E se houver novas eleições presidenciais?
Esta é uma hipótese que se sussurra hoje no tumultuado universo da política nacional. Em seu Conversa Afiada, Paulo Henrique Amorim tocou uma ou duas vezes no assunto.
Se se admitir que o atual modelo se esgotou, esta é uma saída bem mais interessante que o assalto ao poder intentado pela plutocracia mediante um Sindicato de Ladrões, como é o Congresso, uma mídia corrupta dedicada apenas à manutenção de suas mamatas e um Judiciário formado por juízes partidários como Moro e Gilmar.
Esqueçamos por um momento as dificuldades para chamar novas eleições. Até porque nada é fácil nestes dias.
É uma hipótese que pode evitar que, com o golpe em curso, o Brasil se transforme numa Venezuela, com uma sociedade dividida entre dois lados que se abominam. Viveremos numa iminência de guerra civil, ou coisa parecida.
O ideal é que não se tratasse apenas de eleições presidenciais. Também um Congresso cujo símbolo é o corrupto mor Eduardo Cunha teria que ser renovado.
O primeiro passo seria o fim do financiamento privado das campanhas. Está aí a origem da corrupção nacional. Está aí, igualmente, o caminho pelo qual a plutocracia tomou a democracia.
O Brasil é muito melhor que este Congresso que temos. Mas o dinheiro copioso de empresas é um tíquete seguro para que corruptos se elejam com campanhas milionárias.
Depois, os políticos que foram alçados ao poder pelo dinheiro das grandes empresas retribuem de variadas formas – e eis as rodas da corrupção em movimento eterno.
Não é um drama apenas brasileiro.
Nos Estados Unidos, Bernie Sanders estabeleceu como prioridade em sua plataforma o fim dos financiamentos privados pelas mesmíssimas razões.
A maior resistência à ideia de novas eleições tende a vir da direita. Por uma razão: no Brasil, a plutocracia tem dinheiro, mas não tem votos.
A UDN, antecessora moral do PSDB, sempre perdeu. Chegou ao poder apenas em 1961, quando conseguiu atrair Jânio Quadros, de outro partido.
Mas Jânio não se deixou controlar pela UDN, e deu no que deu.
Qual seria, hoje, o candidato da direita?
Aécio está incinerado. Campeão de citações na Lava Jato, é odiado até pelos analfabetos políticos que vestem a camisa da CBF e se reúnem na Paulista abraçados à Polícia Militar e focalizados demoradamente pelas câmaras da Globo.
Serra? Contemos outra piada. Alckmin? A mesma coisa.
Há um nome: Moro.
Mas, do ponto de vista da plutocracia, quais as chances de Moro?
Ele teria que deixar a posição privilegiada em que se encontra para se expor a críticas e ataques numa campanha.
Não foram poucos os abusos que ele cometeu, como o grampo ilegal, e nem poucas as situações indefensáveis em que se pôs.
Como um juiz posa ao lado de políticos do PSDB? Como um juiz se rebaixa a ponto de aceitar um prêmio da Globo? Como um juiz deixa escapar tantos vazamentos mentirosos e unilaterais?
Boni, que já foi o principal executivo da Globo, contou já como a emissora preparou Collor para um debate que seria decisivo contra Lula.
O que numa sociedade avançada seria visto como mais um crime da Globo virou piada.
A Globo produziu Collor. Deu-lhe, como se se tratasse de uma telenovela, toques popularescos de Jânio. Instruiu-o a andar com uma maleta no palco do debate, e fez chegar a Lula que ali estavam denúncias explosivas contra ele.
Não bastasse tudo isso, a Globo ainda editou o debate para favorecer Collor no Jornal Nacional.
Daria para fazer o mesmo com Moro, agora?
Difícil, não porque falte vontade para a Globo. Mas porque lhe falta o poder que teve naqueles dias pré-internet.
Nem que seja apenas por exercício intelectual, seria lindo imaginar um duelo nas urnas entre Moro, que a direita transformou num herói de conveniência, e Lula.
Rio sozinho vendo os dois num debate.
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