obrigou a
aceitar mais algumas dezenas de “executivos” espanhóis em nosso país, além das
centenas que já tinham vindo antes com a empresa - muitos brasileiros, do setor
público e fora dele, deveriam se perguntar para onde vão as dezenas de bilhões
de reais que pagamos todos os anos pelos péssimos serviços de telefonia
celular, banda larga e TV a cabo, com algumas das mais altas tarifas do mundo.
As telecomunicações – e aí está o escândalo da espionagem da
NSA para não nos deixar esquecer – são tão importantes para a soberania e a
segurança de uma Nação que a Itália, apanhada de surpresa pela compra da TIM
pela Telefónica, está aprovando às pressas a regulamentação de uma “golden
share” pelo governo italiano para impedir o negócio.
A justificativa? O país não pode ficar sem uma empresa
própria nesse setor estratégico, principalmente agora, sublinhamos, com “a
descoberta das atividades de espionagem norte-americanas”.
Pobre Ministro Paulo Bernardo – levado a se manifestar
contra a fusão da Vivo e da TIM - na única vez em que se colocou ao lado do
consumidor e do país, em uma disputa com uma das empresas que costuma defender
– foi repreendido pela Presidente Dilma.
O que a Nação reclama – e achávamos que a própria Presidente
já o houvesse percebido – não é uma mega-empresa privada e multinacional,
controlada pela Espanha, um país subalternamente alinhado aos Estados Unidos,
para controlar, com um virtual monopólio, o mercado brasileiro de
telecomunicações.
O que o Brasil exige - e a isso deve se dedicar com urgência
- é de uma grande empresa brasileira que possa contar com recursos do BNDES,
para operar o email que está sendo desenvolvido pelos Correios, os softwares livres
do SERPRO, as redes de fibra ótica que
estamos instalando com a UNASUR e os BRICS,
os centros de computação em nuvem e os satélites de comunicação que
estaremos colocando em funcionamento nos próximos anos.
Essa empresa tem nome e sobrenome. Ela já existe e pertence
ao povo brasileiro. Sua razão social é Telecomunicações Brasileiras Sociedade
Anônima. A sua marca é Telebras. E o seu Presidente não é o Sr. Cesar Alierta.
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