Os transgênicos são seguros? Testes realizados na Índia
revelam que são prejudiciais ao meio-ambiente, à saúde e à economia local.
Vandana Shiva – CommonDreams - http://www.cartamaior.com.br/
Falando durante o lançamento do quinto relatório do Painel
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, Energia e Recursos, o ministro do
meio-ambiente Prakash Javadekar declarou: “nós não negamos a ciência. Ninguém
pode negá-la. Nós temos de tomar precauções, temos de agir com propriedade. Não
vivemos nos tempos de Galileu. Galileu estava dizendo a verdade e foi punido
por isso.”
Com organismos modificados geneticamente, podemos estar
vivendo como nos tempos de Galileu. Corporações biotecnológicas
norte-americanas como a Monsanto e seus lobistas são a Igreja de nosso tempo. E
os cientistas independentes são os galileus, que estão dizendo a verdade sobre
os transgênicos e seus impactos na sociedade, saúde e meio ambiente.
Os transgênicos estão atolados em controvérsias pois sua
introdução na sociedade é fudamentada na violação da lei, da democracia e da
ciência.
Na Índia, o debate começou com a introdução ilegal do
algodão Bt pela Monsanto em 1998.
Ele foi intensificado quando a Monsanto/Mahyco tentou
introduzir a berinjela Bt em 2010. E quando o ministro do meio-ambiente da
época, Jairam Ramesh, tentou suspender as plantações, ele foi tirado de seu
cargo.
O debate voltou quando Jayanthi Natarajan foi retirado do
ministério do meio ambiente em dezembro de 2013 por ter se recusado a pactuar
com o ministro da agricultura Sharad Pawar sobre os campos de transgênicos.
M. Veerappa Moily a sucedeu e rapidamente já encaminhou as
aprovações.
Sob o novo governo da Aliança Democrática Nacional, o Comitê
de Análise sobre Engenharia Genética (GEAC, em inglês) aprovou novos testes em
18 de julho. Isto foi contrário ao que o partido Bharatiya Janata declarou em
seu manifesto lançado em abril: “alimentação transgênica não será permitida sem
uma avaliação científica plena de efeitos de longo prazo sobre o solo e
impactos biológicos e produtivos sobre os consumidores”
Em 1998, a Monsanto — em colaboração com a Mahyco — começou
campos de testes ilegais de algodão Bt com a intenção de comercializá-lo na
Índia. Enquanto a engenharia genética existia apenas em laboratórios, o Comitê
de Revisão sobre Manipulação Genética (RCGM) do Departamento de Biotecnologia
(DBT) foi que aprovou os campos. Assim que testes são feitos em ambientes
abertos — o caso destes — devem ser aprovados pelo GEAC, coordenado pelo
ministério do meio-ambiente.
Quando a Monsanto começou os campos de testes em 1998, ela
não procurou aprocação do GEAC. Então entrei com uma ação em janeiro de 1999.
Minha ONG também começou um movimento em agosto de 1998 com o lema “Monsanto,
deixe a Índia”. Este ainda é nosso lema, pois a Monsanto e seus transgênicos só
podem existir na Índia violando a democracia do país, suas leis, e a
independência e soberania da ciência indiana.
Depois de um estudo sobre transgênicos de mais de quatro
anos, o Comitê Parlamentar sobre Agricultura recomendou o banimento das
colheitas transgênicas na Índia declarando que elas não teriam nenhuma função
em um país de pequenos agricultores. Uma ação foi enviada à Suprema Corte pela
ambientalista Aruna Rodrigues para que os campos de testes de transgênicos
fossem encerrados até que avaliações independentes e um processo regulatório
existisse.
A Suprema Corte indicou um comitê técnico que recomendou a
proibição temporária dos campos de teste de colheitas transgênicas até que o
governo obtivesse regulamentação apropriada e mecanismos seguros, o que não
ocorreu até hoje. Até aqui, todas as avaliações são feitas pela própria empresa
e os resultados são inventados de acordo com seus interesses. Era evidente no
caso que pestes como a Aphids e a Jassids estavam aumentando, mas a companhia
não reportava nenhum aumento. Era claro no caso da berinjela Bt que havia
impacto orgânico danoso, mas a companhia escrevia “sem impacto.” Este é o
motivo pelo qual avaliações independentes são vitais para a biossegurança.
Membros do SC/TEC incluíram os maiores cientistas da Índia,
que comandam institutos científicos de alto-nível especializados em diversas
disciplinas, como o Dr. Imran Siddiqui do Centro de Biologia Celular e
Molecular, além dos professores P.S. Ramakrishnan e P.C. Kesavan.
O imperativo científico demanda que as recomendações dos
maiores comitês científicos sejam implementadas. E o núcleo de tais
recomenações se resume nos seguintes pontos:
— Suspensão dos campos de experimentações transgênicas: “ao
examinar a segurança destes empreendimentos, ficam aparentes as brechas do
sistema regulatório. Até esta correção, é aconselhavel que não sejam
implementados outros campos de testes".
— Deveria haver também a suspensão temporária dos campos de
testes em culturas de alimentos.
— Colheitas tolerantes a herbicidas: o comitê julga que são
completamente inadequadas no contexto indiano e recomenda que os campos de
testes não sejam permitidos na Índia.
Entre as culturas transgênicas aprovadas para campos testes
estão arroz, milho, grão de bico, cana de açucar e berinjela. A Índia é um
centro de diversidade de todas estas culturas exceto milho. A experiência do
algodão transgênico já nos mostrou os altíssimos custos aos agricultores
proprietários de sementes transgênicas das quais a Monsanto recolhe seus
royalties. Os transgênicos não passaram no teste socio-econômico.
Nós realizamos um estudo em relação ao impacto sobre o solo
do algodão Bt e descobrimos que organismos benéficos foram destruídos. Nos EUA,
a destruição de organismos benéficos levou ao aparecimento de patologias que
estão causando nascimentos prematuros e abortos em animais que são alimentados
com transgênicos.
Não há consenso sobre a segurança dos transgênicos. Tumores,
falhas nos orgãos e prejuízos ao sistema digestivo já foram associados aos
transgênicos por pesquisadores independentes pelo mundo todo. A Monsanto persegue
todo cientista que está fazendo pesquisas independentes sobre a segurança dos
transgênicos.
A Monsanto e a indústria biotecnológica continuam promovendo
a introdução de transgênicos não testados como se fossem “científicos”.
Suprimir fatos não é ciência. Manipular a verdade não é ciência. Perseguir
cientistas não é ciência.
A verdadeira ciência se baseia em investigações completas e
independentes dos transgênicos e sobre o impacto socio-econômico sobre pequenos
agricultores, o impacto ecológico sobre o meio-ambiente, incluindo sobre a
biodiversidade do solo, dos polinizadores, das plantas e o impacto sobre a
saúde humana e animal. A Índia necessita realizar seus próprios testes de
segurança que não precisem de campos e possam ser feitos em laboratório.
Reivindico uma suspensão dos testes transgênicos, tal qual o
Comitê indicou na Suprema Corte. Todos estamos pedindo uma avaliação científica
completa, de acordo com as recomendações do Comitê. O lobby dos transgênicos
está tentando suprimir as recomendações do Comitê. Seria esta uma extensão da
síndrome de Galileu?
Traddução de Roberto Brilhante
Créditos da foto: Thierry Ehrmann / Flickr
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