Se a marcha da macroeconomia for a anunciada sem outra
novidades no plano estrutural, terminaremos o ano com uma contração do PIB de 2
a 3%.
J. Carlos de Assis (*) - http://cartamaior.com.br/
Os governos mentem ou omitem por necessidade política.
Quando o Banco Central eleva em meio ponto percentual a taxa básica de juros,
dizendo que é para combater a inflação, é pura falsidade. A elevação dos juros
é um mecanismo preventivo de crise cambial em face do altíssimo nível do
déficit em conta corrente de 2014, da ordem de US$ 86 bilhões. Como esse
déficit em sua maior parte só pode ser coberto com empréstimos externos, o
aumento dos juros funciona como um atrator de capitais especulativos para fechar
o rombo futuro.
Todos os analistas do ramo sabem disso, mas o grande público
é mantido deliberadamente mal informado para que o choque de realidade não
resulte em pressões políticas inaceitáveis pelos ditos ortodoxos neoliberais.
Como se sabe, a macroeconomia brasileira está apoiada no tripé superávit
primário, taxa de juros elevada e câmbio flutuante, ou livre. O déficit em
conta corrente é produto, em grande parte, do câmbio valorizado. Para
combatê-lo de forma eficaz seria necessário desvalorizar administrativamente o
câmbio. Isso viola o tripé.
O déficit em conta corrente poderia inspirar também medidas
heterodoxas do tipo limitação de viagens externas, controle de importações,
limitação do uso de cartões de crédito no exterior etc. Isso, obviamente, é
anátema para os neoliberais, principalmente por desagradar a classe média.
Assim, o caminho “ortodoxo” é aumentar a taxa de juros até o nível em que os
aplicadores estrangeiros acham que o Brasil e suas empresas e bancos são um bom
risco. Ninguém fica incomodado, exceto os mutuários de empréstimos, mas estes
não estão à altura dos interesses dos banqueiros.
O problema com a elevação dos juros é que são um tiro no pé.
Com a entrada de capitais especulativos a taxa de câmbio “livre” tende a
valoriza-se ainda mais, concorrendo para mais aumento do déficit em conta
corrente. Pode ajudar a combater a inflação (os preços externos ficam mais
baratos), mas não o crescimento, e é um círculo vicioso crescente para o qual
os remédios anunciados por Joaquim Levy
e Tombini não estão claros. Se os ajustes fiscais e a alta de juros fossem
medidas temporárias para resolver um problema conjuntural, viabilizando uma
saída consistente a longo prazo, tudo bem. Mas trata-se de uma espiral ampliada
de ajustes, levando inexoravelmente a mais ajustes e finalmente à depressão.
Anotem: este ano, se a marcha da macroeconomia for a
anunciada sem outra novidades no plano estrutural, acrescentaremos um alto peso
a um ciclo econômico já recessivo e terminaremos o ano com uma contração do PIB
de 2 a 3%. Não é o que desejo, mas talvez seja o necessário para que o Governo
implemente uma efetiva estratégia de desenvolvimento a médio e longo prazo,
menos dependente dos fluidos conjunturais da macroeconomia. A ideia de que
ajuste fiscal trará o aumento do investimento privado é uma sandice. Ajuste só
leva a mais ajuste.
*Economista, doutor pela Coppe/UFRJ, professor de Economia
Internacional da UEPB.
Créditos da foto: Arquivo
Comentários
Postar um comentário
12