“O que está acontecendo na China nada mais é do que o resultado de uma
bem planejada política econômica de Governo, produzindo os efeitos esperados.”
A afirmação é do professor do
Insper, Roberto Dumas, mestre em Economia da China pela Universidade de Fundan
e em Economia Mundial pela Universidade de Birmingham, na Inglaterra.
Profundo conhecedor da economia
chinesa, o Professor Roberto Dumas garante que os fatos registrados na China na
segunda-feira, 4 (desvalorização da moeda nacional, o yuan, e quedas
simultâneas nas duas Bolsas de Valores, de Shangai e Shenzhen), só
surpreenderam quem não está ciente das decisões das autoridades chinesas.
“O Governo do Presidente Xi
Jinping e do Primeiro-Ministro Li Kekiang decidiu que a China, neste momento,
deve priorizar o consumo interno para escoar a sua enorme produção. Por isso, o
Governo optou pela desvalorização do yuan e pela diminuição das atividades em
suas Bolsas – e até mesmo pela redução do crescimento do PIB. Aquela fase do
PIB crescendo a dois dígitos acabou. Em 2015, a China cresceu menos de 7%, e
não vou me admirar se em 2016 seu crescimento econômico ficar na casa dos 6% a
6,5%. E assim será nos anos subsequentes.”
“Na China”, observa Dumas, “não
há crise de consumo, mas, sim, a necessidade de o consumo interno aumentar”.
Ao contrário do que pensam muitos
analistas – de que a China vive uma crise –, Roberto Dumas afirma que o que
acontece naquele país “é subproduto de uma política pública, do próprio Governo
chinês, que quer rebalancear o modelo de crescimento econômico, ou seja, parar
de investir para tentar impulsionar cada vez mais o consumo doméstico”.
“Mas o chinês não consome muito?
Sim, o chinês consome muito, só que ele produz ‘muito ao quadrado’. Para ele
aumentar o consumo doméstico em relação ao PIB, é importante que o PIB cresça
menos e o consumo aumente para que eles se encontrem no meio do caminho. Para
se ter uma ideia, até 2008 esse excedente de produção geralmente era vendido
para os Estados Unidos. Após a crise de 2008, como os EUA não têm mais
interesse em comprar todo o excedente chinês, quem virou o 'darling' da China
passou a ser o Brasil, ou seja, os chineses tentaram vender o excedente que não
mais conseguiam vender para os EUA e passaram a vender tanto para o Brasil como
para outros países da América Latina e alguns países da África. Só que não
substituímos os EUA, e os chineses perceberam que não adiantava produzirem
demais para um mundo que não quer mais tanto consumo, e resolveram produzir
menos e consumir mais internamente para conseguir rebalancear a economia.”
O mestre em Economia da China
explica:
“Esta queda no crescimento da produção
industrial chinesa era absolutamente esperada. É isso que o Governo quer:
crescer menos para compensar a queda da exportação e aumentar o consumo
doméstico. Não existe uma crise no consumo. Para se ter uma ideia, no Brasil o
consumo, em relação ao PIB, representa 66%; e na China, 35%. Ou seja, na China
eles produzem muito mais do que consomem e precisam de alguém para escoar esse
excedente – e o mundo não quer mais esse excedente. Como a população doméstica
não consegue consumir tudo que o país produz, vamos produzir menos. Por isso é
que isso é um subproduto de uma política pública.”
O Professor Roberto Dumas
conclui:
“A China vai continuar trazendo
não surpresa, mas notícias negativas ao longo deste ano e do próximo. O
crescimento vai ser menor. Aqueles dias em que a China crescia 10%, 11%, 12%
absolutamente acabaram, e aí teremos impacto nas economias emergentes como
Brasil, Peru, Chile, Colômbia, México, porque esses países basicamente são
exportadores de commodities metálicas. Como a China quer investir menos do que
investia, a demanda por commodities metálicas – minério de ferro, cobre, ouro,
platina – tudo isso vai continuar caindo de preço.”
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