quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Argentina: os pesos pesados das finanças sobem ao ringue

Os financistas com títulos da dívida argentina pediram em Londres o desbloqueio do pagamento da divida reestruturada feito no final de junho pela Argentina

 
Buenos Airres - As demandas contra o Bank of New York Mellon (BoNY) se multiplicam ao redor do mundo. O financista húngaro americano George Soros e o titular do fundo de cobertura Hayman Capital, Kyle Bass, iniciaram as queixas nos tribunais ingleses para que as instituições financeiras desbloqueassem os pagamentos realizados pela Argentina. Essas ações judiciais somam pressão para que o agente fiduciário deposite nas contas dos detentores dos títulos os 226 milhões de euros correspondentes ao último vencimento de interesses dos títulos emitidos sob a lei da Inglaterra. Os dólares, euros e ienes depositados pela Argentina no final de junho estão bloqueados por uma ordem do juiz norte-americano Thomas Griesa para que os fundos abutres cobrem a sentença a seu favor.

Desde que a decisão de Griesa foi convalidada pela Corte Suprema dos Estados Unidos, a cadeia de pagamentos da divida externa aceitou passivamente as restrições impostas por esse sistema judiciário, inclusive quando se trata de intermediários e de bancos que não fazem parte de sua jurisdição. O Ministério da Economia intimou o BoNY a liberar os fundos e apresentou, na semana passada, o projeto de lei de Pagamento Soberano da Divida Externa, que propõe tirá-lo de posição de agente fiduciário por ter descumprido obrigações contratuais. A iniciativa oferece também uma troca voluntária dos bônus com a lei estrangeira por outros em condições financeiras idênticas, mas regidos pela legislação argentina.

Diferentemente da ativa e agressiva estratégia do governo argentino, os fundos de investimento internacionais, que tem em seu poder a maior parte dos bônus emitidos durante a reestruturação, mantiveram suas expectativas à margem da disputa. Recentemente, começaram a se envolver quando já havia passado mais de um mês sem receber seus pagamentos.

Os processos iniciados em Londres por Soros e Bass, dois jogadores de peso do sistema financeiro internacional, foram precedidos pelas ações promovidas em Bruxelas e Nova York contra o BoNY pelo Fintech Advisory, o fundo liderado pelo multimilionário mexicano David Martínez Guzmán, e por distintos fundos de cobertura radicados na Europa. Quem também começou a participar ativamente do caso foi o Citibank. A entidade financeira pede uma autorização para que sua subsidiaria argentina possa pagar os vencimentos dos bônus em dólares regidos pela lei argentina nas mãos de credores no exterior. “Vamos apelar em Bruxelas, Nova York e em Londres todas as decisões ilegítimas que nos afetam. A solução é passar para um plano local”, explicou Martínez em entrevista ao Página/12. O empresário possui 40% da Cablevisión, sendo sócio do Grupo Clarín, investimento de onde pretende sair caso seja aprovada sua tomada de controle da Telecom Argentina.

Soros e Bass

“Não puderam transferir os fundos em euros de acordo com suas obrigações fiduciárias”, explicou o texano Kyle Bass à agência de notícias Bloomberg, ao se referir aos 226 milhões de euros bloqueados na conta que o BoNY tem no Banco Central. “Nosso pagamento de interesses é regido pela lei britânica, que não se pronunciou sobre isto. Até que haja uma ordem parecida no Reino Unido, eles nos devem nossos pagamentos”, indicou o rosto visível do fundo Hayman Capital que,
junto de Soros, iniciou na semana passada uma demanda contra o agente fiduciário.

Nascido na Flórida mas radicado no Texas, Bass fundou a Hayman Capital em 2006. No ano passado, o investidor comprou títulos da dívida argentina aproveitando os preços baixos. No total, administraria 2 bilhões de dólares em bônus emitidos pelo país. O diretor do fundo de cobertura, protegendo seus interesses na dívida apoia a posição do governo, fez fortuna apostando no default dos ativos estruturados com hipotecas subprime e com a crise da Grécia. Ganhou quantias milionárias quando comprou contratos de seguro (Credit Default Swaps), esperando que a Associação Internacional de Swaps e Derivativos (ISDA) declarasse a existência de um “evento de default” entre os ativos estruturados com hipotecas e a economia helênica. São os mesmos instrumentos pactuados entre agentes privados que teriam em seu poder os fundos abutres, mas não para a dívida argentina.

A demanda de Bass contra o BoNY, segundo indicou a Bloombergm, também é acompanhada por George Soros, empresário com longa história de entradas e saídas do país. A mais recente foi revelada em agosto, quando o financista se transformou no quarto maior detentor de ações da YPF. Adquiriu mais de oito milhões de títulos da petroleira por 450 milhões de dólares no mercado, o equivalente a 3,5% da empresa controlada pelo Estado.

Soros entrou no país no início da década de 1990, junto de Eduardo Elsztain e Marcelo Mindlin na argentina IRSA (Inversiones y Representaciones Sociedad Anónima), que logo passaria a controlar o Banco Hipotecário. Junto deles, fez parte do Cresud, dedicada a investimentos agropecuários em grande escala. Entretanto, o empresário que obteve fama internacional em 1992, quando levou adiante um ataque especulativo contra a libra esterlina que lhe permitiu embolsar 1 bilhão de dólar em poucas horas, desfez-se de seus ativos argentinos no ano 2000. Reapareceu seis anos depois quando, durante uma viagem de Néstor Kirchner a Nova York, anunciou que ali desembolsaria 500 milhões de dólares para produzir bioetanol no país. A relação com o governo foi boa desde então.

Tradução; Daniella Cambaúva


Créditos da foto: Arquivo

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