Provavelmente os que julgam que a
democracia representativa é uma fraude descendem em linha direta, antes, como
agora, do 1% privilegiado.
Wanderley Guilherme dos Santos/Carta
Maior
Os estilos da nova estação
eleitoral estão sendo apresentados em pré-lançamento para apreciação do
consumidor especializado – os eleitores. Ao contrário dos preços exorbitantes
das marcas em evidência destinadas ao 1% endinheirado, a decisão eleitoral é
baratíssima: atenção à propaganda, tempo de transporte à seção onde vota e o
esforço de apertar alguns botões. E pensar que quando toda essa história
começou só aquele 1% desfilava e escolhia ao mesmo tempo, pois o direito de
voto custava uma fortuna. Provavelmente os que julgam que a democracia
representativa é uma fraude descendem em linha direta, antes, como agora, do 1%
privilegiado. Antes, porque eram os fraudadores, hoje porque, com o voto secreto
universal e digitalizado, não podem mais sê-lo. Há razões, portanto, para a
variedade de estilos em desfile.
O principal candidato
oposicionista, senador Aécio Neves, tem adotado a estratégia juvenil de bater
como homem e apanhar como dama. Muito comum na adolescência, as ameaças e
declarações truculentas transformam-se em apelo aos irmãos mais velhos quando o
caldo engrossa. Ao endossar, em primeira edição, a pornofonia vip contra a
Presidenta (“colheu o que semeou”, depois retificado), e apoiar o coro
agourento dos conservadores históricos sobre as conseqüências de uma derrota
futebolística (“ela vai pagar o preço”), vestiu a carapuça black boque
desafiando a Presidenta com grosseria (“ela não pode andar nas ruas”).
Esse é o lado viril da juventude,
logo em debandada quando se descobre (e essa foi só a primeira descoberta de um
passado controverso, ainda não muito conhecido) que construiu com dinheiro
público em fazenda de um tio e onde costuma pousar com jatinhos de amigos ou
parentes, não está claro se de uns, outros, ou de ambos. Foi o que bastou para
lamentar-se de perseguição quando seria suficiente mostrar a papelada do
aeroporto legalmente exigida. Em habitual movimento de defesa buscou abrigo nas
referências a opiniões de ministros do Supremo. Quando em vantagem canta de
galo e em condições de igualdade foge da raia.
Candidata a reeleição, Dilma
Roussef parece acreditar na excelência do desempenho e na força da verdade. É
uma estratégia olímpica cujos resultados só ficarão claros quando começar o
horário eleitoral gratuito. Vi alguns filmetes e suponho que aquela narrativa
com o entusiasmo burocrático de relatório incomoda até os seus eleitores fiéis,
enfadonha depois de um ou dois minutos, quando todas as realizações parecem uma
só (que era o quanto bastaria em cada vídeo) e fica patente a ausência de um
rosto humano. Nenhum dos engenheiros que planejaram a BR-XXX, nenhum dos
trabalhadores que a executaram, nenhum dos empresários por ela beneficiados,
nenhum dos moradores dos locais por onde passa. É como a fazenda do tio de
Aécio Neves: só tem aeroporto, não aparece ninguém para falar bem do lugar.
Os responsáveis pela campanha
governista deixam a impressão de que não distinguem programa de governo de
propaganda eleitoral. Formular em campanha o empenho em reforma política e
federalista provoca reações contrárias de quem não terá opinião enquanto não
souber o que será reformado e como (visto que os conservadores estão loucos por
uma reforminha que altere o capítulo sobre direitos sociais da Constituição de
88). Isso é para ser discutido no desempenho do mandato, com o Legislativo,
onde estarão representadas todas as correntes da opinião pública, e não baixada
como medida provisória, com prazo compulsório de votação (“faça-se uma reforma
política”).
Discutir o federalismo brasileiro
é matéria urgente, mas não responde, para o eleitor, à acusação direta e
concreta de que o governo tem sido mau gestor e corrupto. Parece escapismo,
pois não é por aí que a oposição conservadora busca se diferenciar do governo.
Até agora, portanto, o estilo da estação, para o governo, é o do discurso da
verdade. Claro que alteração nenhuma deve substituir a verdade pela mentira,
mas traduzi-la em propaganda para homens e mulheres comuns, isto é, a maioria
esmagadora do eleitorado.
A favor do momento diga-se que
não deixa de ser um desafogo para os democratas verificarem que a imprensa
conservadora tem sido incapaz de modificar a convicção política dos eleitores.
As pesquisas, interpretações esdrúxulas à parte, tem revelado cautela e
ponderação dos eleitores em sua cuidadosa definição eleitoral. Até aqui, a
imprensa conservadora, já impotente para dar um golpe com apoio dos militares,
tenta manter seus recursos de chantagem com a tentativa de golpe pela via das
estatísticas. Se bem observado, isto é um progresso, resultado de 13 anos de
governos trabalhistas.
Créditos da foto: Divulgação

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