Projeto
Requião tem a chave para salvar a Petrobrás e a economia
por
J. Carlos de Assis* / http://www.viomundo.com.br/
O
desastre que estamos vivenciando na economia e na sociedade tem saída.
Curiosamente, é uma saída simples. Na verdade, é uma saída que repete
iniciativa já adotada no Governo Lula para o enfrentamento da crise de 2008.
Como o foco do desastre agora é a Petrobrás e a cadeia do petróleo, é aí o
ponto a atacar. Ajudei o senador Roberto Requião a formular um projeto que
consiste em autorizar o Tesouro Nacional a fazer um empréstimo ao BNDES para
que ele financie a Petrobrás no montante necessário para que volte aos níveis
de investimentos do ano passado.
A
Petrobrás emitiria debêntures para dar em garantia ao BNDES. E usaria os
recursos assim obtidos para irrigar toda a cadeia produtiva do petróleo que lhe
está associada por contratos de fornecimento e de construção, inclusive de
navios e plataformas, pagando imediatamente os atrasados e retomando os
investimentos ao nível de outubro do ano passado. Claro, a preliminar indispensável
para isso é que o Governo, a fim de restituir a confiança da sociedade na
empresa, faça uma reestruturação radical do sistema de governança da Petrobrás,
a qual deve servir de exemplo para o resto da administração indireta. Já as
empresas privadas envolvidas em falcatruas devem pagar indenizações e multas,
mas sem declaração de inidoneidade para operar com o setor público, pois isso
as destruiria.
O
fundamento desse projeto, como disse, foi a operação de 2009/10. Na época, o
Governo Lula autorizou o Tesouro a emprestar R$ 180 bilhões ao BNDES para que,
nos dois anos, ele salvasse o sistema produtivo do grande apetite dos
banqueiros que decidiram estancar-lhe o crédito. Também agora o sistema
bancário privado, sobretudo o internacional, quer arrancar o couro da Petrobrás
em termos de taxa de juros a pretexto de que perdeu grau de investimento. O importante a notar é que, de imediato, não
há aumento da dívida pública líquida: o aumento do passivo bruto representado
pela colocação de títulos é contrabalançado pelo aumento do ativo no BNDES,
sendo Tesouro e BNDES pertencentes ao Estado.
A
médio e longo prazo a operação é ainda mais favorável às contas públicas do
ponto de vista contábil, financeiro e econômico. A Petrobrás, uma vez vencido o
empréstimo, vai pagá-lo com juros ao BNDES, que por sua vez usará os recursos
para transferi-los ao Tesouro, reduzindo a dívida bruta mais que
proporcionalmente ao volume inicial de empréstimo. Finalmente, o esquema fecha
economicamente pelo fato de que o crescimento da própria Petrobrás sancionará
os pagamentos que terá de fazer ao BNDES. Tudo, enfim, se compensará pelo crescimento econômico como um todo,
reduzindo a relação dívida/PIB, como em 2010.
Estou
colaborando também com o senador Paulo Paim no sentido de elaborar um projeto
que, a fim de eliminar ambiguidades jurídicas da Lavajato, discrimine
claramente na lei empresário de empreiteira. A investigação e os
processos-espetáculo da Lavajato encharcaram a sociedade brasileira de ódio
contra as empreiteiras, confundindo pessoa jurídica com pessoa física. Empresa,
conceitualmente, é um ente social, um instrumento de realização de riqueza por
meio do trabalho contratado. Não se pode criminalizar esse instrumento.
É
claro que empresários e executivos que tenham cometido irregularidades devem
pagar pelo que fizeram. Mas da mesma maneira que uma faca, instrumento de
descascar legumes, não é culpada quando alguém a maneja para um crime, empresa
não pode ser destruída porque seus gestores cometeram infrações. A grande fonte
de desemprego que ocorre atualmente na área do petróleo e afins, ameaçando
atingir cerca de 500 mil direta e indiretamente, é justamente a ausência de uma
definição legal clara que separe essas duas entidades, a empresa e o
empresário.
A
“vingança” que se prepara contra os empresários ultrapassa o razoável. Fala-se
em encampação das ações majoritárias das empreiteiras para dar o controle ao
Estado que depois as colocaria no mercado para venda. É um despropósito
completo. Não existe encampação pura e simples no nosso sistema jurídico. Há
desapropriação por interesse público. Isso requer fundamentação e indenização.
Então o Estado vai desapropriar o controle das empreiteiras envolvidas na
Lavajato e pagar a indenização devida? De quanto? Que lógica há nisso? Qual o
fundamento jurídico?
Mas
há outras questões de caráter prático que devem ser consideradas. Empreiteira é
uma empresa especial. Seus donos correm os maiores riscos no sistema
capitalista, a saber, risco ambiental, risco de projeto, risco financeiro, risco social, risco trabalhista, risco arqueológico, risco
histórico, risco de atrasos nos pagamentos do Estado. Quem vai correr esses
riscos, e em nome de quem, no caso de uma desapropriação do controle? Uma
siderúrgica corre alguns desses riscos, mas de uma vez por todas; a empreiteira
corre enquanto durar a obra.
A
combinação do projeto Requião com o projeto Paim resolve a crise no setor
petróleo e, considerando que a cadeia do petróleo arrasta cerca de 20% da
economia – do estaleiro ao botequim junto dele -, funcionaria como força de
arraste da economia brasileira. Mantenho a avaliação que fiz anteriormente de
que, juntando os efeitos da Lavajato com os do arrocho Joaquim Levy, fecharemos
o ano com uma contração próxima de 5%, e uma taxa de desemprego nas vizinhanças
de 15%, em média, e de cerca de 25% para os jovens. Não gosto nada disso. Mas,
com o Projeto Requião, ainda podemos salvar 2016.
J.
Carlos de Assis é economista, doutor pela Coppe/UFRJ, autor de 20 livros sobre
Economia Política brasileira e do recém-lançado “Os Sete Mandamentos do
Jornalismo Investigativo”, ed. Textonovo.
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