quinta-feira, 28 de abril de 2016

Carta dos exilados à imprensa francesa

Nós não queremos viver um terceiro golpe de estado, nós sabemos, suficientemente o que isto quer dizer, particularmente para a liberdade de informar.

www.cartamaior.com.br

Senhoras e Senhores

Somos cidadãos brasileiros vivendo há mais de 40 anos na França e na Bélgica aonde fomos acolhidos enquanto refugiados ou exilados políticos vítimas do regime ditatorial militar brasileiro e em seguida do golpe militar no Chile.

Estamos preocupados com a situação politica no nosso país que vive atualmente sob a pressão de uma tentativa de golpe de estado político-jurídico- mediático.

Também nos preocupa o tratamento dado pela imprensa à situação que vive o Brasil. Com raras e honrosas exceções as matérias publicadas são pelo menos discutíveis. Praticamente todos os artigos são atravessados por tons que vão do folclore à superficialidade e a misoginia ("Dilma e seu mentor Lula", "Dilma a intratável", "Lula o sedutor", passemos...), reproduzindo uníssono os ecos da "grande" imprensa golpista brasileira instrutor permanente do processo contra a Presidente Dilma Roussef e o ex-presidente Lula.

Os artigos não buscam informar mas construir a narração de um golpe de estado que busca derrubar um governo legitimamente eleito pelo voto de 54 milhões de brasileiros.

A grande mídia como o GLOBO, o ESTADÂO, FOLHA DE SÄO PAULO clamam um engajamento militante pelo golpe e os correspondentes franceses e a AFP no Brasil conhecem perfeitamente esta situação. Eles assistem diretamente há todas as manifestações inquietantes da crise politica brasileira e dispõem de toda a imprensa alternativa e das redes sociais, das imensas mobilizações do campo democrático contra o golpe. Parece que, infelizmente para seus leitores e para o bem da verdade, não se interessam e se contentam de medíocres réplicas da imprensa golpista brasileira...

Lula é sistematicamente apresentado como "enlambuzado pelo escândalo da Petrobras" e Dilma "isolada"," fragilizada", etc... As enormes mobilizações da sociedade civil em favor destes dois "isolados", "acabados", "suspeitos de corrupção" são relativizadas ou passam em silêncio. A única referencia à "revolta das ruas" é a manifestação da direita e da extrema-direita do 13 de novembro.

Quanto a aqueles que dirigem e articulam o golpe as informações são escassas, particularmente no que toca ao Presidente da Camara dos deputados, Eduardo Cunha, indiciado por corrupção e lavagem de dinheiro, atingido por uma procedimento de cassação de mandato além de estar citado no Panamá papers. Nada, absolutamente nada, sobre estes homens que têm como projeto a substituição do atual modelo de exploração do petróleo (próximo do modelo norueguês, com fundo soberano) por um sistema de concessões as multinacionais. A ilegalidade dos métodos utilizados por certos juízes e políticos não são evidenciados, etc..

Nós sabemos que a realidade brasileira é complexa mas sobretudo ela não é aquela descrita pela maioria da imprensa francesa.

Lamentamos a ausência de reportagens mais equilibradas, como por exemplo saber porque tantas personalidades de diferentes tendências politicas, intelectuais, universitários como Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Leonardo Boff, Luiz Carlos Barreto se engajaram abertamente na luta pela defesa da democracia.

Sem democracia não haverá solução para a crise política que atravessa o Brasil.

Sem democracia regressaremos aos anos obscuros da ditadura militar e ao cerceamento das liberdades fundamentais de se organizar, de se exprimir e de se manifestar.

Para uma imprensa que se respeita, que possui uma ética, que respeita seus leitores, a desinformação é um "acidente" que deve ser o mais rapidamente retificado, sobretudo quando se trata da imprensa francesa.

Nós não queremos viver um terceiro golpe de estado, nós sabemos, suficientemente o que isto quer dizer, particularmente para a liberdade de informar.

Nós, cidadãos brasileiros, residentes na França e na Bélgica pedimos, simplesmente que sejam objetivos e abordem com seriedade a complexidade do Brasil evitando os atalhos unilaterais e redutores.

Hamilton Lopes dos Santos 
Dirceu Greco Monteiro
Roberto Metzger
Marilza de Melo Fouché
Sueli Heliópolis
Marlova Canabarro
Maria José Malheiros




Créditos da foto: reprodução

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