Paulo Nogueira
E eis que Joaquim Barbosa agora decidiu ser editor. Ou
professor de jornalismo. Em Londres, ele diz que a mídia não devia dar tanto
espaço aos condenados do Mensalão.
Melhor: nenhum espaço. Eles deviam ser condenados ao
“ostracismo”. Faz parte da pena, segundo ele.
E a imprensa comete o crime de “glorificação” dos
condenados.
Todo mundo tem cabeça complicada, mas JB excede. Glorificar
juízes pode?
Temos então dois tipos de glorificação segundo JB. Um, dos
magníficos magistrados, é permitido. Outro, dos condenados, não.
O caso parece patológico quando se examina a mídia acusada
por JB? Onde ele terá visto glorificação? Ora, os condenados são chamados
continuamente pela mídia de mensaleiros, petralhas e coisas do gênero. JB, em
compensação, é “o menino pobre que mudou o Brasil”. JB consegue ver
glorificação onde existe, na realidade, demonização.
Alguém pode chamar um psiquiatra para nos ajudar a entender
este paradoxo? E o paradoxo de alguém que diz que não vai ficar de conversinha
com um réu, como explicá-lo?
Pausa para rir.
Se quer ser editor, Joaquim Barbosa podia aprender com o
maior dos jornalistas, Joseph Pulitzer. Pulitzer inventou, na segunda metade do
século 19, a primeira página, tal como a conhecemos, com manchete e notícias de
destaque com hierarquia clara. Antes, a primeira páginas era um amontoado de
informações.
Pulitzer tinha a seguinte divisa: jornalista não tem amigo.
Ele sabia que a amizade corrompe o jornalista. Como você
pode escrever com isenção sobre um amigo? Uma vez ele viu um político de grande
influência na redação de seu jornal. Teve um acesso de fúria.
Foi uma divisa que tomei para mim em toda a minha carreira,
e procurei passá-la a todas as pessoas que trabalharam comigo: jornalista não
tem amigo.
Assim como o jornalista, juiz também não pode ter amigo. Mas
os nossos têm, sobretudo entre os jornalistas. Quando a mídia e a justiça são
amigas a vítima é o interesse público, já que uma deveria fiscalizar a outra.
A amiga Globo deu ao filho de JB um emprego. Que isenção se
pode esperar de JB se um dia um caso da Globo for decidido por ele?
Pior ainda: que exemplo ele dá a jovens juízes?
JB, já que decidiu posar de editor, poderia ler Pulitzer.
Tarde demais? Sejamos otimistas, como Epicuro: nunca é cedo demais nem tarde
demais para aprendermos alguma coisa.
Como editor, JB tem o mesmo espírito que o caracterizou como
juiz. Aos poderosos é dada voz, e eles podem (e devem) ser glorificados.
Aos que estão por baixo, o ostracismo, o silêncio. E a
perseguição, e até o terrorismo moral, como se tem visto tão bem no caso
Genoino.
Absoluta coerência entre o JB juiz e o JB editor.
Rir da miséria humana é melhor que chorar, ensinou
Montaigne. Então riamos. Riamos como deve estar rindo João Paulo Cunha ao ver o
tamanho do estrago que sua tirada sobre o “rolezinho europeu” de JB provocou
numa das maiores vaidades da República, um sabe tudo que agora entende que pode
dar lição aos jornalistas.

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