Tenho me dedicado, nos últimos dias, a examinar todos os inquéritos abertos contra Lula e todos os despachos e decisões do juiz Sergio Moro.
E me convenci de que, apesar das numerosas acusações, nenhuma delas tem consistência para consumar a prisão de Lula, tão desejada pelos que o odeiam e tão temida por seus admiradores, que são muitos mais.
De fato, nos documentos que preenchem milhares de páginas escritas por Rodrigo Janot, pela "força-tarefa de procuradores e por Moro há ilações, suposições, achismos, mas nada que indique que ele de fato cometeu algum crime de corrupção, ativa ou passiva, peculato, lavagem de dinheiro, tráfico de influência, formação de quadrilha, como insinuam revistas como Veja, IstoÉ e Época e jornais como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e O Globo.
O próprio Sérgio Moro afirma textualmente, num dos textos que "é preciso investigar mais".
O problema dos acusadores de Lula é que ele não tem conta secreta no exterior, nem em banco suíço, nem em trust, não tem offshore e nem sinais de enriquecimento ilícito.
Mora no mesmo apartamento de classe média em que morava quando foi eleito presidente, seu patrimônio não aumentou, não tem automóveis de luxo nem sua mulher foi flagrada comprando roupas de grife ou pagando aulas de tênis para o professor mais caro dos Estados Unidos.
Ademais, nenhum delator da Lavajato (o próprio Moro às vezes escreve a palavra desse modo, tudo junto e outros vezes separado), jamais disse "dei propina a Lula", "Lula pediu propina", "Lula pediu dinheiro pra campanha", "Lula mandou eu dar dinheiro ao PT", "Lula nomeou o diretor da Petrobrás que cobra propina".
Nenhum delator afirmou que o contratou para palestras em troca de algum contrato. Ou que doou para o Instituto Lula pelo mesmo motivo.
O máximo que aparece nos inquéritos é o tal amigo Bumlai dizendo a Fernando Baiano para conseguir uma negociata para o grupo Schahin "porque seria bom para o Lula" ou que a negociata "seria abençoada por Lula". Mas isso aparece na boca de Baiano, não de Bumlai. E a acusação é verbal e muito vaga.
A "delação" de Delcídio do Amaral também é muito frágil: "Lula pediu para eu convencer Ceverò a desistir da delação". Mas não há gravação, não há assinatura de Lula, é a palavra do ex-senador contra a palavra do ex-presidente.
O mesmo ocorre com os casos do sítio de Atibaia e do tríplex do Guarujá. Há muito diz-que-diz-que, gente que viu Lula visitando o apê, gente que vendeu material para obras no sítio, suspeitas, boatos, mas provas mesmo, nenhuma. Não há escritura em nome de Luiz Ignácio Lula da Silva, que é a prova inconteste de que uma pessoa é proprietária de um imóvel.
É o contrário do que ocorre, por exemplo, com o presidente interino Michel Temer que foi acusado pelo ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, de pedir, pessoalmente, 1,5 milhões para a campanha de seu protegido Gabriel Chalita – do qual o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad deveria se livrar o mais depressa possível.
Li atentamente, e na íntegra, todo o depoimento de Lula do dia 4 de março, quando foi conduzido de forma coercitiva à Polícia Federal, no aeroporto de Congonhas. Além do mistério acerca do local escolhido, que deu margem a suposições de que dali ele seria embarcado num avião para Curitiba, não há um momento sequer em que seu interrogador, sempre muito amistoso, insinuou que, se ele respondesse tal ou tal coisa corria o risco de ganhar prisão preventiva.
Ao contrário. Quem estava do lado de fora imaginou mil e uma coisas, mas dentro da sala o clima era tão amigável que o policial interrompeu as perguntas para Lula comer um misto quente, tomar café, não o pressionou em momento nenhum e quem foi, digamos assim, "malcriado", no seu estilo povão, foi Lula que classificou algumas perguntas de ridículas, declarou estar constrangido por causa de algumas delas, contou causos e teve toda a liberdade de responder o que quisesse. Nunca houve risco de ser algemado e preso. Nunca. Até mesmo pessoas estranhas ao inquérito, como o deputado Paulo Teixeira, puderam entrar na sala e acompanhar o interrogatório.
A Operação Lavajato serviu para fornecer manchetes para a imprensa interessada em criminalizar o PT, alimentou as passeatas reacionárias da Avenida Paulista, estimulou o impeachment, criou a lenda de que Lula é um perigoso bandido, de que o PT é o partido mais ladrão da história, prendendo o tesoureiro e mantendo preso até agora, sem provas, o marqueteiro João Santana (talvez confundindo-o com o homônimo, que foi ministro de Collor e é diretor da Constran), destruiu a Petrobrás e as maiores empreiteiras do país e ainda forneceu argumentos ao STF para determinar a proibição de empresas financiarem campanhas políticas, inviabilizando o futuro do PT e do Instituto Lula, que recebiam doações dessas empreiteiras.
Por não haver provas é que os inquéritos vão para Teori, que os devolve a Moro ou então manda para o Distrito Federal e o próprio Ricardo Lewandowski está a ponto de pedir que as investigações tenham fim porque o estado está gastando dinheiro à toa.
É de se supor que pessoas físicas de posses não irão financiar campanhas majoritárias do PT e sim dos partidos alinhados com seus interesses, como PMDB e PSDB, e, com isso, o partido, se continuar existindo depois desse tsunami provocado por Moro não vai eleger mais prefeitos, governadores ou presidentes da República e sim vereadores e deputados.
Isso a Lavajato conseguiu: dar um golpe de mestre no PT e asfixiar economicamente a provável campanha de Lula a presidente em 2018.
Mas daí a prender Lula são outros quinhentos.
É muito engraçado a nossa mídia, que culpa bem mais o Lula do que o Jucá, por exemplo, mesmo depois do que foi escutado nas gravações dos dois.
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