Foto: Sebastião Salgado/”Êxodos”
Num mundo em que a riqueza coletiva é capturada por tão poucos, alguns ainda julgam descabido oferecer dinheiro sem contrapartida em trabalho. É hora de demonstrar a inconsistência – ética, social e econômica – desta oposição
Por Ladislau Dowbor, no Meer | Tradução: Glauco Faria
Enquanto a economia for movida principalmente pela maximização do lucro, ela responderá à demanda expressa pelos grupos mais ricos da sociedade, levando a formas extrativistas de produção que agravam a exclusão social em nome da criação de mais riqueza, e deixará de assegurar os direitos das pessoas em situação de pobreza.
(Olivier de Schutter)¹
O ponto de partida óbvio é que o que produzimos no mundo, o chamado PIB global, é suficiente para garantir uma vida digna e próspera para todos. Também podemos usar a Renda Nacional Líquida ou acrescentar a infraestrutura já construída – casas, estradas, eletricidade, sistemas de água, ruas e tantas outras melhorias herdadas -, mas o fato básico é que o que temos e produzimos é suficiente. Para se ter uma referência, o PIB mundial, de 110 trilhões de dólares, para uma população de 8 bilhões, equivale a 4.600 dólares por mês para uma família de quatro membros. Mesmo no Brasil, com um PIB per capita de 10 mil dólares por ano, o que produzimos equivale a 3,3 mil dólares por mês por família de quatro membros. Podemos brincar com os números, mas o fato básico é que nosso problema não é econômico, mas de organização social e política.