quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

É preciso entender a China: não é crise - é política econômica


“O que está acontecendo na China nada mais é do que o resultado de uma bem planejada política econômica de Governo, produzindo os efeitos esperados.”

A afirmação é do professor do Insper, Roberto Dumas, mestre em Economia da China pela Universidade de Fundan e em Economia Mundial pela Universidade de Birmingham, na Inglaterra.

Profundo conhecedor da economia chinesa, o Professor Roberto Dumas garante que os fatos registrados na China na segunda-feira, 4 (desvalorização da moeda nacional, o yuan, e quedas simultâneas nas duas Bolsas de Valores, de Shangai e Shenzhen), só surpreenderam quem não está ciente das decisões das autoridades chinesas.
“O Governo do Presidente Xi Jinping e do Primeiro-Ministro Li Kekiang decidiu que a China, neste momento, deve priorizar o consumo interno para escoar a sua enorme produção. Por isso, o Governo optou pela desvalorização do yuan e pela diminuição das atividades em suas Bolsas – e até mesmo pela redução do crescimento do PIB. Aquela fase do PIB crescendo a dois dígitos acabou. Em 2015, a China cresceu menos de 7%, e não vou me admirar se em 2016 seu crescimento econômico ficar na casa dos 6% a 6,5%. E assim será nos anos subsequentes.”

“Na China”, observa Dumas, “não há crise de consumo, mas, sim, a necessidade de o consumo interno aumentar”.
Ao contrário do que pensam muitos analistas – de que a China vive uma crise –, Roberto Dumas afirma que o que acontece naquele país “é subproduto de uma política pública, do próprio Governo chinês, que quer rebalancear o modelo de crescimento econômico, ou seja, parar de investir para tentar impulsionar cada vez mais o consumo doméstico”.
“Mas o chinês não consome muito? Sim, o chinês consome muito, só que ele produz ‘muito ao quadrado’. Para ele aumentar o consumo doméstico em relação ao PIB, é importante que o PIB cresça menos e o consumo aumente para que eles se encontrem no meio do caminho. Para se ter uma ideia, até 2008 esse excedente de produção geralmente era vendido para os Estados Unidos. Após a crise de 2008, como os EUA não têm mais interesse em comprar todo o excedente chinês, quem virou o 'darling' da China passou a ser o Brasil, ou seja, os chineses tentaram vender o excedente que não mais conseguiam vender para os EUA e passaram a vender tanto para o Brasil como para outros países da América Latina e alguns países da África. Só que não substituímos os EUA, e os chineses perceberam que não adiantava produzirem demais para um mundo que não quer mais tanto consumo, e resolveram produzir menos e consumir mais internamente para conseguir rebalancear a economia.”

O mestre em Economia da China explica:
 “Esta queda no crescimento da produção industrial chinesa era absolutamente esperada. É isso que o Governo quer: crescer menos para compensar a queda da exportação e aumentar o consumo doméstico. Não existe uma crise no consumo. Para se ter uma ideia, no Brasil o consumo, em relação ao PIB, representa 66%; e na China, 35%. Ou seja, na China eles produzem muito mais do que consomem e precisam de alguém para escoar esse excedente – e o mundo não quer mais esse excedente. Como a população doméstica não consegue consumir tudo que o país produz, vamos produzir menos. Por isso é que isso é um subproduto de uma política pública.”

O Professor Roberto Dumas conclui:

“A China vai continuar trazendo não surpresa, mas notícias negativas ao longo deste ano e do próximo. O crescimento vai ser menor. Aqueles dias em que a China crescia 10%, 11%, 12% absolutamente acabaram, e aí teremos impacto nas economias emergentes como Brasil, Peru, Chile, Colômbia, México, porque esses países basicamente são exportadores de commodities metálicas. Como a China quer investir menos do que investia, a demanda por commodities metálicas – minério de ferro, cobre, ouro, platina – tudo isso vai continuar caindo de preço.”

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